quarta-feira, dezembro 24, 2008

Gastronomia

Ouvi hoje o Antena Aberta, na RTPN. A pergunta do programa era sobre alimentação. Estava a dieta dos Portugueses em discussão.
Um certo espectador telefonou e apregoou aos sete ventos a sua opção alimentar. Gabou-se de boca cheia da sua dieta macrobiótica, quase vegan, pelas suas palavras, e de se recusar a comer cadáveres, cheios de toxinas e venenos afins. Parecia irritado, este participante, e bastante crítico da minha reles e mal-intencionada alimentação carnívora, que provavelmente me matará dois anos antes do meu tempo, com um sorriso nos lábios.
Será que este senhor sequer sabe o que são toxinas? E será que ele sabe de que nutrientes se priva ele por não comer carne? E mesmo que estivesse cheio de razão, por que raio acha ele que a minha opção alimentar não é tão válida como a dele? Eu não o chateio por não comer carne nem o denigro com tamanha veemência por preferir uma dieta incompleta.
Deixe-me em paz, senhor!

quarta-feira, dezembro 10, 2008

É hoje que volto

Depois de entregues os trabalhos deste período que agora acaba, eis-me de mala feita para o meu regresso a Portugal, mesmo a tempo de celebrar o meu aniversário.
Como não tenho certeza de ter acesso diário à rede mundial, não sei até que ponto consigo manter este blogue actualizado. Não que ande muito assíduo ultimamente, mas...
De qualquer forma, até já.

terça-feira, dezembro 09, 2008

Nunca é tarde para recordar

Este vídeo mostra como a doença do aquecimento global se transformou rapidamente numa religião dogmática. Ainda por cima o deus adorado é um deus de destruição que precisa de ser apaziguado com sacrifícios cuja necessidade não tem que ser provada. É uma questão de fé.
Vejam lá, se ainda não o fizeram, já que este vídeo não é novo e já por aí circulou.


segunda-feira, dezembro 08, 2008

Cansado

Olhei para o lado. À distância de um pequeno movimento do antebraço espalhei um punhado de rebuçados embrulhados a vermelho. Atirei, à falta de outras vontades, a mão sobre os doces e tirei um dos enfeitados pedaços de açúcar. Para descansar a cabeça e contentar o espírito, digamos.
A ansiedade tomou conta do meu cérebro, que se escusou a controlar os movimentos das minhas mãos. Em piloto automático, a direita aperta o papel e a esquerda liberta o tesouro branco do embrulho enfeitado, deitando-o ao lixo, enquanto a mão direita se satisfez em segurar a inócua folha vermelho-tranparente, enfeitada nas pontas com bolas brancas de diferentes tamanhos e um gordo boneco de neve no meio que me goza de sorriso aberto.
Foi assim que me apercebi de que estou cansado.

domingo, dezembro 07, 2008

Frio... Fresquinho

Saí hoje de casa às oito da manhã para ir jogar a primeira parte do torneio universitário do Reino Unido de futsal. Dizer que estava frio é dizer pouco. O chão brilhava com os cristais de gelo que formavam uma escorregadia cobertura sobre o passeio. Os carros, à distância, eram todos brancos, sem excepção. De perto pareciam cinzentos, como que cobertos de uma camada de fuligem onde se semeou vidro moído. Só a minha cara estava à mostra. Mesmo assim o desconforto da mão gelada que nos trepa pelas costas acima era muito real. O céu limpo mostrava um sol sem calor, como se o horizonte o tivesse descoberto à força, contrariando a preguiça de pintar o relvado de branco e gelo. Se houvesse precipitação seria neve.

(Já agora, o Glamorgan Academics Futsal Club ganhou um jogo e perdeu outro)

sábado, dezembro 06, 2008

Nem sempre é tarde

Nesta manhã ainda mais fria que o fim de tarde em que escrevi o texto anterior (estamos abaixo de zero), lembrei-me de que estou prestes a passar mais um aniversário. Dois anos depois de passada a barreira que assusta tanta gente, os trinta anos, eis-me mais jovem que nunca. Pronto... Nunca é exagero, mas se adivinhar algo como nos últimos dez anos, talvez acerte. Isto porque estou na melhor forma física que estive nesse período de tempo. Alimento-me melhor, o álcool já não me incha o estômago nem me confunde a memória, e o exercício físico destes últimos dois anos e meio, desde que vim estudar para o País de Gales, começa confirmar-se como eficaz.
Até fui convocado, entre uma melhor leva de jogadores de futsal, comparada com a do ano passado, para mais um torneio, amanhã. Não esperava, até porque o outro defesa (ou fixo) que tinha comigo o recorde de convocatórias não o foi. Tenho sete anos mais que o jogador cuja idade se aproxima mais da minha, mas sinto-me bem tanto na rapidez da corrida como na recuperação do esforço. Estou mais leve, o mais leve que estive durante o período de tempo que arrisquei no princípio, e isso deixa o meu ego em boas condições.
A ver vamos se chego aos quarenta nestas condições. Depois pedirei mais dez anos. Mas não me vou adiantar. Cuidar de mim, para mim, dá melhores resultados que outras motivações que experimentei. Egoísmo, para ser feliz.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Frio

Está frio por estas paragens. Um frio seco que se instala na pele e nos domina os movimentos. É um encolher de ombros permanente na tentativa de esconder o nariz e a nuca embrulhados naquele cachecol que a minha irmã me ofereceu. Ou a contracção constante de todos os músculos do ventre em tremores espontâneos tentando juntar-se todos na caixa toráxica à procura do calor do coração. Apesar das espessas luvas, as mãos parecem perras na sua posição de garra fechada, não vá a pele que queima de frio começar a cair, alienada. Está tanto frio que as pernas cansadas se recusam a parar, seja para fazer mover o mundo à minha volta, ou marchar sem ritmo nem sentido enquanto as educadas respostas se apressam, condensadas, sorridentes e económicas. Já os pés, embrulhados na espessa meia e escondidos na bota nervosa, deixam-se estar esquecidos na marcha seca que vai servindo de desculpa para que o sangue ainda desça à ponta dos dedos, a medo.
Estou só à espera que neve. Ou que chova. Mas nem a neve é assim tão comum neste bocado do País de Gales, nem a chuva faz o favor de aquecer o ar, por dois graus que sejam.
O céu parecia gozar comigo de tão azul que estava quando fui para a minha primeira aula do dia. Mas não era o pálido azul de um dia morno de fim da primavera na minha ilha natal. Era um azul claro mas pesado como numa piscina funda e fria. Este é um céu que deixa o sol à solta nestes olhos já habituados ao cinzento destes deprimidos vales do sul de Gales, mas que lhe tira a cor que nos aquece a cara. Nem uma leve lembrança de verão me foi permitido sentir no escasso toque deste sol amedrontado.
Só os trabalhos de curso que vou fazendo me distraem os sentidos. E saber que dentro em pouco estarei de volta a Portugal distrai a solidão do ecrã em que escrevo.

terça-feira, novembro 25, 2008

Intimamente

Quando sinto que tenho o ego em baixo e que nada me corre a favor, devo recorrer à única pessoa com quem posso contar sempre, mesmo na solidão mais profunda. Devo recorrer a mim.
Mas nem sempre é fácil fazê-lo nesta sociedade em que o que parecemos ser por vezes é mais importante do que aquilo que realmente somos.
A solução está no egoísmo.

sábado, novembro 22, 2008

Fui lendo...

"Public opinion is the worst of all opinions" Chamfort, Sebastien-Roch Nicolas

"The value of legislation as an agent in human advancement has been much over-estimated. No laws, however stringent, can ever make the idle industrious, the thriftless provident or the drunken sober." Smiles, Samuel

(acerca da segurança social) "It will not do to teach the hard-working, industrious man that there is an easier path by which his wants can be supplied. The less emotion the better.Neither the individual nor the race is improved by alms-giving. Those worthy of assistance, except in rare cases, seldom require assistance. The really valuable men of the race never do." Carnegie, Andrew

sexta-feira, novembro 21, 2008

Muitas palavras...

Neste curso em que me embrenhei de alma e coração avaliam-me não pelo que decoro nos livros técnicos, mas por aquilo que produzo dentro daquilo que me é pedido. Tenho mais liberdade numas cadeiras do que noutras, nada de inesperado, mas não tenho que fazer qualquer tipo de exame. Para mim, é ouro sobre azul. Sempre preferi mostrar o que sei fazer do que marrar matéria que, muitas vezes e de tanto estudar, deixa de fazer sentido.
Mas estou agora no terceiro e último ano. É, de longe e com pouca surpresa, o mais trabalhoso. Tenho duas cadeiras que me vão exigir 12 mil palavras no final do ano cada uma, mais uns trabalhinhos pelo meio entre mil a 3 mil palavras cada. Outras duas exigem só 6 mil palavras no fim do ano cada, e os trabalhos paralelos como as duas anteriores. Ainda tenho mais uma cadeira que me exige só dois trabalhos de 2500 palavras cada um. Mas estes trabalhos são mais difíceis e são aqueles em que terei menos liberdade criativa. São ensaios técnicos, pronto. O primeiro destes dois ensaios terá que ser entregue no próximo dia 9 de Janeiro.
Como não quero levar muito trabalho para Portugal, vou ter que preparar e escrever este texto nestas semanas que faltam até o fim do ano, para além de continuar a escrever e reescrever os textos criativos para as outras cadeiras. Vou ter pouco tempo para a vida pessoal. Vou ter pouco tempo para outros prazeres que não o da escrita.
Valerá a pena. Sempre.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Empregos por encomenda

Se é obrigação do estado dar emprego a todos quantos tiram um curso superior apenas porque têm um canudo, então esperem pelo fim deste ano lectivo. Terei, então, razões para exigir um emprego. Mas não o farei. Não o farei porque escolhi o curso que escolhi, depois de muito experimentar, infelizmente, apenas porque sinto que tenho vocação e muito gosto em fazer aquilo para que agora me preparo. Escolhi até um curso que não me dá garantias nenhumas de sucesso a não ser por acreditar nas minhas próprias capacidades e talentos.
Quando vejo os enfermeiros exigirem que o Serviço Nacional de Saúde os contrate, não consigo deixar de pensar na mentalidade estúpida que grassa o meu país em relação ao ensino superior. Estes cidadãos que tiraram o curso de enfermagem não o fizeram por gosto, fizeram-no pelo emprego. E é assim com muitos cursos e profissões. Muito pouca gente em Portugal escolhe um curso baseado no seu gosto ou nos seus talentos. É sempre a chave para uma profissão que procuram, muitas vezes nem interessa qual.
Até o primeiro argumento que ouço chorado nos telejornais nacionais é de que existem muitos licenciados em enfermagem a sair directamente para o desemprego. Ora, se alguém os obrigou a tirar o curso, peçam responsabilidades a essa pessoa ou entidade. Se ninguém os obrigou, que assumam eles a responsabilidade da sua escolha. E se, como se argumenta depois, existe falta de enfermeiros no SNS, então porque é que a procura é baixa? Se houvesse assim tanto lugar por preencher os empregadores estariam um pouco mais próximos do desespero e ofereceriam melhores contratos, com a muito exigida efectividade e tudo.
Também já ouvi dizer que os enfermeiros merecem consideração especial porque tiram o curso motivados pelo serviço em prol do próximo. Se assim fosse não reclamariam estatuto, como fazem nas suas batalhas quixotescas para não se sentirem inferiores aos médicos, nem contratos assim ou assado. Os enfermeiros, como os médicos, os professores, os carpinteiros, etc., estão na profissão que estão para ganhar dinheiro vendendo serviços, de preferência fazendo uma coisa de que gostam e para a qual sentem que têm vocação. Se assim não é, tenho pena.

quinta-feira, novembro 13, 2008

Outros se anteciparam

Estive a pôr os meus telejornais nacionais em dia, quando vi a notícia de que a benevolente Comissão Europeia (dos burocratas da vida alheia) resolveu permitir que se vendessem alguns vegetais fora das medidas e cores que eles próprios tinham decidido ser mais adequadas. Pensei de imediato em mandar a minha boquinha, mas Francisco José Viegas antecipou-se.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Lua cheia - celebração

Hoje à noite fui visitar uma amiga. Nada de transcendental. Nada de colorido. Uma amiga que vive a cinco minutos de distância e que muito me atura, esteja eu eufórico, cabisbaixo ou assim-assim.
Para lá fui cheio de frio. Coberto com quatro camadas de roupa no tronco, duas delas bem volumosas e quentinhas, e luvas como nunca usei em Portugal. Depois da conversa entre duas canecas de chá de limão, tive que me vir embora antes que ela me pusesse na rua à força, já que tem aulas de manhã. E quando saí o frio continuava lá. Mas as luvas ficaram nos bolsos do sobretudo que ficou por fechar. Só porque olhei para cima e vi o céu.
A lua cheia a rebentar não era suficiente para apagar a constelação Orion, a minha favorita. Via-se tudo naquele céu, uma raridade por esta bandas de nuvens persistentes.
Já vos disse que a lua está cheia lá fora? E linda, como deve ser sempre. E pensei no meu novo primo nascido esta segunda-feira, ao final da noite. Faz agora vinte e seis horas que abriu a goela para dar o seu primeiro grito de liberdade. Provavelmente quis sair a tempo de ver a última gota de luz encher a lua.

terça-feira, novembro 04, 2008

O último estertor

Depois de demasiado tempo na vida de estudante, que me rendeu amigos e experiências de vida únicas mas que me custou uma namorada e demasiados anos à minha carreira, eis-me chegado àquele que será o meu último ano exclusivamente de estudante.
Tinha-me decidido a fazer deste um ano mais calmo e dedicado à preparação da minha vida futura como homem trabalhador. Já vai sendo tempo. Sendo assim, a cerveja diminuiu. As saídas são mais curtas e menos frequentes. Mas o futsal lixou-me os planos todos...
A jogar futsal com jovens, em que os dois mais próximos da minha idade são sete e oito anos mais novos, e na sua maioria britânicos, vejo-me hoje confrontado com uma actividade usual entre estes malucos. Eles não têm as minhas adoradas praxes mas, em contrapartida, têm hábitos nas equipas desportivas nas universidades. Digamos que são actividades de união de grupo. Nada contra, diria eu, se não soubesse em que consiste a dita actividade.
Sendo assim, a não ser que me recuse a fazê-lo, amanhã vou fazer algo que nunca pensei fazer, muito britânico e em prol do bom ambiente e união de balneário da equipa. Vamos todos a uma festa na associação de estudantes em trajes pouco recomendáveis. Qualquer fotógrafo que me aponte a objectiva será visto como inimigo e não me responsabilizo pelas consequências.
Assim, toda e qualquer foto que aparecer, seja em que site for, deve ser encarada como montagem e afastada da realidade. Um devaneio do fotógrafo, digamos.

sexta-feira, outubro 31, 2008

Ora bem...

Paulo Portas considera que a proposta do governo para multar as empresas que não entreguem o IVA à horinha, mesmo que ainda não tenham sido pagos pelos seus serviços (pagamentos, esses, o alvo da tributação), é "uma extorsão fiscal". Tem razão, o dirigente do PP, mas não disse tudo: cobrar impostos é extorsão.

O Pastor Metodista de Little Rock, Arkansas, Hezekiah David, considera que ter um negro como candidato favorito à presidência dos EUA é "obra de Deus". Assim se vê que, para este senhor de nome tão Bíblico, a eventual eleição de Obama para a presidência daquele país de fanáticos é uma questão racial, para além de religiosa. Tudo factores a considerar com agrado quando se está a escolher alguém que vai ocupar um cargo com demasiado poder sobre as vidas dos seus cidadãos.

A sondagem caseira

Numa sondagem aqui no blogue, pedi a quem lê as minhas baboseiras que me ajudasse a escolher uma nova assinatura. O resultado da dita cuja não deixa dúvidas que os progressistas perderam, como de costume, na inglória luta contra os conservadores que se recusam a mudar o status quo. A questão que agora se põe é se eu, soberano que sou da minha individualidade e do que eu me quiser chamar, acato a sugestão ou não...

quarta-feira, outubro 29, 2008

Ainda não chega, pelos vistos

Vi hoje, através do site da RTP, o programa Prós e Contras de segunda-feira passada. Falava-se das crises, principalmente do mercado imobiliário e de arrendamento. A conclusão a que cheguei, depois de ouvir tantas doutas opiniões, é que, depois de décadas de restrições de mercado e sábios regulamentos, a solução exige mais restrições e mais regulamentos. Não se aprendeu nada com o passado.

sábado, outubro 25, 2008

Lealdade

Não sei porquê, mas hoje dei por mim a pensar sobre lealdade. Nos tempos que correm é um valor raro. Alguns podem contrapôr que até existe em exagero nos dias que correm, e referir-se-ão, deduzo eu, às lealdades mal dirigidas dos clubismos, partidarismos e coisas afins. Não tenho consideração por esse tipo de lealdades, de que eu próprio partilho em termos clubísticos mas sempre com capacidade crítica e na brincadeira. Não direi que não me deixo levar, por vezes, nalguma parvoíce que tenha a haver com os clubes do meu coração, mas posteriormente sou capaz de descer do púlpito do pregador cego e gozar comigo mesmo. Nem que seja em privado.
Mas a lealdade a que me refiro, a única real e de valor, a meu ver, é a lealdade para connosco. Eu sou leal a mim mesmo. Isto quer dizer que farei os possíveis para não quebrar a minha palavra, por exemplo, sob pena de perder o respeito dos outros ou, mais importante, o meu respeito próprio. Por isso não nego as minhas crenças, as minhas ideias, os meus sentimentos. Tento sempre ser-lhes leal com maior ou menor dificuldade.
Hoje em dia o indivíduo é ensinado desde pequeno a sobrepôr a lealdade para com o grupo (no final das contas, para com o estado) à lealdade que ele deve a si próprio. Apaga-se assim o amor-próprio e o orgulho do indivíduo. No fundo, o próprio indivíduo esbate-se contra o pesado muro da engenharia social, sempre estudada, analisada e posta em prática por pessoas cujos méritos desconheço e cuja autoridade sobre a minha vida privada não reconheço. Mas como o cidadão está treinado a esquecer a honra e o amor próprio, permite que tudo aconteça.
Sem lealdade a si próprio, o indivíduo adopta a moralidade dos regulamentos e rege a sua vida pelos princípios que os engenheiros sociais (sejam eles quem forem) decidem ser os correctos.
A palavra é substituída pela desconfiança, a honra pelo politicamente correcto. Até o amor pelo próximo é esquecido, entregue que fica à ausência de amor próprio e de lealdade do indivíduo para com os seus valores.

domingo, outubro 19, 2008

Discriminando a parvoíce e a treta

Discriminação. Aí está uma palavra cujo significado tem sofrido algumas alterações ao longo dos anos. Ou talvez não. Fui ver. No dicionário online da língua portuguesa, no site da infopédia, a entrada da palavra discriminação tem uma primeira definição que diz: "acto ou efeito de discriminar; separação, destrinça". Até aqui, tudo bem. A segunda entrada também não espanta ninguém, definindo discriminação como "capacidade de estabelecer diferenças claramente; discernimento, distinção". Estas duas definições completam-se e, mais importante, não parecem atropelar-se nem moldar razões. Digamos só que não são definições carregadas com energias educacionais e de moldagem da moral colectiva.
A terceira definição tende para o discurso politicamente correcto: "acção de tratar pessoas ou grupos de pessoas de forma injusta ou desigual, com base em argumentos de sexo, raça, religião, etc.; segregação". Depois continua com definições de discriminação positiva e negativa, dentro desta terceira definição, como actos políticos e de engenharia social, ocultando o facto de que uma não existe sem a outra. Ou alguém acredita que é possível discriminar positivamente um grupo sem discriminar negativamente todos aqueles que não pertencem a esse grupo? Mas voltemos à discriminação propriamente dita, versão três.
Qualquer tipo de discriminação implica um tratamento diferenciado de um indivíduo, ou grupo de indivíduos, em relação a outro ou todos os outros. O acto de a minha mãe me chamar a mim e não a minha irmã, por exemplo, é discriminatório, e baseado em vários factores, muitas vezes incluindo sexo, tamanho, e/ou cadastro. Sendo assim, esta última entrada é redundante em relação às outras duas.
A única diferença, e era aí que eu queria chegar, é que se fazem julgamentos de valor. A injustiça da discriminação é moral, ou seja, cultural, e apresenta variabilidade. Se me disserem que estou errado por considerar a homossexualidade uma doença, por exemplo, e por isso me insultam (como já aconteceu), estão a discriminar-me. Se essa discriminação é injusta ou não, cabe a cada um decidir.
Quanto à palavra desigual, usada na definição de discriminação, é uma verdadeira treta. Qualquer discriminação conduz a desigualdade, negativa, positiva ou até mesmo neutra. Ou será que quando entro num bar e pago uma rodada aos meus amigos, não os estou a discriminar positivamente pela relação que tenho com eles, discriminando negativamente todos os outros presentes no bar? Estou a dar tratamento desigual...
A manipulação da linguagem é cada vez mais evidente para quem vai prestando atenção. As ideologias infiltram-se na nossa bela língua, manipulada por pessoas que só desejam ter razão, nem que para isso tenham que retirar as palavras à argumentação contrária. Vejam-se palavras como democracia ou liberdade... Que significaram noutros tempos, e que significam agora?

sábado, outubro 18, 2008

Isto de ser trintão nem é assim tão mau

Já passei a barreira dos trinta. Não será uma grande revelação para quem me conhece ou se dá ao trabalho de ir ver o meu perfil. A passagem em si foi pouco festiva... Até incluiu uma agressão infantil e pouco leal, como aqui descrevi.
Devo dizer que não me afectou muito, esta passagem, até porque já sentia a estabilidade emocional necessária para já não me ver como um jovenzito cujas opções poucas ou nenhumas consequências acarretam.
Não negarei que houve uma ou outra situação em que senti que o tempo me queria morder a juventude, arrancando alguns pedaços à juventude que ainda me resta. Houve a ocasional tentação feminina que me entrava olhos adentro e mexia com as entranhas, fazendo-me lembrar do meu compromisso com a mulher que na altura me povoava os planos de vida. Também senti, de vez em quando, maior dificuldade na recuperação física depois de um jogo de futsal ou de uma sessão de ginásio.
A funesta sensação de que Cronos me persegue tornou-se mais forte e nefasta quando os planos que me seguravam o ego foram atirados ao escuro rio da incerteza. Pensei que estava acabado, com trinta e um anos e sem vislumbre de carreira segura. Pensei que nenhuma mulher alguma vez se interessasse por mim.
Hoje vejo que estava errado. Nem o meu físico está assim tão mal-tratado, nem a minha carreira, que se afigura como uma aposta algo insana, assusta assim tanta gente. Antes pelo contrário.
Acabei de saber que fui outra vez aceite na equipa de futsal, apesar a concorrência de rapazes dez anos mais novos que eu, cheios de energia e habilidade. Entre mais de cinquenta candidatos, vinte e dois foram escolhidos. E eu, com quase trinta e dois anos, pouca habilidade, mas muita vontade, entre estes últimos.
Se juntarmos a isto as danças de salão em que me vou desenrascando bastante bem, posso dizer que este trintão está aí para as curvas. E isso de dizer que pretendo escrever para ganhar a vida, afinal não afasta assim tantas mulheres. Algumas até gostam da ideia, vá-se lá saber porquê.
É por isso que vos digo: não se assustem com as três dezenas. Levam algumas coisas, é verdade, mas trazem outras mais duradouras, mais procuradas.

Nota: Eu tenho perfeita noção de que este texto, como outros que aqui tenho escrito, me fazem parecer convencido. Se calhar é porque sou. Se calhar...

terça-feira, outubro 14, 2008

O Gótico e Rosseau

Alguns dos que lêem este blogue sabem que estou a tirar um curso de artes no País de Gales. Creative and Professional Writing, para quem tiver uma curiosidade especial por pormenores. Esta malta das artes, regra geral, é muito dada a socialismos e anarquias mal amanhadas, mas sempre com a convicção de que a arte é a razão de ser do ser humano e da sociedade. Sempre que a política aflora num qualquer assunto literário, eu vejo-me sempre a braços com a a solidão de quem rema contra a maré. Para ser justo, devo dizer que tenho encontrado alguns professores, principalmente os da escrita criativa, que não me tentam calar a retórica. Um ou dois até já se juntaram a mim uma vez ou outra. Mas os responsáveis pelas cadeiras mais formais da linguagem e da literatura afinam pelo diapasão da igualdade musculada e outras falsas bem-aventuranças do género.
Dito isto, podem imaginar o meu espanto quando uma professora minha de literatura nos fornece um auxiliar didático em que Jean Jacques Rousseau é citado. Isto só para ilustrar a rebeldia da literatura gótica Galesa em relação ao agressor Inglês. E que citação! A ler:

"Before art had moulded our behaviour, and taught our passions to speak an artificial language, our morals were rude but natural... Compare without partiality the state of the citizen with that of the savage... you will see how dearly nature makes us pay for the contempt with which we have treated her lessons." Jean Jacques Rousseau, 'Discourse on the Origin and Foundation of Inequality Among Men', 1755

E esta, hein? Fernando Pessa

sexta-feira, outubro 10, 2008

Nem no cravo, nem na ferradura

"O grupo parlamentar do PS vai apresentar amanhã uma declaração de voto, após a votação dos projectos de lei do Bloco de Esquerda e de os Verdes sobre o casamento entre homossexuais. Apesar de votarem contra os diplomas, os deputados explicam que estão a favor da união entre pessoas do mesmo sexo." in Público

Dão uma no cravo, outra na ferradura. Mas o que eu queria mesmo é que não martelassem nem num, nem noutro. Que raio de mania de se meterem na moral e na vida privada do cidadão...! Se ainda prometessem tirar o casamento das unhas do estado, eu seria dos primeiros a aplaudir.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Originalidade... Népia

Devem ter notado os mais atentos que estou a pensar em mudar o nome com que me apresento neste blogue. Pensei em Gonçalo TT, de Taipa Teixeira. Acontece que, como muito bem lembrou a Sabores em comentário ao post anterior, o meu cunhado novo em folha tem por iniciais TT. É, aliás, tratado por alguns amigos por TT. Ora, para alguém que está a estudar escrita criativa, configura-se na minha sugestão uma grande falha de originalidade. Enfim...
Mas a Sabores sugere uma solução alternativa que me agrada, pois já muita gente me trata por Çalo ou Çalinho, mas peca por não ser uma grande mudança em relação a Gonçalinho.
Por tudo isto interrompi o inquérito anterior e substituí-o por outro, para que me ajudem a pensar no assunto, já que esta cabeça anda um bocado ocupada. Agradeço antecipadamente.

segunda-feira, outubro 06, 2008

Admirável Mundo Semi-Novo

Apesar dos muitos avisos, tanto históricos como literários, acerca do perigo que a liberdade de uma sociedade corre cada vez que se propagam medos, ameaças e oportunistas promessas de segurança, o mau agoiro não desaparece. Diria mesmo que este mau agoiro já evoluiu para além de si próprio e é já uma realidade. Realidade que muitos indivíduos já nem negam, apenas o justificam e com ela colaboram. Estes indivíduos armam-se de boas intenções e de grandiosas ideias acerca da construção da sociedade perfeita. Assim alguns entregam a condução da sua vida a outros, e forçam terceiros a fazer o mesmo com a desculpa de que se não colaborarmos todos, a sociedade perfeita não pode tornar-se uma realidade. Começa aí aquele que me parece ser o maior problema desta filosofia: como é possível chamar perfeita a uma sociedade que ameaça com violência (subtracção de propriedade, inibição da liberdade de movimentos ou até mesmo violência física) um só que seja dos seus membros, simplesmente para que possa existir?
Não é perfeita, nem admirável. É ditadura.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Dança e o indivíduo

Fui hoje ter umas aulinhas de dança. Não é a primeira vez que me interesso por danças que exigem pares. Na minha pré-adolescência frequentei aulas de danças de salão e não me safei mal, penso eu. Mas o meu professor da altura ensinava os passos das diferentes danças isoladamente, o que me obrigava a descobrir por mim formas de os juntar a todos num movimento fluido e coerente. E nem eu, nem o resto da turma, nos dávamos mal nessa aventura.
A dança a que hoje me entreguei é coisa nova, pensada para ser dançada com quase todo o tipo de música, e o método de ensino é do tipo industrial. Põe-se toda a gente em linhas de pares e ensinam-se sequências curtas de passos por imitação do casal de professores. Eles explicam enquanto fazem, eles próprios, as sequências. Depois de ensinadas duas sequências, é-nos explicado como juntá-las, e depois a terceira sequência é ensinada e eventualmente colada à corrente de sequências. Uma linha de montagem, portanto, que ensina e imprime um certo comportamento previsível a uma massa de indivíduos. Enquanto ali estamos, somos uma massa que se move em uníssono. O paraíso na Terra, segundo Marx e Engels, diria.
Depois de copiosas e nervosas repetições libertam-se amarras e encoraja-se os alunos a dançar livremente uns com os outros. Nestes intervalos da aula em si, para práctica livre do que se aprendeu, o aluno escolhe dançar com os dançarinos já experientes (taxi dancers, veja-se...), com outros alunos (no meu caso, com as alunas, não nos confundamos), ou simplesmente ir ao bar repôr líquidos. Mas a triste verdade é que a lição penetrou fundo nas cabeças influenciáveis dos meus colegas de aula, incapazes de dar outra sequência ao bailarico que não a previamente formatada. Assim, e apesar de menos coordenadas, continuam as peças todas a cair no sítio certo, salvo as aselhices e esquecimentos.
Devem adivinhar aqueles que me conhecem de ginja que eu não me fiquei. Sem grande alarido, resolvi assegurar-me de que a minha individualidade criativa não seria macerada à exaustão naquela linha de montagem. Depois de uma caneca de cerveja, agarrei na taxi dancer do sexo oposto e comecei por seguir a sequência. Depois de duas voltas à coreografia, comecei a misturar os passos. Depois foi a vez da professora, com quem nem me dei ao trabalho de seguir a ordem formatada, e ainda lhe juntei dois ou três passos das minhas danças de salão guardados nas memórias felizes do início da puberdade. Continuei, depois, a  espalhar a minha revoluçãozita pelas alunas.
Ninguém se magoou, nem ninguém deixou de se divertir por causa da minha rebeldia individual. Nenhuma das minhas parceiras desaprendeu os passos. Se algo mudou, foi que as alunas tiveram que se deixar guiar por mim, em vez de se anteciparem à sequência, como deve ser para que a beleza de dois corpos em conversa sensual seja mais evidente. Se assim não for, os dançarinos não passam de autómatos sem vida.

segunda-feira, setembro 29, 2008

Tolerância e tal

Hoje em dia ensina-se às nossas crianças que tolerar é aceitar aquilo de que não gostamos nos outros. Não temos que aceitar nada que não queremos o não gostamos nos outros, por mais infundada ou estapafúrdia seja a razão. Tolerar é não interferir negativamente na vida alheia, por mais repugnante que nos seja o hábito, o credo, a ideologia, a estupidez ou outra coisa qualquer, incluindo uma característica física.
Se um indivíduo odeia pessoas que coçam a virilha, tem todo o direito a fazê-lo, e ser-lhes-á tolerante enquanto não pretender bani-los da sociedade. Terá sempre o direito a banir esse hábito da sua casa. Nesse caso mantém a sua intolerância em casa, fazendo uso da tolerância fora dela.
Ser tolerante também é admitir que os outros possam ser intolerantes em relação a nós. Desde que não interfiram com a minha liberdade de continuar a fazer, dizer ou ser aquilo que tanto os chateia, eu tolero-lhes a intolerância.

Ainda nada

Continuo sem rede. E, neste caso, cedo às mariquices da segurança e evito aventurar-me sem a dita cuja. Não é o medo da queda que me inibe a verborreia: é a preguiça. (Ora contem lá os acentos e cedilhas neste texto... Irra!)

quarta-feira, setembro 24, 2008

Ainda sem rede global

Acabado de chegar ao Reino Unido para voltar a labutar pela aprovação dos professores, e tendo em conta que mudei de morada outra vez, ainda não tenho acesso à rede global em casa. Tenho que me contentar com a caminhada, curtinha, até esta sala onde me encontro, uma das duas que a University of Glamorgan disponibiliza para os alunos neste campus de Trefforest. Como será correcto assumir, os teclados são feitos para a escrita anglófona, o que me obriga a escrever códigos de html cada vez que pretendo inserir um acento ou cedilha nas palavras que aqui uso.
Por estas razões, e prometo que mais nenhuma, vejo a minha vontade de escrever no Strix aluco um pouco diminuida. Se existe alguma alma a quem este facto perturbe, nada mais posso fazer senão pedir mil perdões. Assim é a vida...!

domingo, setembro 14, 2008

O trabalho do vizinho...

Num destes programas televisivos que simulam uma discussão democrática com a participação de comuns cidadãos que telefonam a distribuir bitaites, ouvi algo que me deixou perplexo. Falava-se sobre a falta de médicos nos hospitais do estado e o conflito entre a prática privada e o serviço público. Quando um médico de trinta e poucos anos telefona e se defende dizendo que ganha muito mais trabalhando no privado, os participantes seguintes caíram-lhe em cima. Uma senhora insultou-o, que devia ter vergonha. Um antigo combatente comparou o seu serviço em prol da nação (palavras dele) ao médico, conferindo à profissão médica contornos de trabalho em nome de uma causa superior a que o indivíduo se entrega de corpo e alma, abdicando das suas necessidades pessoais.
Tenho más notícias para estes senhores. O médico é uma pessoa normal, com necessidades e desejos comuns à maioria da população. O trabalho de um médico pertence-lhe e ele tem o direito de o vender a quem quiser e pelo preço que bem entender. Ele escolhe seguir um código deontológico, mas isso não dá o direito a seja quem for exigir-lhe que trabalhe em prol de um abstracto bem comum.
Pensam, estes senhores, que o trabalho alheio lhes pertence. É a mentalidade opressiva do PRaEC (Processo Revolucionário ainda Em Curso).

Já está.

Já está. A minha irmã já é uma mulher casada, e eu um jovem trintão que se arrepende de não ter dançado ainda mais.

sexta-feira, setembro 12, 2008

Cuidado com os burocratas!

Hoje foi dia de contas aos acidentes de trabalho por parte da comunicação social televisionada. Pelo menos aquela que eu vi. Esta repentina preocupação faz eriçar os meus cabelos do pescoço. Adivinha-se uma reacção por parte dos burocratas. Há quem não espere outra coisa, para contrariar as estatísticas. Porque as estatísticas são mais importantes que as pessoas, e um governo (conjunto de burocratas e reguladores, fãs incondicionais da engenharia social, que se revezam nas cadeiras de projectistas-mor da nação) pode perder votos se aquelas estatísticas, que reduzem um indivíduo a uma massa disforme de números, não derem a impressão de que este mundo anda perto da perfeição. Enquanto a liberdade definha em nome de uma sociedade desinfectada e livre de azares, aselhices e idiotices.
É de esperar que se legisle e regulamente, de forma a que os trabalhadores tenham cada vez menos liberdade de escolha em troca de segurança que, devidamente informados, os próprios podem zelar. Mas é mais fácil manter as ovelhas no curral que informá-las dos perigos e potenciais consequências de sair do curral. Para além de que há sempre uma ovelha negra ou duas que, apesar da informação, escolhem arriscar sair do curral e correr riscos. São ameaças para as estatísticas perfeitas.
Meus caros burocratas, engenheiros sociais e seus incondicionais seguidores: o mundo não é um local perfeito. "Shit happens". A minha liberdade, tal como a de cada um de vocês, é mais preciosa que as estatísticas. Mesmo aquelas que estão contra mim.

Isto dá trabalho

Depois de alguns problemas com a a recepção de rede em casa, eis-me de volta.
Acordado a estas horas, sim, num esforço de ajudar a minha irmã a dar os últimos retoques na organização do seu casamento. Isto dá trabalho, garanto-vos. E cansa de várias maneiras diferentes. Desde o esperado cansaço físico até ao cansaço psicológico causado pelo stress por que passo enquanto assisto, sem me meter para bem da minha saúde mental, nas batalhas de vontades, opiniões e dicas.

quarta-feira, setembro 10, 2008

Quadros electrónicos, e interactivos, e tal

Anunciam-se quadros especiais e outras coisas fantásticas como solução para combater o insucesso escolar. Quando eu andava na escola não havia nada disso. Deve ser por isso que sou um analfabeto. Talvez deva processar o estado por isso.
Tenho que concordar que é bom para os alunos ter contacto com as novas tecnologias desde tenra idade, mas não se pense que é por isso que estas gerações serão mais inteligentes ou terão maior capacidade de aprendizagem. Nem é só porque o estado deseja combater estatísticas, em vez de deixar o indivíduo desenvolver-se livremente na sociedade, ou não, que as crianças deste país vão aprender mais e melhor.

terça-feira, setembro 09, 2008

Boas notícias, Sócrates, pá!

Pelos vistos, este ano houve menos chumbos nos ensinos básico e secundário em relação à última década. São, obviamente, boas notícias para Sócrates. O facilitismo começa a dar os frutos de curto prazo. A longo prazo também não interessa; não é Sócrates quem vai ter de lidar com os futuros mimados no mercado de trabalho.
Além do mais, Sócrates ficará contente em fazer ver a todos quantos o criticaram e apontaram o dedo, de que é realmente possível obter-se um título académico com pouco ou nenhum esforço.

segunda-feira, setembro 08, 2008

Igualdade e o espírito humano

A igualdade de rolo compressor que pretende nivelar as vidas dos cidadãos, transformando os sonhos de cada um em algo de supérfluo e a evitar levantar acima do objectivo comum: A sociedade perfeita, na qual ninguém tem motivos de inveja do vizinho do lado.
Ora, se todos vivermos vidas miseráveis e sem objectivos próprios, é óbvio que ninguém deseja ter o que o outro tem. Ou seja, nada. Ou quase.
Mas é dessa inveja que nasce a ambição. E é através da ambição que o indivíduo evolui e se supera. Sem ambição, o indivíduo acomoda-se e estagna. Há invejas e ambições doentias, é verdade, mas nada é perfeito.
Esses senhores da burocracia em nome de uma igualdade forçada depressa se apercebem, no meio de todas as suas boas intenções, que a única maneira de criar a sociedade perfeita por eles imaginada, passa por suprimir as vontades e desejos individuais. Sendo assim, estes donos da razão alheia, cheios de visões e soluções para a vida dos outros, acabam por defender a igualdade moldada à força contra a liberdade e o livre arbítrio.
Além disso, o indivíduo ambicioso cria ambição à sua volta. Este indivíduo quer melhorar o seu estilo de vida, e por isso inova e quer melhorar-se a si próprio. O esforço que este faz acaba por arrastar outros com ele, seja por que trabalham para ou com ele, seja pelo exemplo que vêem nele. Mas os burocratas que tudo sabem cortam este progresso individual antes que infecte mais alguém. Tiram-lhe parte dos lucros em troca de serviços que ele não pediu, nem usa. Para que avance na sua demanda por melhores condições, vê-se este empreendedor obrigado a pagar autorizações para tudo e mais alguma coisa. Tudo isto em nome da igualdade.
Se eu não posso ter mais do que tenho, ou distinguir-me do meu vizinho pelo meu sucesso, então nem me vou esforçar. Se os mínimos para a sobrevivência me caem no colo, e a ambição de querer mais me é amputada em nome da igualdade, não me esforço.
Na constituição dos EUA escreveu-se que todos os homens nascem iguais. Isso é igualdade. Também lá está escrito que todos os homens têm direito à "pursuit of happiness". Repare-se que não diz que os homens têm direito à felicidade, antes a tentar lá chegar. Até porque quem já não tem objectivos a atingir, não pode ser feliz.

sábado, setembro 06, 2008

A igualdade entre os homens (continuação)


As pressões sociais (é comum classificar-se um vizinho que tem um pouco mais de sucesso de malandro ou aldrabão, quando não se usam termos piores) são alimentadas pelas invejas inerentes à natureza humana e pela retórica socialista, que em vez de tentar convencer o invejoso a converter esse sentimento negativo em ambição de fazer melhor, convence a população de que devem entregar toda a sua ambição ao bem comum. Existe uma cultura quase religiosa de que quem tem sucesso, o obtém através da exploração do próximo.
Mas esta igualdade de nivelamento forçado já se infiltrou nas nossas leis fundamentais. O politicamente correcto, que é o argumento mais usado para justificar a censura, assim obriga. Assim temos leis que dão mais direitos a certos grupos que a outros, com base em género, raça, inclinação sexual ou outra qualquer desculpa para reinvindicar discriminação positiva de tratamento. E falo do tratamento por parte das instituições estatais, que são as únicas que devem ser obrigadas a tratar todos os cidadãos por igual. Mas o que acontece com estas leis de equilíbrio forçado, é que os cidadãos do sexo masculino que fazem parte das maiorias raciais e não se desviam do padrão em termos de inclinação sexual, são negativamente discriminados em relação a todos os outros. Isto não é igualdade perante o estado. Há uns mais iguais que os outros, e sempre que se discrimina positivamente alguém em relação a outro, estamos a discriminar negativamente este último.
E mais ainda: estas leis não se limitam a criar discriminação por parte do estado. Elas obrigam também os privados às mesmas práticas desiguais. Os privados, que nem deviam ser obrigados a ser politicamente correctos pelo estado. Pressão social, através de pressão económica por parte da clientela, é uma coisa. Agora, retirar o direito a um privado de ser um idiota já é demais.
Igualdade entre os homens significa que não me podem impedir de ter acesso à vida em todas as opções que eu possa tomar por iniciativa própria, desde que as minhas opções não interfiram directamente com a mesma liberdade nos outros. Igualdade entre os homens não significa que se eu trabalhei para comprar um chapéu, tenha que partilhar o meu chapéu com o meu vizinho. Fá-lo-ei, se assim desejar.

A igualdade entre os homens

A religião Cristã, na qual fui educado, apregoa a igualdade de todos perante Deus. Não quer isto dizer que na hora da morte não interesse o que se fez durante a vida. Esta igualdade não é como um rolo compressor que nos mantém a todos ao mesmo nível enquanto respiramos, tornando irrelevantes as nossas boas ou más acções. Esta igualdade refere-se apenas ao ponto de partida, à forma como os Cristãos acreditam que Deus nos avalia à partida e o modelo em que se baseia para nos julgar no purgatório.
Fora da religião, e neste país de mentes lavadas pelo PREC, também se confunde a igualdade com um rolo compressor. Existe, em Portugal, uma obsessão pelo direito à igualdade, o que não é mau só por si. O problema é que se confunde a definição de igualdade. Para os socialistas deste país (e não me refiro só aos partidos da nossa esquerda, mas antes a todos quantos defendem modelos de uniformização social), esta igualdade deve ser imposta, ao contrário de praticada.
Estes ditadores da boa vontade vêem o direito à igualdade como uma desculpa para uniformizar os seus cidadãos dentro de uma sociedade sem ambições individuais, mas antes possuidora de um objectivo colectivo. É assim que a aplicação desta definição de igualdade serve como desculpa para o tal rolo compressor que nivela os indivíduos por baixo e os quebra ao menor denominador comum. Assim se domam e moldam vontades, uma vez que o indivíduo que teria ambição de se esforçar por ser melhor é desmotivado quando se depara até com a depreciação que sofre por parte dos seus pares menos ambiciosos. E isto são só as pressões sociais.
(Continua)

quarta-feira, setembro 03, 2008

Wall.e tem que se lhe diga

No fim de tarde de hoje aproveitei que ia pôr o meu fato a lavar, já que a minha irmã se casa daqui a semana e meia e eu preciso de estar no meu melhor, e fui ver o filme Wall.e. Pode parecer estranho pensar "ah, vou ali à lavandaria e aproveito para dar um salto ao cinema", mas é preciso ver que eu não tenho horários no momento. Digamos que o tempo me vai sobrando, mesmo entre os vários projectos em que me tenho embrenhado. Mas vamos ao filme.
Não quero aqui fazer grandes considerações e ou críticas muito técnicas e cinematográficas. Quero só falar daquilo que me chamou mais a atenção e do que me interessa do ponto de vista da mensagem. O filme retrata uma sociedade em que os seres humanos não fazem nada mais senão consumir. E só há um fornecedor de serviços que trata do bem-estar dos seus consumidores em regime de monopólio, incluindo as decisões acerca das modas e gostos. Os cidadãos/consumidores desta grande nave espacial quase nem se mexem, obesos e rendidos a uma vida em que as máquinas fazem tudo por eles, incluindo ver. Sim, ver. Estas pessoas vivem em cadeiras reclináveis que os levam a todo o lado, com três ecrãs holográficos à frente da cara. Por estes ecrãs eles comunicam uns com os outros, vêem as novas modas e praticam desporto. Sim. Desporto. É óbvio que dão comandos a robots que fazem a parte física por eles. Estes seres humanos decidem muito pouco por si nem questionam nada do que é decidido pelo fornecedor de serviços. Estes seres vivos prescindiram da alma pela sobrevivência. E é o pequeno Wall.e quem causa distúrbios nesta sobrevivência e os faz ver que faz parte da natureza humana arriscar-se a viver ao invés de se resignar com a sobrevivência.
Esta é uma boa mensagem para todos quantos acreditam que a sociedade humana emana do estado, e se resignam à segurança da asa paternalista deste em troca de sobreviver. Pessoalmente não quero deixar que a minha alma fique obesa e inactiva. Quero viver.

Nota pessoal: A curta-metragem que antecede o filme é hilariante. A ver (sou mauzinho, não sou?).

segunda-feira, setembro 01, 2008

Manhosos

A Brigada de Trânsito da GNR resolveu colaborar com a festa de uma concentração de Tunning controlando todos os carros que lá entrassem. E multou todos pelas alterações feitas aos carros...
Não gosto, regra geral, daquela actividade. Se esses cidadãos querem alterar o seu automóvel ao seu mau gosto, eu não tenho nada a haver com isso. E não me parece que a imagem da BT ganhe muito com comportamento tão manhoso, nem com a colaboração com leis tão fascistas como estas.

sexta-feira, agosto 29, 2008

Engolir o sapo

Zuerst die Fuesse de Martin Kippenberger

Este é o sapo da discórdia. Anda a causar alvoroço nas cabeças do Vaticano e até já houve quem fizesse greve de fome para isto não fosse posto em exibição.
Quer o Vaticano que esta peça seja escondida do olho público por ser ofensiva ao olho Cristão, apesar de só representarem o olho Católico. Fazem lembrar os Ayatolas com as caricaturas de Maomet...
Mas o Papa deve saber que, segundo a Bíblia, Deus deu ao Homem a liberdade para pecar. Segundo o mesmo livro, Deus mandou Cristo lembrar aos homens de que cada um deles é livre de pecar ou não dentro da sua consciência. Sendo assim, os paramentados senhores do Vaticano deviam ser os primeiros a dizer que, apesar de não acharem piada nenhuma ao grotesco príncipe-sapo crucificado, cabe ao indivíduo a decisão de ver, ou não, o alvo da crítica.
Critiquem. Boicotem. Insultem, até, o autor e o expositor apesar de não ser uma atitude muito Cristã, mas não me tirem a oportunidade de avaliar por mim até que ponto este objecto me ofende.
Digo já que, como Católico, não me ofende minimamente. Como alguém que gosta de algum humor rebelde, atribuo um sorrisito maroto à peça. Acho é que podia estar um bocadinho mais bem feito. É um bonequito feio: o ovo está suspenso na mão do sapo por artes mágicas? Um sapo tem dentes de vampiro? E era preciso os olhos assim tão assimétricos? Mas esta é a minha opinião e partilho-a convosco. Mas não a quero impor.
Acho que os senhores do Vaticano faziam melhor se engolissem o sapo.

quarta-feira, agosto 27, 2008

Minority Report

Quem concorda que se multem ou prendam pessoas apenas porque podiam ter magoado alguém por conduzir um carro depois de uns copos, deve viver na esperança de que um dia se possam prever os homicídios e prender o futuro homicida, antes sequer de passar pela cabeça deste cometer o crime.
Culpado à partida.

Outros o escreveram

No A Arte da Fuga, pela mão do AA:

Neste país pacato e desarmado

É proibido, neste nosso país pacato, andar armado sem passar pelo rigoroso escrutínio dos burocratas que decerto nos lêem na face as intenções. Eles decidem se eu sou uma pessoa a quem se pode permitir possuir uma arma, e mesmo assim não posso possuir qualquer uma. Tem que ser uma arma mais modesta, que não faça muitos estragos. E demora muito tempo a autorização pelo técnico burocrata que tudo sabe.
Isto tudo para que eu, cidadão cumpridor da lei que nunca comprará uma arma no mercado negro, não desate por aí a assaltar bancos, balcões dos CTT, transportes de valores ou bombas de gasolina. Tudo para que eu, cidadão que se submeterá ao castigo da burocracia se quiser comprar uma arma, não use uma arma automática para ameaçar, ferir ou matar os outros cidadãos cumpridores.
Podemos estar seguros, portanto, que neste país de brandos costumes, nenhum cidadão cumpridor da lei terá uma arma sem que o omnisciente estado o saiba, e não poderá por isso usá-la para fins mais mal-intencionados.
É por isso que vivemos num país onde não há assaltos à mão armada, nem se abrem noticiários com tiroteios e reféns de arma apontada à cabeça. Graças ao estado.

segunda-feira, agosto 25, 2008

Amizades

Amigos há muitos e de muitos tipos. Os conhecidos e amigos para a farra, por exemplo, têm o seu valor e serventia, e não é raro saírem desta classe algumas amizades mais próximas. Mas para considerar alguém nesta categoria não é comum exigir-se muito. Basta que se ambos se divirtam na companhia um do outro e dois indivíduos podem considerar-se amigos com alguma segurança.
Mas existem níveis de amizade de natureza mais íntima. Existem aqueles amigos com quem partilhamos histórias um pouco mais coloridas, ou aqueles por quem não nos importamos de suportar um ou outro fardo ocasional. Mas ainda há outro tipo de amigos.
Estes são aqueles de quem podemos esperar, com segurança, que vão estar do nosso lado mesmo quando nós não pedimos ajuda. Esta classe de amigos é muito mais restrita, como seria de esperar, e por vezes vêm em nosso auxílio mesmo quando os afastamos, limitando-se a estar presentes, caso precisemos. E sabe sempre bem saber que há alguém ali ao lado, pronto para o abraço de que tantas vezes precisamos. Sem necessidade de palavras.
Quando caí, por opção alheia, no abismo de que agora me evado, muitos foram os amigos que se revelaram. Alguns sem novidade, sem dúvidas. Posso até dizer que já contava com eles. Mas houve também aqueles que se revelaram.
A todos eles, muito obrigado.
Por todos eles, vou sorrir um pouquinho mais.

sexta-feira, agosto 22, 2008

O segredo

Existe um segredo para evitar que a rejeição nos deite abaixo. Todos temos uma imagem exagerada da importância que temos para os outros. Isso faz com que um acto de rejeição por parte de outrém em relação a nós tenha o efeito de demolir a nossa confiança. Se o nosso ego está construído à volta daquilo que pensamos que é a nossa imagem perante os outros, quando estes nos dizem "não és assim tão importante" a imagem que temos de nós próprios cai como uma torre de palitos colados com cuspe.
Por isso o segredo é construir o nosso ego a partir de nós mesmos, tendo sempre em conta que aquilo que nos faz especiais aos nossos olhos pode não ser assim tão especial aos olhos dos outros.
É preciso ter em conta, sempre, que aqueles que agora nos acarinham e nos prometem futuros podem, daqui a cinco minutos, já não ter interesse nenhum na nossa vida. É por isso que temos que ser nós a ter interesse na nossa vida e nunca a oferecer ou fazer depender de outros. Podemos sugerir, simplesmente, que caminhem connosco, partilhando alguns dos fardos com que a vida nos carrega.

Rir com os putos

Ontem fui jantar a casa de um casal amigo. Não fui só eu, mas fui o único solteiro à mesa se excluirmos as três crianças que chegaram empurrados pelos respectivos progenitores. Um dos miúdos tem cerca de dois meses ainda, mas os outros dois têm cerca de dois anos.
O ponto alto da tertúlia culinária foi quando consegui distrair o mais irrequieto dos putos com uma aulinha de dança que ainda durou uns bons dez minutos. A criança imitava tudo o que eu fazia de sorriso sonoro e rasgado. Fiz de palhaço, e senti-me bem.

quinta-feira, agosto 21, 2008

E não deixam ninguém em paz!

Os brilhantes e bem-intencionados técnicos da vida alheia, ocupantes omnipotentes dos cargos estatais, decidiram abusar um pouquinho mais com as actividades económicas de indivíduos que andavam por aí sem Deus nem roque.
Regulam, então, esses senhores, que os estabelecimentos de diversão nocturna de mais de cem metros quadrados serão agora obrigados a contratar um segurança, num claro esforço de diminuir o desemprego entre os membros das máfias que pululam a vida nocturna pelo país fora. É de louvar a intenção.
Também regulam, esses génios do bem-comum, que tais estabelecimentos serão obrigados a ter uma câmera à entrada, para que se possa tirar o retrato a todos quantos lá entrem. Aposto que no fim da noite poderemos, todos os que o desejarem, podem ir ao bengaleiro buscar uma cópia da nossa fuça aquando da entrada, em troca de uns cinco euros.
Mas falham, esses beneméritos em causa alheia, ao não irem um pouquito mais longe. Podiam, por exemplo, regular a indumentária admissível por parte da clientela. Se não, vejamos: Numa casa onde a luz negra seja uma das fontes luminosas mais marcantes, deve ser barrada a entrada ao cliente "pé-de-gesso", sob risco de ferir a retina à restante clientela.
Também devia ser barrada a entrada a jovens que usem a cintura das calças abaixo do topo das nádegas, mostrando a lingerie masculina, num claro atentado à susceptibilidade de quem frequenta esses locais para ver, quando muito, lingerie feminina.
Haja juízo...

quarta-feira, agosto 20, 2008

Prole

Tenho passado estes dias na praia com amigos meus, casados e com contribuições feitas para a sobrevivência da espécie humana. E tem sido divertido.
Tenho observado os meus amigos irritadiços porque a filha ou filho não dorme, ou sem poder ir à água sem terem a certeza de que alguém lhes vigia o rebento. Tenho visto o trabalho que dá criar um filho pequeno. Gerá-los é fácil e agradável.
Mas algo em mim me faz sorrir cada vez que estas crianças me mostram um dentinho ou dizem o meu nome. Transbordo de orgulho quando vêm ter comigo e me chamam para brincar. Fico triste quando têm aqueles ataques de timidez ou fazem birra e se recusam sequer a falar comigo.
Não lhes sou nada a não ser amigo dos pais. Não existe nenhuma ligação de sangue nem sou padrinho de nenhum destes protótipos de gente, mas algo dentro de mim desperta quando os vejo a rir como perdidos no meio das suas palhaçadas para entreter adultos.
Apesar do óbvio trabalho que lhes adivinho nos cuidados permanentes que dirigem aos seus rebentos, tenho inveja deles.
Até há bem pouco tempo pensava que a hora de começar a construir a minha prole se aproximava a passos largos. Mas a vida prega-nos partidas. Agora nada mais posso fazer senão esperar, pacientemente e sem pressas, que apareça quem partilhe comigo a aventura de criar uma família.
Sem pressas, agora.

terça-feira, agosto 19, 2008

Opções e mais opções

Novos mundos se abrem depois de descer ao abismo. Depois de andar pelos cantos a achar que a minha vida não tinha sentido nem rumo, começo agora a levantar a cabeça e a ver muitas possibilidades.
Algumas oportunidades de trabalho apareceram, sem grandes certezas mas com grande vontade da minha parte. (Parece mentira, não?)
Quando um tipo acha que o seu caminho é estreito e de um sentido só acaba por se deixar limitar muito pelos sonhos que o deixaram com uma visão tão reduzida. Mas bastou que uma das cortinas que cobria a vista a este indivíduo caísse para que um mundo de possibilidades se abrisse e o resto dos espessos véus se evaporassem.
Eis-me preparado para seguir em frente, sempre de olho nas lições do passado.

segunda-feira, agosto 18, 2008

É melhor, sim senhor

Afirmei a minha reforma da cerveja a rodos no post anterior. O meu bom amigo Goethe comentou com um curto mas irónico "Pois, pois". É difícil, quando se tem um gosto especial pela cerveja, e uma fama mais especial ainda por gostar dela, fazer os outros acreditar que já não queremos bebê-la continuamente. Então na noitada, cada vez que alguém quer uma cerveja e necessita de companhia ou uma desculpa para ir ao balcão buscar uma loirinha, traz sempre uma para o Gonçalo. Mas agora ficam com ela na mão, ou oferecem-na a outra pessoa. Não me apetece.
Gosto de cerveja. Não haja enganos quanto a isso. Mas não gosto de ficar bêbado. Nem de me sentir inchado no dia seguinte. O meu ego já não tolera o risco de fazer fraca figura ou de ter uma barriga que parece um balão insuflado a bomba de pneu.
E é muito mais agradável conversar com os outros sem ter que medir as palavras que dissemos uns segundos antes, já tarde demais para evitar a asneira. Resulta muito melhor, meus amigos. Acreditem.

sábado, agosto 16, 2008

Hoje come-se

Hoje é dia de Supertaça. E de espetada para acompanhar. Futebol e comida... E cervejinha para empurrar. Pouca, porque me reformei.

sexta-feira, agosto 15, 2008

"When it rains it pours"

Por vezes acreditamos que a vida não quer que nada de bom nos aconteça. E por vezes vemos as portas fecharem-se à nossa volta, umas vezes por apatia, outras por que sim. Nessas alturas tendemos a culpar os outros. Mas os outros não vivem para nos fazer as vontades. Têm a vida deles para viver e, por vezes, estão pior que nós mas o egocentrismo da nossa percepção do mundo não nos permite vê-lo com clareza.
Acontece que a vida não tem nada contra nós. Aliás, a vida está-se borrifando, indiferente para a nossa vidinha entre muitas. Mas a física da coisa dita que quando uma porta se fecha, abre-se uma janela. Por vezes mais do que uma. É só abrir os olhos.

"Quando chove, chove mesmo". ;-)

quinta-feira, agosto 14, 2008

Foram dois dias de purga

Falhei a actualização deste blogue dois dias seguidos. Foram dois dias de purga do ego que me fizeram muito bem.
Limpei o sótão e a cave, escrevi um poemita na língua de Sua Majestade, que não me agrada, por sinal, e fui retido e afastado da internet por dois dias. Não se pode ter tudo.

segunda-feira, agosto 11, 2008

Porto Santo com portagens

Uma das coisas que mais me atraía ao Porto Santo nos Verões da minha adolescência era o facto de as noitadas não estarem presas a espaços confinados e de entrada seleccionada onde se toca música só para alguns gostos, a um volume que faz um surdo levar as mãos às orelhas. Sou do tempo das tasquinhas e dos bares na praia, em número suficiente para que escolhêssemos e variássemos como bem nos aprouvesse. Os diferentes bares e tasquinhas inventavam-se e reinventavam-se todos os dias numa luta desenfreada para atrair a clientela. Eram noites divertidas, garanto-vos.
Mas acontece que, com a desculpa, pontualmente justificada, de que as tasquinhas e bares abertos madrugada a dentro incomodavam os veraneantes e residentes menos afoitos nas noitadas, a Câmara Municipal do Porto Santo resolveu intervir. E o que é que acontece quando há intervenção em larga escala? Nada de verdadeiramente bom.
Resolveu, então, a CMPS usar os fundos subtraídos ao contribuinte para construir uma série de nove bares contíguos na zona do Porto de Abrigo. Afastados de centros habitacionais, estes bares podem manter os seus sistemas de som em níveis mais arrojados sem incomodar ninguém. Ninguém, excepto os desgraçados que chegam à Ilha Dourada, para descansar, nos seus barcos. É que o barulho está apontado para a marina...
Mas como era preciso que a CMPS, através da Sociedade de Desenvolvimento do Porto Santo, não perdesse dinheiro com o empreendimento, até porque não dá muito jeito ir para tão longe a pé, ou de carro, mas com cuidados na bebida, impôs-se que nada ficasse aberto após as duas da matina. Nada de pasmar se considerar-mos as tasquinhas no centro da Vila Baleira, mas já é mais difícil de explicar a decisão em relação a alguns bares da praia que estão longe de zonas habitacionais. Trata-se de uma protecção de monopólio, é o que é. Ninguém se atreveria a alugar um espaço ali se não tivesse garantias de que a clientela ia para lá. Sem grande escolha, a não ser ficar em casa, é natural. Mas a coisa piorou este ano...
Este ano a SDPS aceitou que um grupo de privados pusesse para lá uns DJ's a fazer tocar porcaria no espaço público e, para pagar a esses tocadeiros de computador, fechou o espaço, pago com o fruto da subtracção coerciva dos rendimentos de quem trabalha. À força de barreiras de ferro lá somos todos encaminhados como gado a uma bilheteira onde, garanto-vos, não se passam recibos nem se usa livro de reclamações.
Não é a inexistência de recibos que me chateia, mas a desfaçatez com que se fecha um espaço pago com o erário público, em situação de monopólio instituído, para entregar lucros sabe-se lá a quem.

Em cheio

O pressentimento estava certo.
Não vou escrever aqui de que se trata. É algo demasiado íntimo para atirar assim aos ventos do conhecimento público. Mas que dói, dói. Ainda bem; quer dizer que estou vivo.

domingo, agosto 10, 2008

A bandeira amarela

Ontem, aqui na bela Ilha do porto Santo, fui à praia. Nada de pasmar, admito, mas quando lá cheguei deitei o olho à bandeira da praia vigiada mais próxima. A praia que escolhi não é vigiada, mas está à distância de um olhar mais esforçado de uma que tem, de facto, quem seja pago para cuidar da segurança de quem por lá se banhe. O trapo que esvoaçava ao vento contra as cinzentas nuvens era amarela. Lembrei-me logo: o toti-sapiente estado permite-me que me molhe na babugem, mas não me autoriza a arriscar umas braçadas a sério.
O leitor mais frequente e atento deste blogue deve adivinhar qual foi a minha primeira vontade naquela hora. Nadar por ali a fora.
Não o fiz. Pela simples razão de que eu não conheço aquela zona e estar um bocado frio. Foi uma escolha minha, em consciência, e não o medo de uma qualquer sanção estatal.
Hoje lá estarei. Talvez arrisque.

sábado, agosto 09, 2008

Continuo a pressentir

Há algo de novo no ar...

Não percebo

Numa amena conversa com uma amiga, que depressa se animou, até por causa do tema, ouvi as melhores desculpas de todas para não se entrar a matar aos brasileiros que fizeram reféns em Lisboa. A primeira é a de que eles eram aselhas, tontos, por assim dizer. Isso não me parece uma boa desculpa. Se eram pouco profissionais ou não, tiveram as suas escolhas: desistir ou correr o risco. Escolheram o risco.
A outra desculpa, e parece que ela a ouviu da boca de um perito na televisão, é a de que eles teriam medo de se render porque no Brasil correriam o risco de ser abatidos mesmo que libertassem os reféns. Ora, não estamos no Brasil. Penso que ninguém tem dúvidas disso. Sendo assim, os energúmenos fizeram a pior escolha baseados numa realidade do seu imaginário cultural, como qualquer outro ser racional faria. Mas a verdade é que eles fizeram a sua escolha e pagaram por ela. A Polícia não ia permitir que estes indivíduos se fossem embora com armas apontadas à cabeça de inocentes só porque eles tinham medo de ser abatidos. Eu diria mais: Se eles estavam com medo de ser abatidos, tomaram a opção correcta... Ou talvez não.

sexta-feira, agosto 08, 2008

Para quê?

Passei o princípio desta tarde a ver a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim. Apesar de impressionante e estéticamente atraente, a cerimónia não me conseguiu prender a atenção de forma permanente, que é o mesmo que dizer que mudava de canal de vez em quando, só para não enjoar de tanta coreografia. Sempre que o fiz, ia sempre parar a notícias, principalmente na SICNotícias. E o que por lá se passava, fez-me perder a paciência.
Desde o Ministro da Admnistração Interna, a chefes da PSP e outros peritos em segurança e forças policiais, fartei-me de ouvir explicações, congratulações e outras razões para a actuação dos GOE no caso do assalto/sequestro da tarde de ontem numa depedência do BES em Lisboa. Para quê?
Parece que os GOE mataram um dos assaltantes e feriram gravemente o outro. E depois? Os reféns ficaram bem, não? Os energúmenos que se meteram por esta via de subtracção daquilo que não lhes pertence sabiam o que estavam a fazer, ou não? E ainda por cima puseram em risco e ameaçaram a integridade física de inocentes. Então os GOE fizeram tudo bem. Nada a assinalar. Então para quê tanta explicação? Talvez seja uma questão de colher louros. Compreendo, apesar de não achar boa conduta andar por aí a reclamar heroísmos. O verdadeiro herói é aquele que faz o que acha certo e não reclama agradecimentos.
Ou talvez tenham medo desta opinião pública Portuguesa que tanto diz mal porque não mataram e cederam, como por que mataram, e faz dos assaltantes vítimas de um qualquer excesso policial.
Quando um indivíduo activamente põe em risco a vida de outro, e é avisado pelas forças da ordem de que pode levar um tiro se não parar a sua ameaça, deixa de ter qualquer tipo de razão para se queixar se efectivamente levar um tiro nos cornos.
Se eu tivesse uma arma apontada à cabeça por um qualquer tipo que me ameaça continuamente com o premir do gatilho, o que eu quero é que a polícia o ponha fora de combate antes que ele concretize a sua ameaça.

quinta-feira, agosto 07, 2008

Pressentimentos como introdução (falta de tempo)

Acordei hoje com um pressentimento esquisito. Algo mudou em mim, ou à minha volta. Não sei explicar. em sei se a angustia que sinto é má ou de simples curiosidade. Que será?
Eu continuo vivo e bem de saúde, e más notícias correm depressa... Devo estar a ficar maluco, mas é.

Talvez seja só porque me sinto cada vez mais próximo de uma ditadura pelo povo, para o povo, e por quem conseguir convencer o povo de que a sua liberdade não lhes pertence.
Há poluição numas praias lá para a Póvoa de Varzim. Em vez de se investigar a origem e suster os estragos, avisando entretanto o veraneante dos riscos que corre se entrar na água, proíbe-se pura e simplesmente os banhos. Uma clara forma de dizer ao banhista que ele é estúpido e não tem capacidade de decidir por si. A verdade é que é mesmo estúpido, porque entrega de bom grado a sua responsabilidade pela sua liberdade ao bem-intencionado estado que tudo sabe e tudo decide.
Há quem defenda este tipo de atitudes com a saúde pública. A minha saúde não é pública, digo-vos já. Ninguém tem nada a haver com a maneira como eu trato da minha própria saúde. E neste caso em que o contaminante são salmonelas, não existe o risco de um indivíduo mais aventureiro acabar por infectar outros que não foram a banhos, já que as Salmonellas não são assim tão contagiosas.
Também já ouvi argumentar que se eu me puser doente, vou pesar nas despesas no Sistema Nacional de Saúde. Nem eu sou obrigado a usá-lo (posso preferir um serviço de saúde privado) nem é lógico que eu evite usar um serviço que pago, inclusivamente sob ameaça. Se houver um contracto, assinado livremente entre ambas as partes, em que eu me comprometa a tomar cuidados com a minha saúde, cumpri-lo-ei, mas não há. Pelo menos eu não assinei nada. Mas tenho que pagar, senão...

quarta-feira, agosto 06, 2008

Escolhas

A vida é feita de escolhas. Nada de novo, certo? Mas por vezes nós esquecemo-nos disso e agarramo-nos a conceitos e ideias que por vezes são contraditórios. Quando a vida nos apresenta uma bifurcação tudo o que temos a fazer é escolher o caminho. Alguns dirão que é difícil escolher, que às vezes precisamos de conceitos inerentes aos dois trajectos, mas não é verdade. Não precisamos de nada. Tudo o que temos a fazer é escolher o caminho que nos dá mais prazer, mais vantagens.
Por vezes temos que escolher, por exemplo, entre uma vida longa sem uma perna ou uma vida curta com ambas. A perna é importante, mas não absolutamente necessária, assim como uma vida mais longa pode dar-nos mais tempo para muitas coisas, a qualidade dessa vida pode não ser tudo aquilo que desejamos. Então, escolhemos. Eu, neste caso, escolhia poder continuar a ser bípede apesar de saber que tenho menos passos para dar.

Insónia

Estou deitado aqui na minha cama, ansioso por saber se o sono chega antes do sol nascer, num nervoso de antecipação antes da viagem. Amanhã vou ver as areias claras da ilha do Porto Santo. Amanhã... Hoje.
Vou para a Ilha Dourada escapar-me da família em stress que prepara o casamento da minha irmã. Anda tudo maluco e exigente, como deduzo que aconteça com quase todas as famílias cuja única filha se vai casar. Vou para lá por outras razões também.
Biquinis. Sim. É uma motivação algo fútil, mas vai-me fazer bem, e saber bem, lavar as vistas. Quem já se passeou pelas praias do Porto Santo sabe que é difícil não deixar o olhar prender num ou outro elástico de sustentação, ou a atenção emaranhar-se num laço estratégica e cuidadosamente atado contra a pele morena de uma jovem sorridente.
Vou para o Porto Santo. Com calma e sem precipitações, mas decidido.

terça-feira, agosto 05, 2008

Depois da tempestade

Triste, já o confessei, mas não deprimido. Muito pela contribuição de amigos e amigas que me mantiveram ocupado demais para sentir pena de mim mesmo. A família também ajudou, apesar de, por vezes, um ou outro familiar mais próximo ter tentado demais, levando-me a sentir alguma revolta. Mas a intenção conta, e eu fiz um esforço por todas estas pessoas. Um esforço por mim e para mim.
Foi assim que me deixei levar pela vida de homem sem compromisso. Não. Não quero com isto dizer que me virei para uma vida de libertinagem ou de engate a qualquer custo. Nunca fui assim quando era adolescente, livre e com algum sucesso entre as adolescentes, não será depois dos trinta que me tornarei um mulherengo. Antes pelo contrário. Mas comecei a deixar a minha já habitual "fronha de homem comprometido" para trás e arrisquei conhecer amigas de amigas, algo que só aceitava por acaso de circunstância. Se estivéssemos à mesma mesa, por exemplo, não podia senão ser simpático.
Mas esta diferença de atitude revelou-se muito útil para mim. Redescobri-me como homem atraente. Sei que o meu aspecto físico já não é o que era, e que o adolescente que nunca se queixou de falta de interesse feminino já não existe. Mas o trintão que resta depois do cabelo comprido e da cara de bebé terem ficado para trás não parece estar assim tão mal. Fui elogiado pelo charme pela primeira vez na vida, por exemplo.
A confiança volta insuflar este meu ego que sempre foi grande (nota-se?...) e a trazer-me de volta à vida de comum mortal. E com um sorriso na cara.

Post Scriptum: Peço desculpa pelo ego inchado mas, além de ser um defeito que sempre me pertenceu, é algo de que não me quero livrar neste momento da minha vida.

Um novo rumo

Há alturas na vida de um homem em que uma atitude energética se torna essencial. Depois de me deixar enterrar numa lamacenta poça de auto-comiseração, resolvi levantar-me.
Decidido que estava a arriscar uma vida inteira numa mulher que conhecia há quase doze anos e com quem partilhei sonhos, esperanças e caminhos durante quase onze anos e meio, levei um evidente choque quando me vi sozinho num repente. Durante algum tempo limitei-me a pedir-lhe que reconsiderasse e quase lhe pedi que tivesse pena de mim. A verdade é que, por momentos, ela não sentiu mais nada por mim a não ser pena. Dizia-me que não, mas eu senti-o. E foi isso que me foi acordando e me fez levantar a cabeça, desimpedindo-me as vias respiratórias da fuligem escura em que a falta de amor-próprio se condensa.
E assim comecei por me orgulhar por estar vivo. A minha vida não acaba com esta relação. Eu não estou condenado à morte emocional só porque uma mulher em quem depositei a minha fé recusa retribuir a aposta. Cheguei à conclusão de que não preciso dela. Não preciso de nenhuma mulher.
Não quero, com isto, fazer o leitor acreditar que eu desisti das relações sentimentais com o sexo oposto. Longe disso. Eu quero, eu desejo, mas não preciso. E no caso desta mulher, gostaria muito que a relação resultasse num projecto de vida sólido. Estou até convencido de que ambos teríamos a ganhar com isso. Mas a realidade é que não posso obrigar ninguém a tomar as decisões que mais me agradam em detrimento do caminho que escolheram em vez de caminhar a meu lado.
Devo confessar, até, que compreendo a decisão. Estou fora de Portugal, embora contasse estar de volta de vez dentro de menos de um ano, e uma relação à distância é difícil. Este tipo de relação exige muita fé, trabalho e coragem, mais do que aquilo que eu ou outro qualquer tem direito a pedir.
Compreendo também que seja difícil para as exigentes mulheres que normalmente me agradam ver um futuro comigo. Tenho trinta e um anos e ainda é difícil para os outros ver um rumo na minha vida. Eu sei que existe e já o vejo. Tenho já a convicção de que a vida não me vai correr mal. Mas consigo perceber que outros tenham dificuldade em aceitar o meu desabrochar tardio.
Estou triste, é verdade, mas não estou derrotado.

quarta-feira, julho 23, 2008

Se formos por aí...

O casamento gay é uma questão de igualdade? Ok...
Mas aqueles que desejam praticar a poligamia têm o mesmo direito, por exemplo. E aqueles que querem viver as suas relações sem que o estado se meta, também.
O estado não tem nada que se meter na vida das pessoas se estas decidem viver em economia conjunta, ou se se separam, eventualmente. É tudo uma questão de moral. O estado deve ser amoral.

quarta-feira, julho 16, 2008

Você já reparou?

Cada vez que o bem-intencionado e paternal estado decide que o indivíduo precisa de condução para uma vida melhor, quem paga é o conduzido. O cidadão (que nem escolheu sê-lo. É-o, porque sim.) é obrigado fazer isto, paga, ou a comprar aquilo, paga. O estado decreta que eu não tenho capacidade para decidir comprar uma cadeirinha para proteger o meu filho no carro, mas parte do princípio de que eu tenho capacidade para a comprar. O estado decide que o meu carro tem que ser vistoriado com frequência, protegendo o negócio de quem faz a dita e anulando a minha possibilidade de usufruir do fruto do meu trabalho como bem me apetecer. O estado decide que eu tenho que comprar um seguro automóvel e que me lixe a pagá-la ao preço que bem aprouver aos agentes que os vendem.
Agora vem o estado melhorar a sua condição de cobrador desses senhores, obrigando o rebanho a colocar um chip na placa de matrícula da sua viatura para que possa controlar quem pagou, ou não, aos privados que vendem os serviços que o estado decidiu serem essênciais. E quem é que vai pagar o chip....? Aqui, também, não há surpresas.

Ora aí está uma ideia.

A Holanda desiludiu-me ao aderir à moda da alienação do direito ao usufruto da propriedade privada, impedindo que os proprietários de estabelecimentos de acesso público (e não públicos). Mas esta decisão acabou por provocar os liberais Holandeses, fazendo com que surgisse a Igreja dos Fumadores de Deus.

segunda-feira, julho 07, 2008

Desabafo

Ando às voltas com o meu regresso à escrita regular neste blogue. Há muito sobre o que escrever, começando por bem-intencionadas ideias para aniquilar a escolha privada do indivíduo e da sua responsabilização (ou ninguém se apercebeu que houve uma associação que exigiu que o governo obrigue privados a proteger as suas piscinas do uso não vigiado das crianças, em vez de apelar para a responsabilidade dos proprietários?). Também há a pluralidade selectiva de quem exige que se impeça a abertura um museu que verse sobre António de Oliveira Salazar (nem sequer é um museu em honra do homem...).
São estes e mais alguns assuntos que me povoam a mente e conspurcam o socialista que, eventualmente, possa existir dentro de mim (devo confessar que tive raras visões desse tipo no decorrer da minha mais imberbe adolescência).
Prometo tentar motivar a minha veia verborreica no sentido de voltar a escrever mais amiúde. Assim me dê na gana.

sexta-feira, junho 13, 2008

Justificações. Intimidades. É a vida...

Fazem-se planos de vida futura incluindo nela outra pessoa. Parte-se do princípio de que a outra pessoa pensa o mesmo e que os planos são comuns. Não é preciso discutir muito mais. Talvez fosse esse o erro: assumir sem sequer discutir.
11 anos é muito tempo. Veio um tornado e virou tudo ao contrário. Cheguei tarde.

terça-feira, maio 27, 2008

Contradições

Ai!, que o Mundo vai acabar se não se diminuir drasticamente a queima de combustíveis fósseis!

Ai!, que é preciso que o Estado facilite a compra de combustíveis fósseis, para os queimar!

Afinal, em que ficamos?
Não passam de moralistas na causa alheia, esses ecofascistas/Robin-dos-Bosques dos tempos modernos...

terça-feira, abril 29, 2008

Big Brother is here

Nem sei o que dizer disto. O debate não interessa. Só a verdade deles.

quarta-feira, abril 23, 2008

O meu bitaite

Manuela Ferreira Leite tem imagem de personagem recta. Não duvido. Mas não traz nada de novo à política nacional. Ao ver o programa Prós e Contras, em diferido e via internet, agradou-me ouvir a primeira intervenção de Pedro Passos Coelho. Confesso que, apesar de me lembrar de o ouvir atentamente enquanto líder da JSD, não o tenho seguido nestes últimos anos. Agradou-me, repito.
A ver se não é só fogo de vista.

quarta-feira, abril 16, 2008

Afinal: É... ou não é?

No Telejornal da RTPMadeira de dia 15 de Maio, ouviu-se isto:

"Ainda não foi encontrado o suposto autor de um crime na Ribeira Brava. O homem matou a tiro a própria mulher e fugiu."

Afinal... é suposto, ou matou?


E já agora, no mesmo programa informativo:

"[...] as forças políciais no terreno estão alertas [...]"?

Querem ver que o acordo realmente resulta em liberdade linguística?


Nota: Ambos os casos foram retirados de segmentos gravados. Não se encaixam na oralidade improvisada...

terça-feira, abril 15, 2008

Ortografia e Biologia

Legislar em nome da liberdade é legislar contra a liberdade. Quem defende o acordo ortográfico com o argumento de que com ele se defende a diversidade da língua Portuguesa argumenta contra essa diversidade.
Em Biologia (e tenho aprendido que uma linguagem evolui exactamente como uma espécie animal), a diversidade genética de uma espécie é tanto maior quanto maior for o número de populações dessa entidade biológica a viver e a evoluir em condições diferentes umas das outras. Basta que essas populações não percam o contacto entre si. Se encurralarmos essas populações todas no mesmo habitat, em pouco tempo teremos uma única população homogeneizada. Menos diversificada, portanto.

Não seria melhor deixar a língua evoluir em paz?

domingo, março 16, 2008

Para quando uma lei contra leis idiotas?

O Governo pretende proibir a importação, reprodução e criação de sete raças de cães consideradas perigosas e de todos os animais que resultem do seu cruzamento com exemplares de outras raças, de acordo com a TSF.


Gosto de cães, confesso-o. E conheço-os bem. Atrevo-me até a dizer que os conheço e compreendo. E atrevo-me, também, a dizer que as raças que os energúmenos da regulação pretendem proibir não são efectivamente mais propensas à agressividade que um Cocker Spaniel ou um Labrador Retriever. Sou obrigado a concordar que a dentada de um Rottweiler é potencialmente mais eficaz ou mais destrutiva que a de um Yorkshire Terrier, mas não concordo que por isso o Rottweiler seja considerado mais agressivo que o Yorkshire Terrier.

Fui mordido apenas uma vez na vida, excluindo as brincadeiras, por um cão. Era um Pequinois. E a culpa foi minha.

Pensemos no seguinte: Quantas dentadas de doces Labradores, fruto de agressividade, não escapam aos registos e estatísticas dos sapientes reguladores, apenas porque a fama destes cães automaticamente os desculpa aos olhos da vítima? Ou quantas vezes uma criança não apanha umas palmadas por cima da dentada para aprender a não incomodar o amoroso animal? A mesma situação, mas com os dentes de um Pit Bull, é automaticamente uma questão de polícia e/ou de folclore televisivo. E a culpa é sempre do animal que morde, nunca do que não o soube socializar e educar decentemente, ou até do animal que acha que pode chegar-se a qualquer cão só porque quer.

À ignorância responde-se ensinando e informando. À estupidez insistente responde-se com o castigo sério do estúpido, não do cão.



Adenda:

N'O Insurgente

Sintomas e confirmações

Ui!

O cerco aperta. O Grande Irmão está à porta.

Put young children on DNA list, urge police

sexta-feira, março 14, 2008

Todo-o-Poderoso Estado, desresponsabilizai-me. Ámen

Acabei de ver o Jornal da Tarde da RTP via internet. Duas notícias fizeram este amante da individualidade tremer de medo.

Foi constituida uma comissão para estudar a possibilidade de regular as varandas nacionais para evitar que as crianças caiam destas abaixo. Isto implica duas coisas, pelo menos. A desresponsabilização daqueles sobre quem seria natural que caísse tal responsabilidade e a cada vez maior certeza de que o nobre e sapiente Estado é dono das crianças do país.

A DECO pede regulamentação mais restrita ao marketing da alimentação açucarada ou salgada ou gordurosa ou qualquer outra coisa que faça mal ao filho do Estado. Dizem eles que estes oferecem brindes e outras coisas, tornando difícil à criança resistir. Não sabia é que é a criança a decidir o que se compra lá em casa. Pelos vistos, as crianças Portuguesas têm mais poder de compra do que eu pensava.

sábado, março 08, 2008

ISBN:978-1-84054-190-8

Este é o código da revista em que se podem ler dois dos meus poemas na língua Inglesa. Não ganho nada além de um exemplar gratuito e entrada na festa de lançamento, onde ainda fiz uma leitura dos meus textos. Ganho uma publicação registada com ISBN no currículo e o orgulho de ter ver dois textos meus (enviei três) seleccionados entre outros.
A revista não passa de uma espécie de antologia anual de trabalhos de alunos da University of Glamorgan, mas vai ser vendida ao público a nível regional.
Não é muito, eu sei. Mas é um começo.