Discriminação. Aí está uma palavra cujo significado tem sofrido algumas alterações ao longo dos anos. Ou talvez não. Fui ver. No dicionário online da língua portuguesa, no site da infopédia, a entrada da palavra discriminação tem uma primeira definição que diz: "acto ou efeito de discriminar; separação, destrinça". Até aqui, tudo bem. A segunda entrada também não espanta ninguém, definindo discriminação como "capacidade de estabelecer diferenças claramente; discernimento, distinção". Estas duas definições completam-se e, mais importante, não parecem atropelar-se nem moldar razões. Digamos só que não são definições carregadas com energias educacionais e de moldagem da moral colectiva.
A terceira definição tende para o discurso politicamente correcto: "acção de tratar pessoas ou grupos de pessoas de forma injusta ou desigual, com base em argumentos de sexo, raça, religião, etc.; segregação". Depois continua com definições de discriminação positiva e negativa, dentro desta terceira definição, como actos políticos e de engenharia social, ocultando o facto de que uma não existe sem a outra. Ou alguém acredita que é possível discriminar positivamente um grupo sem discriminar negativamente todos aqueles que não pertencem a esse grupo? Mas voltemos à discriminação propriamente dita, versão três.
Qualquer tipo de discriminação implica um tratamento diferenciado de um indivíduo, ou grupo de indivíduos, em relação a outro ou todos os outros. O acto de a minha mãe me chamar a mim e não a minha irmã, por exemplo, é discriminatório, e baseado em vários factores, muitas vezes incluindo sexo, tamanho, e/ou cadastro. Sendo assim, esta última entrada é redundante em relação às outras duas.
A única diferença, e era aí que eu queria chegar, é que se fazem julgamentos de valor. A injustiça da discriminação é moral, ou seja, cultural, e apresenta variabilidade. Se me disserem que estou errado por considerar a homossexualidade uma doença, por exemplo, e por isso me insultam (como já aconteceu), estão a discriminar-me. Se essa discriminação é injusta ou não, cabe a cada um decidir.
Quanto à palavra desigual, usada na definição de discriminação, é uma verdadeira treta. Qualquer discriminação conduz a desigualdade, negativa, positiva ou até mesmo neutra. Ou será que quando entro num bar e pago uma rodada aos meus amigos, não os estou a discriminar positivamente pela relação que tenho com eles, discriminando negativamente todos os outros presentes no bar? Estou a dar tratamento desigual...
A manipulação da linguagem é cada vez mais evidente para quem vai prestando atenção. As ideologias infiltram-se na nossa bela língua, manipulada por pessoas que só desejam ter razão, nem que para isso tenham que retirar as palavras à argumentação contrária. Vejam-se palavras como democracia ou liberdade... Que significaram noutros tempos, e que significam agora?
2 comentários:
Jon Stewart dirige-se a Paulson e a Bernanke: querem que vos demos quase um bilião de dólares para o entregarem a bancos falidos?
O secretário do Tesouro, , e o presidente da Reserva Federal, Ben Bernanke, foram ao Congresso americano pedir um empréstimo de 700 mil milhões de dólares. Jon Stewart, do Daily Show, faz o papel de avaliador de empréstimos, aproveitando as declarações dos distintos financistas:
Stewart: Com os mercados financeiro a transformar os gestores de fundos em criados de mesa, o casal mais poderoso da América, composto pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson, e o presidente da Reserva Federal, Ben Bernanke, foram esta semana ao Congresso de mão estendida, para aquele que foi com certeza, o pedido de empréstimo mais embaraçoso de sempre.
Então, meus senhores, Paulson, Bernanke, é um prazer vê-los aqui… novamente.
Paulson: Quero dizer-lhe que esta não é uma posição na qual eu queria estar. Eu não queria estar nesta posição…
Stewart: Descontraia-se, meu caro… sendo avaliador de empréstimos ouço isto todos os dias. Agora passemos a algumas formalidades. Como foi a sua carreira profissional?
Paulson: Fui director executivo da Goldman Sachs desde… Janei… Desde Maio de 1999 até sair, para vir para cá, em meados de 2006.
Bernanke: Nunca trabalhei em Wall Street, não tenho esses interesses nem essas ligações.
Stewart: Não estejam nervosos rapazes. Ambos são brancos, ambos são ricos, logo é claro que isto não é um daqueles empréstimos “sub-prime” com que nós tivemos de lidar. Muito bem, chega de conversa fiada, passemos aos números. Quanto é que estão a pedir?
Paulson: 700 mil milhões de dólares.
Stewart: 700 mil milhões? É que, segundo os meus registos, já cá esteve quatro vezes este ano, a pedir 25 mil milhões para a indústria automóvel, 85 mil milhões para uma companhia de seguros, 200 mil milhões para umas tais de Fannie e Freddie não-sei-quantas…
Paulson: É preciso mais.
Stewart: Pois, bem… Só de aceitares um cheque, ó careca. Aliás, um cheque careca. Um cheque sem cabelo… Digo cobertura… Só mais uma perguntas, minha gente, para quem é que vai esse dinheiro? Para o povo, calculo?
Paulson: Uma vasta gama de instituições… Bancos grandes, bancos pequenos, de depósitos e empréstimos, cooperativas de crédito…
Stewart: Porque é que não disse logo? Eles são de confiança, vão devolver-nos o dinheiro, certo? Barbudo (Bernanke), tens estado para aí calado.
Bernanke: Vai ser recuperada uma percentagem substancial, mas se será o total é difícil saber.
Stewart: É difícil saber… Interessante. Normalmente exijo uma resposta melhor, mas tendo em conta que foram vocês que nos meteram nesta crise, não terei o mesmo grau de exigência. Vamos ver se percebi bem: querem que vos demos quase um bilião de dólares para vocês os entregarem a bancos falidos, geridos por tipos que usam notas para acender os charutos e o melhor que me conseguem dizer é que talvez nos devolvam algum do nosso dinheiro?
Bernanke: Os contribuintes americanos verão o seu dinheiro bem empregue. Não consigo prever o futuro e já me enganei diversas vezes.
Stewart: Sabem que mais? Que se f… levem lá o dinheiro. Mais um empréstimo perdido? Tanto faz.
Vídeo legendado em português - 3:35m
Este é outro:
Jon Stewart entrevista Bill Maher. Este não poupa as religiões, incluindo e sobretudo o Cristianismo. A Sarah Palin também é vem à conversa
Jon Stewart, do Daily Show, traz-nos um momento de humor corrosivo que pode, a espaços, magoar os mais religiosos. Bill Maher com o seu novo documentário de comédia que se chama “Regilulous” [Religious + Ridiculous], coloca em causa tudo o que se relaciona com religião. Sarah Palin, possível vice-presidente dos EUA, é metida ao barulho e não pelas melhores razões.
Maher: Xenu trouxe-nos para aqui há 75 milhões de anos. Amontoou-nos à volta de vulcões e fê-los explodir com uma bomba nuclear. Estas são as doutrinas da Cientologia... Somos mais antigos do que o Universo. A Confederação Galáctica durou 80 triliões de anos. Têm de se livrar do implante, dos ditadores extraterrestres! Estes implantes são almas maléficas, chamadas Thetans.
Maher: Sim, acho que neste momento há duas Américas. Há um país progressista, europeu, no qual muitos de nós vivemos ou gostávamos de viver, que está a ser estrangulado pelas Sarah Palin do mundo, e que não pode nascer porque este outro país, parolo e estúpido, não permite. Não quero ser bruto, mas...
Maher: 60% dos americanos acreditam literalmente na história da Arca de Noé. Acreditam que aquilo é literalmente verdade.
Maher: A questão é que nós nos rimos disto porque a Cientologia é uma nova religião. Mas não é tão ou mais disparatado ou estranho do que o Cristianismo, lamento dizê-lo. Simplesmente estamos habituados a essa religião. Mas se, hoje, alguém viesse ter contigo e te contasse a história que nunca tinhas ouvido. Se te dissesse: “Deus teve um filho. Era um pai solteiro. E disse ao filho: ‘Jesus, vou mandar-te para a Terra numa missão suicida, mas não te preocupes, não podem matar-te porque, na verdade, tu és eu. Mas vai doer um bocado, não vou mentir-te. Vais odiar-me, mas é o melhor para ti, filho. Para mim! É o melhor para mim! Eu sou tu e tu é eu.
Maher: O plano é o seguinte, filho: eu, Deus, o Pai, vou à Terra primeiro. Dividimos o trabalho porque somos dois. Na verdade, não! E vou ver se arranjo uma mulher palestiniana para engravidar. Para que ela possa dar-te à luz. A mim, quero eu dizer! É a coisa mais disparatada que alguma vez se ouviu!
Maher: Eu limito-me a fazer perguntas. Por exemplo, o que é que a fé tem de bom? Porque é que Deus simplesmente não derrota o Diabo? O próprio Diabo… Perguntei a muita gente, por exemplo, qual é a diferença entre o Diabo e o Anti-Cristo? Sabes?
Stewart: Tem com certeza algo que ver com o Judaísmo e de certeza que fomos responsáveis por alguma coisa. Mas não sei a diferença exacta. Ninguém sabe.
Maher: Foi o que nós descobrimos. As pessoas religiosas sabem muito pouco sobre religião. Eu não sabia. Perguntava: “O Diabo e o Anti-Cristo são o mesmo?” Todos disseram que não. E eu perguntei se o Diabo trabalhava para o Anti-Cristo. Ou é o anti-Cristo que trabalha para o Diabo? Ou são como o Joker e o Enigma? São os dois vilões e, às vezes, juntam-se para derrotar o Batman.
Stewart: Pessoas como Sarah Palin, pessoas muito religiosas... Barack Obama, que também é muito religioso. Não acho que as crenças deles sejam muito diferentes em termos de religião. Conseguem separá-las?
Maher: Primeiro, não sei se Barack Obama é muito religioso. Claro que tem de dizer que é, porque é candidato à Presidência nos Estados Unidos da América, Portanto, tem de o dizer. Mas espero que esteja a mentir. Eu não tenho problema nenhum com quem é falsamente pio. McCain é outro que não é nada religioso. O meu problema são as pessoas que acreditam mesmo. Sarah Palin acredita mesmo. E pode estar a um passo da Presidência. É uma pessoa que... Até as pessoas estúpidas agora pensam: “Bolas, ela é mesmo estúpida.”
Vídeo legendado em português
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