domingo, outubro 19, 2008

Discriminando a parvoíce e a treta

Discriminação. Aí está uma palavra cujo significado tem sofrido algumas alterações ao longo dos anos. Ou talvez não. Fui ver. No dicionário online da língua portuguesa, no site da infopédia, a entrada da palavra discriminação tem uma primeira definição que diz: "acto ou efeito de discriminar; separação, destrinça". Até aqui, tudo bem. A segunda entrada também não espanta ninguém, definindo discriminação como "capacidade de estabelecer diferenças claramente; discernimento, distinção". Estas duas definições completam-se e, mais importante, não parecem atropelar-se nem moldar razões. Digamos só que não são definições carregadas com energias educacionais e de moldagem da moral colectiva.
A terceira definição tende para o discurso politicamente correcto: "acção de tratar pessoas ou grupos de pessoas de forma injusta ou desigual, com base em argumentos de sexo, raça, religião, etc.; segregação". Depois continua com definições de discriminação positiva e negativa, dentro desta terceira definição, como actos políticos e de engenharia social, ocultando o facto de que uma não existe sem a outra. Ou alguém acredita que é possível discriminar positivamente um grupo sem discriminar negativamente todos aqueles que não pertencem a esse grupo? Mas voltemos à discriminação propriamente dita, versão três.
Qualquer tipo de discriminação implica um tratamento diferenciado de um indivíduo, ou grupo de indivíduos, em relação a outro ou todos os outros. O acto de a minha mãe me chamar a mim e não a minha irmã, por exemplo, é discriminatório, e baseado em vários factores, muitas vezes incluindo sexo, tamanho, e/ou cadastro. Sendo assim, esta última entrada é redundante em relação às outras duas.
A única diferença, e era aí que eu queria chegar, é que se fazem julgamentos de valor. A injustiça da discriminação é moral, ou seja, cultural, e apresenta variabilidade. Se me disserem que estou errado por considerar a homossexualidade uma doença, por exemplo, e por isso me insultam (como já aconteceu), estão a discriminar-me. Se essa discriminação é injusta ou não, cabe a cada um decidir.
Quanto à palavra desigual, usada na definição de discriminação, é uma verdadeira treta. Qualquer discriminação conduz a desigualdade, negativa, positiva ou até mesmo neutra. Ou será que quando entro num bar e pago uma rodada aos meus amigos, não os estou a discriminar positivamente pela relação que tenho com eles, discriminando negativamente todos os outros presentes no bar? Estou a dar tratamento desigual...
A manipulação da linguagem é cada vez mais evidente para quem vai prestando atenção. As ideologias infiltram-se na nossa bela língua, manipulada por pessoas que só desejam ter razão, nem que para isso tenham que retirar as palavras à argumentação contrária. Vejam-se palavras como democracia ou liberdade... Que significaram noutros tempos, e que significam agora?

2 comentários:

Diogo disse...

Jon Stewart dirige-se a Paulson e a Bernanke: querem que vos demos quase um bilião de dólares para o entregarem a bancos falidos?

O secretário do Tesouro, , e o presidente da Reserva Federal, Ben Bernanke, foram ao Congresso americano pedir um empréstimo de 700 mil milhões de dólares. Jon Stewart, do Daily Show, faz o papel de avaliador de empréstimos, aproveitando as declarações dos distintos financistas:


Stewart: Com os mercados financeiro a transformar os gestores de fundos em criados de mesa, o casal mais poderoso da América, composto pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson, e o presidente da Reserva Federal, Ben Bernanke, foram esta semana ao Congresso de mão estendida, para aquele que foi com certeza, o pedido de empréstimo mais embaraçoso de sempre.

Então, meus senhores, Paulson, Bernanke, é um prazer vê-los aqui… novamente.

Paulson: Quero dizer-lhe que esta não é uma posição na qual eu queria estar. Eu não queria estar nesta posição…

Stewart: Descontraia-se, meu caro… sendo avaliador de empréstimos ouço isto todos os dias. Agora passemos a algumas formalidades. Como foi a sua carreira profissional?

Paulson: Fui director executivo da Goldman Sachs desde… Janei… Desde Maio de 1999 até sair, para vir para cá, em meados de 2006.

Bernanke: Nunca trabalhei em Wall Street, não tenho esses interesses nem essas ligações.

Stewart: Não estejam nervosos rapazes. Ambos são brancos, ambos são ricos, logo é claro que isto não é um daqueles empréstimos “sub-prime” com que nós tivemos de lidar. Muito bem, chega de conversa fiada, passemos aos números. Quanto é que estão a pedir?

Paulson: 700 mil milhões de dólares.

Stewart: 700 mil milhões? É que, segundo os meus registos, já cá esteve quatro vezes este ano, a pedir 25 mil milhões para a indústria automóvel, 85 mil milhões para uma companhia de seguros, 200 mil milhões para umas tais de Fannie e Freddie não-sei-quantas…

Paulson: É preciso mais.

Stewart: Pois, bem… Só de aceitares um cheque, ó careca. Aliás, um cheque careca. Um cheque sem cabelo… Digo cobertura… Só mais uma perguntas, minha gente, para quem é que vai esse dinheiro? Para o povo, calculo?

Paulson: Uma vasta gama de instituições… Bancos grandes, bancos pequenos, de depósitos e empréstimos, cooperativas de crédito…

Stewart: Porque é que não disse logo? Eles são de confiança, vão devolver-nos o dinheiro, certo? Barbudo (Bernanke), tens estado para aí calado.

Bernanke: Vai ser recuperada uma percentagem substancial, mas se será o total é difícil saber.

Stewart: É difícil saber… Interessante. Normalmente exijo uma resposta melhor, mas tendo em conta que foram vocês que nos meteram nesta crise, não terei o mesmo grau de exigência. Vamos ver se percebi bem: querem que vos demos quase um bilião de dólares para vocês os entregarem a bancos falidos, geridos por tipos que usam notas para acender os charutos e o melhor que me conseguem dizer é que talvez nos devolvam algum do nosso dinheiro?

Bernanke: Os contribuintes americanos verão o seu dinheiro bem empregue. Não consigo prever o futuro e já me enganei diversas vezes.

Stewart: Sabem que mais? Que se f… levem lá o dinheiro. Mais um empréstimo perdido? Tanto faz.


Vídeo legendado em português - 3:35m

Diogo disse...

Este é outro:

Jon Stewart entrevista Bill Maher. Este não poupa as religiões, incluindo e sobretudo o Cristianismo. A Sarah Palin também é vem à conversa

Jon Stewart, do Daily Show, traz-nos um momento de humor corrosivo que pode, a espaços, magoar os mais religiosos. Bill Maher com o seu novo documentário de comédia que se chama “Regilulous” [Religious + Ridiculous], coloca em causa tudo o que se relaciona com religião. Sarah Palin, possível vice-presidente dos EUA, é metida ao barulho e não pelas melhores razões.

Maher: Xenu trouxe-nos para aqui há 75 milhões de anos. Amontoou-nos à volta de vulcões e fê-los explodir com uma bomba nuclear. Estas são as doutrinas da Cientologia... Somos mais antigos do que o Universo. A Confederação Galáctica durou 80 triliões de anos. Têm de se livrar do implante, dos ditadores extraterrestres! Estes implantes são almas maléficas, chamadas Thetans.

Maher: Sim, acho que neste momento há duas Américas. Há um país progressista, europeu, no qual muitos de nós vivemos ou gostávamos de viver, que está a ser estrangulado pelas Sarah Palin do mundo, e que não pode nascer porque este outro país, parolo e estúpido, não permite. Não quero ser bruto, mas...

Maher: 60% dos americanos acreditam literalmente na história da Arca de Noé. Acreditam que aquilo é literalmente verdade.

Maher: A questão é que nós nos rimos disto porque a Cientologia é uma nova religião. Mas não é tão ou mais disparatado ou estranho do que o Cristianismo, lamento dizê-lo. Simplesmente estamos habituados a essa religião. Mas se, hoje, alguém viesse ter contigo e te contasse a história que nunca tinhas ouvido. Se te dissesse: “Deus teve um filho. Era um pai solteiro. E disse ao filho: ‘Jesus, vou mandar-te para a Terra numa missão suicida, mas não te preocupes, não podem matar-te porque, na verdade, tu és eu. Mas vai doer um bocado, não vou mentir-te. Vais odiar-me, mas é o melhor para ti, filho. Para mim! É o melhor para mim! Eu sou tu e tu é eu.

Maher: O plano é o seguinte, filho: eu, Deus, o Pai, vou à Terra primeiro. Dividimos o trabalho porque somos dois. Na verdade, não! E vou ver se arranjo uma mulher palestiniana para engravidar. Para que ela possa dar-te à luz. A mim, quero eu dizer! É a coisa mais disparatada que alguma vez se ouviu!

Maher: Eu limito-me a fazer perguntas. Por exemplo, o que é que a fé tem de bom? Porque é que Deus simplesmente não derrota o Diabo? O próprio Diabo… Perguntei a muita gente, por exemplo, qual é a diferença entre o Diabo e o Anti-Cristo? Sabes?

Stewart: Tem com certeza algo que ver com o Judaísmo e de certeza que fomos responsáveis por alguma coisa. Mas não sei a diferença exacta. Ninguém sabe.

Maher: Foi o que nós descobrimos. As pessoas religiosas sabem muito pouco sobre religião. Eu não sabia. Perguntava: “O Diabo e o Anti-Cristo são o mesmo?” Todos disseram que não. E eu perguntei se o Diabo trabalhava para o Anti-Cristo. Ou é o anti-Cristo que trabalha para o Diabo? Ou são como o Joker e o Enigma? São os dois vilões e, às vezes, juntam-se para derrotar o Batman.

Stewart: Pessoas como Sarah Palin, pessoas muito religiosas... Barack Obama, que também é muito religioso. Não acho que as crenças deles sejam muito diferentes em termos de religião. Conseguem separá-las?

Maher: Primeiro, não sei se Barack Obama é muito religioso. Claro que tem de dizer que é, porque é candidato à Presidência nos Estados Unidos da América, Portanto, tem de o dizer. Mas espero que esteja a mentir. Eu não tenho problema nenhum com quem é falsamente pio. McCain é outro que não é nada religioso. O meu problema são as pessoas que acreditam mesmo. Sarah Palin acredita mesmo. E pode estar a um passo da Presidência. É uma pessoa que... Até as pessoas estúpidas agora pensam: “Bolas, ela é mesmo estúpida.”


Vídeo legendado em português