terça-feira, agosto 29, 2006

Definições

Num comentário ao post "Epidemia das listas", o amigo Abtúrsio acusa-me de gozar ou "ridicularizar certas políticas sociais".
Antes de mais devo dizer que sei que este meu amigo (grande, no tamanho e na amizade) confunde o conceito de política social com política de pendor socialista. Penso que isso é errado, pois "política social" é uma expressão de difícil definição, se não verdadeiramente indefinivel. Quando muito, definir-se-á como um conjunto de medidas que visam proteger a igualdade na dignidade entre os cidadãos (será isto?).
Eu defendo que este objectivo fica estropiado com leis que visam limitar o usufruto do trabalho de quem essas leis consideram que ganha demasiado. Há uma desigualdade de tratamento entre quem ganha muito e quem ganha pouco, prejudicando quem ganha muito pelo simples facto de ser bem pago (falo de leis e não de favorecimentos ilegais, porque as leis não existem para contrabalançar actos ilegais). Eu defendo, porque é a minha opinião.
A minha intenção não foi ricularizar, mas mostrar o ridículo. Como é possível ridicularizar aquilo que eu já considero ridículo? Seria como querer pegar fogo a um tronco em chamas.

O meu queixo... onde está?!

Eles admitem ter cometido erros. E eu admito poder não estar assim tão certo nas certezas que a minha razão vai produzindo acerca deles.
É uma abertura, vamos lá.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Epidemia das listas

A nossa lista de devedores ao fisco cá da terra parece ter inspirado, qual Mona Lisa lá do sítio, uma organizada comunidade marginal venezuelana, cuja actividade é ameaçar a vida de um ou outro prevaricador com mais dinheiro que a maioria, contra a oportunidade de equilibrar as suas dívidas morais para com os operários de tão nobre comunidade. Estes senhores, que vivem na terra do mel e ambrósia de Chavez, resolveram publicar via internet uma lista de capitalistas sequestráveis.
Muitos desses cães que merecem ser vítimas de tão nobre acto, são portugueses, madeirenses na sua maioria, que foram para o paraíso avermelhado do aprendiz de Castro com o claro intuito de explorar a ingénua população nativa. Por estas e por outras é que os sequestros por aquelas bandas parecem ser ignorados pela autoridade.
Morte aos capitalistas! Morte a quem tem mais do que eu: roubou, explorou e extorquiu de certeza!

As bulas que não bulem

"Doentes crónicos deixam terapêutica por não entender «bulas»".

O nível de educação dos Portugueses vê-se por aí. Nem se dão ao trabalho de perceber uma bula, nem de ir ter com o médico ou farmacêutico para que estes lhe expliquem a bula, ou melhor, como a entender. Tenho até um amigo farmacêutico que, decerto agastado com as dúvidas que lhe chegam ao balcão, que chega ao ridículo de defender a abolição da bula.

Claro que a bula de difícil compreensão, ou a sua abolição, servem para aumentar a dependência da populaça ao farmacêutico e ao médico, mas nem vou por aí...

quarta-feira, agosto 23, 2006

Dúvidas e mais dúvidas...

Tenho uma pergunta... Talvez se deva a alguma ignorância da minha parte, mas não deixa de ser com uma pergunta que as dúvidas e ignorâncias se apagam.
É justo cobrar-se por algo que o estado nos obriga a fazer? Ou seja: qual é a legitimidade das Ordens para cobrar mensalidades aos seus membros, quando estes não têm hipóteses de exercer a profissão para a qual estudaram (e pagaram propinas e coimas e tudo o resto) a não ser que nelas estejam inscritos?
A minha questão não está no pagamento das quotas da Ordens, mas na obrigatoriedade da inscrição. Admito a utilidade das Ordens, oferecendo aos compradores dos serviços dos seus associados uma garantia de qualidade (que em muitos casos nem é justificada, mas isso é outra conversa), mas se um médico resolver exercer fora da Ordem comete um crime! Não será que devia ser o cliente a decidir se vai ao médico certificado pela Ordem ou não?
Assim assistimos ao ridículo de ver o licenciado em medicina que exerça a actividade para que foi treinado, sem se inscrever na Ordem, a ser classificado de bruxo e acusado de actos médicos ilegais.

terça-feira, agosto 22, 2006

De volta ao ninho

Estou de volta. Cheguei ontem ao fim da noite à cidade do Funchal, vindo do Porto Santo de ferry.
Devo dizer que foram quinze dias muito originais, onde vi algumas anedotas reais. Não estou a falar de elefentes cor-de-rosa nem de visão dupla. Refiro-me a alguns comportamentos de membros da nossa sociedade.
Desde um Patrol da PSP a servir de transporte de passageiros para o ferry, até um carro do aeroporto a ser usado para sair à noite, viu-se de tudo um pouco. Até vi excursões sub-catorze de visita, às quatro e cinco da madrugada, aos locais de diversão nocturna daquela ilha (usei o plural por querer evitar falar na vergonha "lobbyista" que impede que qualquer estabelecimento que não se situe no Penedo do Sono esteja aberto depois das duas da madrugada...). E quando digo excursão, não é por querer estilizar a linguagem, mas porque estes grupos iam realmente acompanhados de uma ou duas mamãs, que faziam a parte de adulto responsável. Cheguei a ver uma família a abanar o capacete ao som de uma daquelas músicas electrónicas que me fazem fugir da vizinhança. Pai, mãe, filha de não mais que treze anos e filho mais novo, sacudiam os braços com a contenção devida, e tentavam sacudir as nádegas ao ritmo do artista sintético. Espetáculo macabro.
É tudo uma questão de juízo... E sobre isso, não posso falar muito.

domingo, agosto 06, 2006

Férias

Depois de um fim-de-semana afastado de um computador, sob a desculpa de ir ver o Rally Vinho Madeira, preparo-me agora para continuar afastado da civilização dos blogues. Embarco amanhã, antes das oito da matina, no Lobo Marinho, o ferry que me levará à vizinha Ilha do Porto Santo.
Vou gozar da melhor praia de areia do país, entre um ou outro copo e de noites que começam em churrascada. A não ser que a saudade, ou a vontade de mandar uns bitaites, me apanhem e me façam procurar um cyber-café ou algo no género, estarei de férias do meu Strix.
Certo que a ausência não será dolorosa, e de que me fará bem não pensar em mais nada senão praia, carne chisnada, e cerveja, prometo\ameaço voltar dentro de duas semanas.

quarta-feira, agosto 02, 2006

É comprido, eu sei

O texto abaixo descrito é comprido, mas é um alívio deitar fora a ansiedade que se apoderava de mim. Aqueles que se consideram meus amigos, lê-lo-ão de fio a pavio. Os outros, curiosos ou não, façam o que bem entenderem.

Mudança

Depois de tanto insinuar mudanças e defender a vocação, decidi confessar-me, finalmente.
Desde muito novo que adoro animais, que gozo da sua companhia, por vezes mais do que a de outros da minha espécie. Em casa da minha avó paterna, na Madeira, onde vivi desde os quatro anos de idade até os onze ou doze, passei dias entre uma matilha que chegou a atingir os dez cães, e convivi sempre com outros animais que viviam pela fazenda. Em Beiriz, Póvoa de Varzim, onde também tenho família, cheguei a passar uma tarde inteira com uma galinha ao colo por pena do susto que lhe pregaram com uma mangueirada que a molhou por inteiro. Não a larguei enquanto não estava seca, aquecendo-a contra o meu peito. Sempre me senti intrigado pelo comportamento dos animais, Homo sapiens incluído, e sempre tirei prazer em observá-los. Vi, sentado ao lado do meu pai, quase todos os documentários da vida selvagem que havia para ver na televisão da altura, até aparecer o filão dos documentários com o aparecimento da televisão por cabo (que no Funchal apareceu por volta de 1990/91, se não me engano, tornando-a a primeira cidade do país com este tipo de serviço), que também fui devorando.
Não é de admirar, portanto, chegada a altura de escolher uma área de estudo, do oitavo para o nono ano, que tivesse escolhido a área da saúde, com mais biologia no currículo. Devo confessar que, pelo que sempre esperaram de mim, pois o meu pai é médico, e pela facilidade com que passava de ano, mesmo praticando um desporto intenso como a canoagem (duas a quatro horas por dia, seis dias por semana), poucas outras hipóteses me restavam senão seguir o caminho da medicina. Mas as notas baixaram e o alívio subiu, devo confessar, quando acabei por escolher a biologia e o estudo dos animais como objectivo académico.
É preciso dizer, por esta altura, que tinha outros gostos muito fortes e que se manifestavam com alguma facilidade. Nas línguas divertia-me a imitar as diferentes pronúncias que ouvia na televisão ou no cinema, e absorvia vocabulário com facilidade. A História fazia-me sentir importante, especialmente quando a professora me perguntava algo, e eu respondia além do necessário. Era como contar contos de outros tempos. E nas aulas de português, quebrava a cabeça com as gramáticas, e não passava de uma aluno mediano (ainda hoje tenho dificuldade em explicar porque é que se usa esta ou aquela palavra, à luz das regras da gramática), mas quando me pediam para escrever um texto, as amarras soltavam-se e as notas gramaticais eram compensadas pelo prazer e a liberdade.
Escrevo desde que aprendi a fazê-lo. O meu primeiro texto criativo, independente das aulas, foi escrito aos sete anos, para dar letra a uma simples música de guitarra clássica que aprendi a tocar no conservatório. Entretanto vi um texto meu ser publicado num jornal madeirense, pela comemoração do dia da árvore, e ganhei um concurso escolar de poesia, lá pelos treze anos.
Enquanto escorria a minha biologia (e a dos outros, porque as botânicas mais específicas, as microbiologias e biologias moleculares nunca me entraram no goto), fui sempre escrevendo. A princípio escondido, depois de algum tempo assumido, entre o Caderno Literário com que colaborei durante a minha passagem pelo ICBAS, e nas letras que escrevi para uma das tunas em que me meti, os “poemas de engate”, e o simples prazer de contar histórias. A certa altura estava decidido a acabar o curso de Biologia (o terceiro em que me metia, sem acabar nenhum dos anteriores), e conciliar as minhas duas paixões.
Oito anos passei no curso de biologia da FCUP, e é agora um martírio olhar para as sebentas de Fisiologia Vegetal, ou outras cadeiras do género. Desanimado, e convencido de que precisava de mais uma mudança, o meu paciente pai desafiou-me a acabar o curso no Reino Unido (o que aliás, fez logo no início, verdade seja dita, mas tive medo). Facilidade com a língua e um curso mais específico, sem as cadeiras que me provocam cegueira temporária, eram os argumentos. Agarrei a hipótese com unhas e dentes, e tomei a internet e o British Council de assalto.
Mas, durante o processo de procura, encontrei um curso, do tipo a que lá chamam de joint-honours, em que se estudam dois assuntos no mesmo curso, de biologia e escrita criativa. Fiquei excitado e falei com o meu “paitrocinador”, e pus-me a pensar com forte convicção naquela hipótese. Entre vários cursos que a partir daí descobri e analisei, candidatei-me a seis, fui aceite em quatro e retirei a candidatura aos outros dois, pois entre aqueles quatro estava já a minha primeira escolha.
Vou mudar a minha vida. Vou para o País de Gales, para esta Universidade, e aprender qualquer coisa, que sinto que me falta, com este curso. Se a escolha foi certa ou não, só o futuro me pode responder.
E esta, hein?

terça-feira, agosto 01, 2006

Introdução à delinquência

Fui hoje à praia. Na Ilha da Madeira, dizemos que vamos ao banho, já que as praias não abundam por aqui. Normalmente vou ao Clube Naval do Funchal (CNF), que representei como atleta federado de canoagem, e que frequento desde que me lembro, já que o meu pai é sócio, como o pai dele era sócio (um dos primeiros). Hoje em dia também eu sou sócio. A Quinta Calaça (complexo balnear do CNF), tem uma pequena extenção de calhau, a que alguns ainda se atrevem a chamar de praia, e que só serve para meia dúzia de regilas pré-pubescentes se divertirem com a inconstância das ondas, entre dois maciços de rocha, cimento (a parte mais antiga) e betão (nos acrescentos mais modernos). Para entrar na água temos que descer por escadas verticais ou, como eu, mergulhando directamente lá de cima. Não há pé a não ser no calhau, por isso não tenho escolha senão nadar. (Descobri estas duas fotos do CNF, um pouco insuficientes, mas...: esta, em que se vêem os dois maciços a que chamamos inadequadamente de cais; e esta, mais próxima, mas um pouco menos eucidativa, talvez, publicada no blogue Madeira). Introduzido o local, contar-vos-ei, agora, o meu dilema.
Ao chegar ao Clube, por mero acaso, olhei para o mastro que suporta as bandeiras do País, da Região e do CNF. Pequenina, encolhida por baixo da bandeira azul escura do Clube, esforçava-se por avisar os incautos uma bandeira amarela. Lembrando-me das multas, fiquei imediatamente apreensivo, pois teria que reavaliar o meu recreio, já que o esvoaçar do paninho amarelo me advertia para não nadar. Ir para a água, só com os pés no chão! A angústia aumentou quando olhei para o cais nascente (mais pequeno, e com menos actualizações), onde prefiro espreguiçar-me com vagar, e vi que o pequeno mastro atribuído àquele pedaço da Quinta Calaça não só sacudia outro bandeira amarela, como a completava em xadrez preto e branco. Ali o nadador-salvador não estava presente.
Revi, contrariado mas pensando em cumprir a lei, por mais que discorde dela, as minhas opções. Há uma piscina, cheia de barulhentas e irrequietas crianças que se advogam no direito de não sair de lá quando querem aliviar a bexiga, e alguns outros utentes que, por razões de idade ou azelhice, evitam até o mar de pano verde. Considerando esta solução muito desconfortável e algo claustrofóbica, olhei para a praia de calhau. As ondas, mais potentes que altas e barulhentas, arredondavam ainda mais os calhaus, rebolando-os uns contra os outros. Pareceu-me maior a probabilidade de ali me magoar num pé, ou até que um desiquilíbrio provocado por uma onda mais forte me rachar a cabeça, do que a de algum mal me acontecer no mar mais livre.
Torturado pela luta entre meu desejo em cumprir a lei, e a minha necessidade de me sentir mais seguro e confortável, angustiei aí uns três segundos, antes de tirar a roupa supérflua para um banho de mar (fiquei de calções, porque não gosto muito de mostrar o meu traseiro branco), e dirigir-me ao meu habitual poleiro de saltos para a água.
Nadei, num calmo percurso de ida e volta entre os dois cais, durante cerca de vinte minutos, assombrado pelo medo terrível de ser zelosamente importunado pelo nadador-salvador que ainda se mantinha no cais maior, ou de que estivessem à minha espera, de botas firmemente plantadas à beira de escada, os representantes da autoridade do Estado. Só não tive medo do mar, que nada mais fez que me manter à tona, e abrir-se às minhas braçadas, proporcionando-me momentos de saudável lazer.
Não me afoguei, nem fui protegido pelo Estado. Obrigado, fortuna.