sexta-feira, outubro 12, 2012

Simplificando o que já é simples, mas há quem se recuse a ver.

Numa certa comunidade existem muitas árvores de fruto sem dono. Os frutos, portanto, são de quem as apanhar. Um dia um membro dessa comunidade caiu e lesionou-se em ambas as mãos. As árvores estavam carregadas, pelo que era altura de apanhar a fruta, mas aquele indivíduo não podia. Por decisão unânime, e porque aquela era uma comunidade de grande sentido de entre-ajuda, todos decidiram contribuir com dois dos frutos que apanhassem para entregar ao seu vizinho que estava impossibilitado de competir com eles na colheita. Escolheram um outro membro da comunidade para fazer a recolha. Este membro da comunidade, por ter essa função, também ficaria sem poder participar na apanha, pelo que teria direito a dez frutos da cesta da colecta.
Apanhados os frutos, feita a colheita, o indivíduo responsável pela recolha do cesto solidário retirou as dez peças de fruta a que tinha direito. Como não tinha sido isentado da contribuição (nem aceitaria tal coisa!) fez regressar dois desses frutos ao cesto da colecta. No fundo, em vez de tirar dez, tirou oito.
Agora... não tirando mérito nenhum ao trabalho deste indivíduo, devidamente recompensado com os oito frutos (se é justo ou não, cabe-lhe a ele decidir, uma vez que concordou com o negócio), é possível dizer que esta pessoa contribuiu, efectivamente, para o aumento do número de frutos no cesto?

Agora digam-me lá como é que o funcionário público paga impostos. (E não é melhor ou pior pessoa por isso!)

segunda-feira, outubro 08, 2012

Cortar no monstro

Isto de entrar na função pública uma pessoa por cada quatro (ou lá quantas são) que saem diminui, realmente, o volume salarial da dita, mas só na medida em que aumenta o volume das pensões dos reformados. A diferença entre as duas despesas são migalhas, tendo em conta o buraco em que o estado que tudo providencia nos meteu. No fundo, os efeitos são diminutos e vão demorar muito tempo a fazer-se sentir com maior volume.
A solução — eu sei que dói — é fazer deslocar grande parte dos funcionários públicos para o privado. O auto-emprego na prestação de serviços, por exemplo, pode ser estimulado com a isenção do IVA para os recibos verdes.
Agora... paninhos quentes e demagogia só servem para aumentar a dívida pública.

sábado, outubro 06, 2012

Patriotismo de conveniência

Era uma vez um pano. Esse pano tinha umas cores e tal e alguém disse que representava Portugal. Sendo Portugal, como qualquer estado, um conceito arbitrário, o facto de ter um pano — uma bandeira, vá — a representá-lo não aquece nem arrefece. Os clubes de futebol também têm símbolos representativos da mesma espécie, e não vem mal nenhum ao mundo por causa disso. Agora, quando o hastear dessa bandeira de pernas para o ar suscita enervados e violentos protestos contra quem a hasteia — e não contra o responsável por a colocar na guia —, meus amigos, atingimos uma barreira do ridículo.
Entendo que, por parte dos militares, que tiveram treinos de condicionamento em volta daquela bandeira, possa existir alguma reacção de repugna, desgosto, ou até de raiva (cuidado, todos os patrioteiros de Portugal que colocam bandeiras do avesso à varanda). Por parte de quem nunca passou por esses treinos de condicionamento, é incompreensível a reacção. Chega a ser ridículo. Só pode ser explicado de duas formas: ou, como cães com um ódio de estimação, estavam à espreita de uma desculpa para dizer atacar o alvo do seu ódio, mesmo que o fundamento lógico seja um patriotismo oco de razão de ser; ou estão realmente imbuídos de um patriotismo oco que os convence de que aquele pedaço de pano tem alguma importância real da vida deles.