quinta-feira, março 01, 2012

Um pulha

Pepe Reina, guarda-redes do Liverpool e companheiro de aquecimento de Iker Casillas na selecção espanhola, é acusado de racismo (pelos ingleses, quem mais?) por participar num spot publicitário de uma seguradora espanhola, onde Reina visita uma tribo sabe-se de proveniência dúbia, quase todos de fenótipo  sub-sahariano, em que não percebe o que é dito e o tradutor se escusa a traduzir enquanto faz uma careta esquisita. Logo de seguida, enquanto lhe colocam uma coroa de flores na cabeça, é empurrado por uma tribo em festa tribo na direcção do rei, de fenótipo caucasiano escurecido à pincelada cosmética e de intenções suspeitas, enquanto Reina declara (com um pequeno toque musical) sentir-se seguro. Não vejo nada de mal nisto.
Entretanto, vendo esta série de filmes publicitários completa, deduzo que os súbditos de Elisabeth II — e outros quantos concordem com eles — achem que Pepe Reina tem algo contra montes de músculo de sobrancelhas espessas que possuem motociclos, ou contra pessoas que saltam de um avião, em tandem com ele, sem experiência de salto e voz de falsete, ou contra condutores de autocarro com acentuada deficiência visual que põem a mãe, com igual deficiência, a conduzir o autocarro em que seguimos para lhe pedir um autógrafo.
O homem não tem correcção política nenhuma, pelos vistos. Um verdadeiro pulha.

... que pariu! (Mas em cooperativa!)

Ora aqui está uma notícia que me fez pensar um pouco. Pessoalmente, diz-me pouco — não sou nem alguma vez fui cliente de qualquer meretriz, com ou sem relações públicas/segurança/violentador. Nada tenho contra a prostituição, tal como nada tenho contra, por exemplo, colonoscopias. Simplesmente nunca adquiri nenhum dos serviços, e espero nunca vir a sentir necessidade de o fazer. Já contra o empresário multifacetado que faz uso de qualquer tipo de violência para manter a funcionária na linha, tenho muito contra. Dá-me asco, confesso.
Mas heis que, o presidente do município lisboeta, influenciado pelas caridosas noivas de Cristo, pretende recolher as outras senhoras, aquelas que alugam os seus carinhos a quem se dispõe a pagá-los, debaixo da asa da burocracia.
Em vez de legalizar, por completo, um negócio cujo único desfavor é de índole moral (algo que é privado e diferente de indivíduo para indivíduo), levando a que os bordéis — isso de safe house, além de um estrangeirismo desnecessário, é estritamente estético — pudessem surgir naturalmente, quer pela mão de um ou outros empresário multifacetado (e que assim ficariam sujeitos à mesma relação laboral de, digamos, um empresário da restauração com os seus empregados, e que não inclui a sova), quer pela mão de um qualquer grupo de prostitutas que se quotizem numa cooperativa, ou se promovam a madames. Mas não. O presidente da Câmara pretende, em vez disso, obrigar as profissionais à cooperativa e ao controlo burocrático. Talvez ganhe votos da parte de algumas almas mais filantrópicas, das meninas que exercem tão antiga profissão, ou de alguns dos seus clientes menos tímidos e menos propensos à efectivação do acto ao relento ou na apertada viatura. Perde, de certeza, os votos dos empresários do ramo, digo eu.
Talvez se a fome de poder sobre as decisões dos indivíduos não fosse tão grande, a ideia passasse, antes do resto, pela despenalização total. A moral e a ostracização social fica à responsabilidade de cada um.