sexta-feira, novembro 09, 2012

Deixem a Isabel Jonet em paz...

Vivi três anos como estudante no País de Gales, Reino Unido. Como a propina, por lá, não é uma mera formalidade, e ainda tinha que ter um tecto sobre a cabeça (faz muito frio por lá), sobrava pouco dinheiro para o resto. Mas não passei fome. Não comi como estava a habituado, mas não passei fome.
Por causa da, na altura, ainda recente crise das doença das vacas loucas, a carne de vaca estava muito cara por aquelas bandas — comia uma ou duas vezes a cada três meses. A carne de porco também saía cara, mas era mais comportável, o que permitia que a comesse uma ou duas vezes por semana, se excluirmos os baratos bifes de fiambre ou as fatias de bacon. As minhas fontes regulares de proteína animal eram, portanto, salsichas, ovos, fiambre e bacon. Nada a ver com a quantidade de bifes e bifinhos que eu comia em Portugal. Mas não morri.
As saídas à noite eram sempre de baixo custo — ia ao pub, frequentava a discoteca da Student Union, e só muito de vez em quando ia esbanjar dinheiro na noite de Cardiff, fora da cena estudantil (uma vez a cada dois meses, se tanto).
Adoro cinema, e de ir ao cinema, e não quis prescindir dessa minha mania. Mas não me atirei de cabeça às salas de cinema, mesmo com o desconto que a minha condição de estudante me conferia; informei-me. Descobri um cinema, de quinze salas, em que se podia fazer um cartão de fidelização que, pelo valor mensal equivalente a pouco mais que quatro bilhetes normais, podia assistir aos filmes que bem entendesse, sem qualquer restrição. E lá fui eu ao cinema umas duas vezes por semana, por vezes ver dois filmes de seguida (uma ou outra vez, tendo mais tempo e pachorra, vi três de seguida), gastando apenas o preço de quarenta minutos de comboio, ida e volta, pouco menos de quatro libras (já agora, para quem possa pensar que estava a perder muito tempo de estudo, para o curso que lá tirei, ir ao cinema é benéfico — era aconselhado pelos professores, até).
Até na roupa poupava ao máximo; quando precisava de alguma peça, ia a Cardiff, à Primark (hoje já existe em Portugal) comprar packs de três a cinco T-shirts, por exemplo, a seis ou dez libras.

Agora que estou de volta a Portugal, e me vejo mais uma vez apertado de finanças, muito deste comportamento austero a que me habituei, quando em Gales, me tem dado muito jeito. Muitos dos meus amigos têm feito esforços iguais, se não maiores. E queixam-se, tal como eu me queixo, mas a verdade é que há muito onde cortar nas nossas vidas do dia-a-dia. Podia dar-vos mais exemplos de pequenos cortes que fiz e tenho feito, mas não quero maçar ninguém além do que já fiz.

Nestes tempos difíceis, em que toda a gente sofre (não pensem que, por exemplo, uma pessoa habituada jogar golfe todos os dias e ter que jogar apenas uma vez por semana não sofre com isso — é tudo muito relativo), insultar quem oferece a sua opinião e conselhos válidos (segue-os quem quer — quem não quer, ao menos não chateie), não é nem boa ideia, nem inteligente.

quinta-feira, novembro 08, 2012

O bife do vizinho não é meu

Dizia Margaret Thatcher que o problema do socialismo é que eventualmente o dinheiro dos outros acaba. Hoje vemos isso confirmado.
Depois de devorar o dinheiro daqueles que, em Portugal, efectivamente pagam impostos (há aqueles a quem é dito que pagam impostos, mas apenas se limitam a devolver, ou a deixar lá ficar, o valor dos impostos nos cofres do estado — não quer isto dizer que não criem algum valor; outra discussão), eis que o socialismo português se advoga, agora, no direito de subtrair a contribuintes estrangeiros.
Escrevem-se cartas abertas a Merkl, que pelos vistos é culpada de não abrir o bolso do contribuinte alemão, à força, para pagar a má gestão portuguesa, a fazer a senhora sentir-se mal. Uma senhora que viveu na RDA e muito provavelmente sabe o que é viver com menos do que o português que hoje se queixa.
Não acho que o português não tenha razão para se queixar; tem. Mas antes de apontar o dedo aos outros, tem que fazer um exame de consciência, olhar-se ao espelho, e pensar em tudo aquilo que exige ao estado, logo, ao bolso de terceiros.
Se eu não tenho dinheiro para comer um bife, como uma fatia de fiambre; não vou ao bolso do meu vizinho buscar dinheiro para o bife, nem peço ao estado que o faça por mim.