sexta-feira, agosto 29, 2008

Engolir o sapo

Zuerst die Fuesse de Martin Kippenberger

Este é o sapo da discórdia. Anda a causar alvoroço nas cabeças do Vaticano e até já houve quem fizesse greve de fome para isto não fosse posto em exibição.
Quer o Vaticano que esta peça seja escondida do olho público por ser ofensiva ao olho Cristão, apesar de só representarem o olho Católico. Fazem lembrar os Ayatolas com as caricaturas de Maomet...
Mas o Papa deve saber que, segundo a Bíblia, Deus deu ao Homem a liberdade para pecar. Segundo o mesmo livro, Deus mandou Cristo lembrar aos homens de que cada um deles é livre de pecar ou não dentro da sua consciência. Sendo assim, os paramentados senhores do Vaticano deviam ser os primeiros a dizer que, apesar de não acharem piada nenhuma ao grotesco príncipe-sapo crucificado, cabe ao indivíduo a decisão de ver, ou não, o alvo da crítica.
Critiquem. Boicotem. Insultem, até, o autor e o expositor apesar de não ser uma atitude muito Cristã, mas não me tirem a oportunidade de avaliar por mim até que ponto este objecto me ofende.
Digo já que, como Católico, não me ofende minimamente. Como alguém que gosta de algum humor rebelde, atribuo um sorrisito maroto à peça. Acho é que podia estar um bocadinho mais bem feito. É um bonequito feio: o ovo está suspenso na mão do sapo por artes mágicas? Um sapo tem dentes de vampiro? E era preciso os olhos assim tão assimétricos? Mas esta é a minha opinião e partilho-a convosco. Mas não a quero impor.
Acho que os senhores do Vaticano faziam melhor se engolissem o sapo.

quarta-feira, agosto 27, 2008

Minority Report

Quem concorda que se multem ou prendam pessoas apenas porque podiam ter magoado alguém por conduzir um carro depois de uns copos, deve viver na esperança de que um dia se possam prever os homicídios e prender o futuro homicida, antes sequer de passar pela cabeça deste cometer o crime.
Culpado à partida.

Outros o escreveram

No A Arte da Fuga, pela mão do AA:

Neste país pacato e desarmado

É proibido, neste nosso país pacato, andar armado sem passar pelo rigoroso escrutínio dos burocratas que decerto nos lêem na face as intenções. Eles decidem se eu sou uma pessoa a quem se pode permitir possuir uma arma, e mesmo assim não posso possuir qualquer uma. Tem que ser uma arma mais modesta, que não faça muitos estragos. E demora muito tempo a autorização pelo técnico burocrata que tudo sabe.
Isto tudo para que eu, cidadão cumpridor da lei que nunca comprará uma arma no mercado negro, não desate por aí a assaltar bancos, balcões dos CTT, transportes de valores ou bombas de gasolina. Tudo para que eu, cidadão que se submeterá ao castigo da burocracia se quiser comprar uma arma, não use uma arma automática para ameaçar, ferir ou matar os outros cidadãos cumpridores.
Podemos estar seguros, portanto, que neste país de brandos costumes, nenhum cidadão cumpridor da lei terá uma arma sem que o omnisciente estado o saiba, e não poderá por isso usá-la para fins mais mal-intencionados.
É por isso que vivemos num país onde não há assaltos à mão armada, nem se abrem noticiários com tiroteios e reféns de arma apontada à cabeça. Graças ao estado.

segunda-feira, agosto 25, 2008

Amizades

Amigos há muitos e de muitos tipos. Os conhecidos e amigos para a farra, por exemplo, têm o seu valor e serventia, e não é raro saírem desta classe algumas amizades mais próximas. Mas para considerar alguém nesta categoria não é comum exigir-se muito. Basta que se ambos se divirtam na companhia um do outro e dois indivíduos podem considerar-se amigos com alguma segurança.
Mas existem níveis de amizade de natureza mais íntima. Existem aqueles amigos com quem partilhamos histórias um pouco mais coloridas, ou aqueles por quem não nos importamos de suportar um ou outro fardo ocasional. Mas ainda há outro tipo de amigos.
Estes são aqueles de quem podemos esperar, com segurança, que vão estar do nosso lado mesmo quando nós não pedimos ajuda. Esta classe de amigos é muito mais restrita, como seria de esperar, e por vezes vêm em nosso auxílio mesmo quando os afastamos, limitando-se a estar presentes, caso precisemos. E sabe sempre bem saber que há alguém ali ao lado, pronto para o abraço de que tantas vezes precisamos. Sem necessidade de palavras.
Quando caí, por opção alheia, no abismo de que agora me evado, muitos foram os amigos que se revelaram. Alguns sem novidade, sem dúvidas. Posso até dizer que já contava com eles. Mas houve também aqueles que se revelaram.
A todos eles, muito obrigado.
Por todos eles, vou sorrir um pouquinho mais.

sexta-feira, agosto 22, 2008

O segredo

Existe um segredo para evitar que a rejeição nos deite abaixo. Todos temos uma imagem exagerada da importância que temos para os outros. Isso faz com que um acto de rejeição por parte de outrém em relação a nós tenha o efeito de demolir a nossa confiança. Se o nosso ego está construído à volta daquilo que pensamos que é a nossa imagem perante os outros, quando estes nos dizem "não és assim tão importante" a imagem que temos de nós próprios cai como uma torre de palitos colados com cuspe.
Por isso o segredo é construir o nosso ego a partir de nós mesmos, tendo sempre em conta que aquilo que nos faz especiais aos nossos olhos pode não ser assim tão especial aos olhos dos outros.
É preciso ter em conta, sempre, que aqueles que agora nos acarinham e nos prometem futuros podem, daqui a cinco minutos, já não ter interesse nenhum na nossa vida. É por isso que temos que ser nós a ter interesse na nossa vida e nunca a oferecer ou fazer depender de outros. Podemos sugerir, simplesmente, que caminhem connosco, partilhando alguns dos fardos com que a vida nos carrega.

Rir com os putos

Ontem fui jantar a casa de um casal amigo. Não fui só eu, mas fui o único solteiro à mesa se excluirmos as três crianças que chegaram empurrados pelos respectivos progenitores. Um dos miúdos tem cerca de dois meses ainda, mas os outros dois têm cerca de dois anos.
O ponto alto da tertúlia culinária foi quando consegui distrair o mais irrequieto dos putos com uma aulinha de dança que ainda durou uns bons dez minutos. A criança imitava tudo o que eu fazia de sorriso sonoro e rasgado. Fiz de palhaço, e senti-me bem.

quinta-feira, agosto 21, 2008

E não deixam ninguém em paz!

Os brilhantes e bem-intencionados técnicos da vida alheia, ocupantes omnipotentes dos cargos estatais, decidiram abusar um pouquinho mais com as actividades económicas de indivíduos que andavam por aí sem Deus nem roque.
Regulam, então, esses senhores, que os estabelecimentos de diversão nocturna de mais de cem metros quadrados serão agora obrigados a contratar um segurança, num claro esforço de diminuir o desemprego entre os membros das máfias que pululam a vida nocturna pelo país fora. É de louvar a intenção.
Também regulam, esses génios do bem-comum, que tais estabelecimentos serão obrigados a ter uma câmera à entrada, para que se possa tirar o retrato a todos quantos lá entrem. Aposto que no fim da noite poderemos, todos os que o desejarem, podem ir ao bengaleiro buscar uma cópia da nossa fuça aquando da entrada, em troca de uns cinco euros.
Mas falham, esses beneméritos em causa alheia, ao não irem um pouquito mais longe. Podiam, por exemplo, regular a indumentária admissível por parte da clientela. Se não, vejamos: Numa casa onde a luz negra seja uma das fontes luminosas mais marcantes, deve ser barrada a entrada ao cliente "pé-de-gesso", sob risco de ferir a retina à restante clientela.
Também devia ser barrada a entrada a jovens que usem a cintura das calças abaixo do topo das nádegas, mostrando a lingerie masculina, num claro atentado à susceptibilidade de quem frequenta esses locais para ver, quando muito, lingerie feminina.
Haja juízo...

quarta-feira, agosto 20, 2008

Prole

Tenho passado estes dias na praia com amigos meus, casados e com contribuições feitas para a sobrevivência da espécie humana. E tem sido divertido.
Tenho observado os meus amigos irritadiços porque a filha ou filho não dorme, ou sem poder ir à água sem terem a certeza de que alguém lhes vigia o rebento. Tenho visto o trabalho que dá criar um filho pequeno. Gerá-los é fácil e agradável.
Mas algo em mim me faz sorrir cada vez que estas crianças me mostram um dentinho ou dizem o meu nome. Transbordo de orgulho quando vêm ter comigo e me chamam para brincar. Fico triste quando têm aqueles ataques de timidez ou fazem birra e se recusam sequer a falar comigo.
Não lhes sou nada a não ser amigo dos pais. Não existe nenhuma ligação de sangue nem sou padrinho de nenhum destes protótipos de gente, mas algo dentro de mim desperta quando os vejo a rir como perdidos no meio das suas palhaçadas para entreter adultos.
Apesar do óbvio trabalho que lhes adivinho nos cuidados permanentes que dirigem aos seus rebentos, tenho inveja deles.
Até há bem pouco tempo pensava que a hora de começar a construir a minha prole se aproximava a passos largos. Mas a vida prega-nos partidas. Agora nada mais posso fazer senão esperar, pacientemente e sem pressas, que apareça quem partilhe comigo a aventura de criar uma família.
Sem pressas, agora.

terça-feira, agosto 19, 2008

Opções e mais opções

Novos mundos se abrem depois de descer ao abismo. Depois de andar pelos cantos a achar que a minha vida não tinha sentido nem rumo, começo agora a levantar a cabeça e a ver muitas possibilidades.
Algumas oportunidades de trabalho apareceram, sem grandes certezas mas com grande vontade da minha parte. (Parece mentira, não?)
Quando um tipo acha que o seu caminho é estreito e de um sentido só acaba por se deixar limitar muito pelos sonhos que o deixaram com uma visão tão reduzida. Mas bastou que uma das cortinas que cobria a vista a este indivíduo caísse para que um mundo de possibilidades se abrisse e o resto dos espessos véus se evaporassem.
Eis-me preparado para seguir em frente, sempre de olho nas lições do passado.

segunda-feira, agosto 18, 2008

É melhor, sim senhor

Afirmei a minha reforma da cerveja a rodos no post anterior. O meu bom amigo Goethe comentou com um curto mas irónico "Pois, pois". É difícil, quando se tem um gosto especial pela cerveja, e uma fama mais especial ainda por gostar dela, fazer os outros acreditar que já não queremos bebê-la continuamente. Então na noitada, cada vez que alguém quer uma cerveja e necessita de companhia ou uma desculpa para ir ao balcão buscar uma loirinha, traz sempre uma para o Gonçalo. Mas agora ficam com ela na mão, ou oferecem-na a outra pessoa. Não me apetece.
Gosto de cerveja. Não haja enganos quanto a isso. Mas não gosto de ficar bêbado. Nem de me sentir inchado no dia seguinte. O meu ego já não tolera o risco de fazer fraca figura ou de ter uma barriga que parece um balão insuflado a bomba de pneu.
E é muito mais agradável conversar com os outros sem ter que medir as palavras que dissemos uns segundos antes, já tarde demais para evitar a asneira. Resulta muito melhor, meus amigos. Acreditem.

sábado, agosto 16, 2008

Hoje come-se

Hoje é dia de Supertaça. E de espetada para acompanhar. Futebol e comida... E cervejinha para empurrar. Pouca, porque me reformei.

sexta-feira, agosto 15, 2008

"When it rains it pours"

Por vezes acreditamos que a vida não quer que nada de bom nos aconteça. E por vezes vemos as portas fecharem-se à nossa volta, umas vezes por apatia, outras por que sim. Nessas alturas tendemos a culpar os outros. Mas os outros não vivem para nos fazer as vontades. Têm a vida deles para viver e, por vezes, estão pior que nós mas o egocentrismo da nossa percepção do mundo não nos permite vê-lo com clareza.
Acontece que a vida não tem nada contra nós. Aliás, a vida está-se borrifando, indiferente para a nossa vidinha entre muitas. Mas a física da coisa dita que quando uma porta se fecha, abre-se uma janela. Por vezes mais do que uma. É só abrir os olhos.

"Quando chove, chove mesmo". ;-)

quinta-feira, agosto 14, 2008

Foram dois dias de purga

Falhei a actualização deste blogue dois dias seguidos. Foram dois dias de purga do ego que me fizeram muito bem.
Limpei o sótão e a cave, escrevi um poemita na língua de Sua Majestade, que não me agrada, por sinal, e fui retido e afastado da internet por dois dias. Não se pode ter tudo.

segunda-feira, agosto 11, 2008

Porto Santo com portagens

Uma das coisas que mais me atraía ao Porto Santo nos Verões da minha adolescência era o facto de as noitadas não estarem presas a espaços confinados e de entrada seleccionada onde se toca música só para alguns gostos, a um volume que faz um surdo levar as mãos às orelhas. Sou do tempo das tasquinhas e dos bares na praia, em número suficiente para que escolhêssemos e variássemos como bem nos aprouvesse. Os diferentes bares e tasquinhas inventavam-se e reinventavam-se todos os dias numa luta desenfreada para atrair a clientela. Eram noites divertidas, garanto-vos.
Mas acontece que, com a desculpa, pontualmente justificada, de que as tasquinhas e bares abertos madrugada a dentro incomodavam os veraneantes e residentes menos afoitos nas noitadas, a Câmara Municipal do Porto Santo resolveu intervir. E o que é que acontece quando há intervenção em larga escala? Nada de verdadeiramente bom.
Resolveu, então, a CMPS usar os fundos subtraídos ao contribuinte para construir uma série de nove bares contíguos na zona do Porto de Abrigo. Afastados de centros habitacionais, estes bares podem manter os seus sistemas de som em níveis mais arrojados sem incomodar ninguém. Ninguém, excepto os desgraçados que chegam à Ilha Dourada, para descansar, nos seus barcos. É que o barulho está apontado para a marina...
Mas como era preciso que a CMPS, através da Sociedade de Desenvolvimento do Porto Santo, não perdesse dinheiro com o empreendimento, até porque não dá muito jeito ir para tão longe a pé, ou de carro, mas com cuidados na bebida, impôs-se que nada ficasse aberto após as duas da matina. Nada de pasmar se considerar-mos as tasquinhas no centro da Vila Baleira, mas já é mais difícil de explicar a decisão em relação a alguns bares da praia que estão longe de zonas habitacionais. Trata-se de uma protecção de monopólio, é o que é. Ninguém se atreveria a alugar um espaço ali se não tivesse garantias de que a clientela ia para lá. Sem grande escolha, a não ser ficar em casa, é natural. Mas a coisa piorou este ano...
Este ano a SDPS aceitou que um grupo de privados pusesse para lá uns DJ's a fazer tocar porcaria no espaço público e, para pagar a esses tocadeiros de computador, fechou o espaço, pago com o fruto da subtracção coerciva dos rendimentos de quem trabalha. À força de barreiras de ferro lá somos todos encaminhados como gado a uma bilheteira onde, garanto-vos, não se passam recibos nem se usa livro de reclamações.
Não é a inexistência de recibos que me chateia, mas a desfaçatez com que se fecha um espaço pago com o erário público, em situação de monopólio instituído, para entregar lucros sabe-se lá a quem.

Em cheio

O pressentimento estava certo.
Não vou escrever aqui de que se trata. É algo demasiado íntimo para atirar assim aos ventos do conhecimento público. Mas que dói, dói. Ainda bem; quer dizer que estou vivo.

domingo, agosto 10, 2008

A bandeira amarela

Ontem, aqui na bela Ilha do porto Santo, fui à praia. Nada de pasmar, admito, mas quando lá cheguei deitei o olho à bandeira da praia vigiada mais próxima. A praia que escolhi não é vigiada, mas está à distância de um olhar mais esforçado de uma que tem, de facto, quem seja pago para cuidar da segurança de quem por lá se banhe. O trapo que esvoaçava ao vento contra as cinzentas nuvens era amarela. Lembrei-me logo: o toti-sapiente estado permite-me que me molhe na babugem, mas não me autoriza a arriscar umas braçadas a sério.
O leitor mais frequente e atento deste blogue deve adivinhar qual foi a minha primeira vontade naquela hora. Nadar por ali a fora.
Não o fiz. Pela simples razão de que eu não conheço aquela zona e estar um bocado frio. Foi uma escolha minha, em consciência, e não o medo de uma qualquer sanção estatal.
Hoje lá estarei. Talvez arrisque.

sábado, agosto 09, 2008

Continuo a pressentir

Há algo de novo no ar...

Não percebo

Numa amena conversa com uma amiga, que depressa se animou, até por causa do tema, ouvi as melhores desculpas de todas para não se entrar a matar aos brasileiros que fizeram reféns em Lisboa. A primeira é a de que eles eram aselhas, tontos, por assim dizer. Isso não me parece uma boa desculpa. Se eram pouco profissionais ou não, tiveram as suas escolhas: desistir ou correr o risco. Escolheram o risco.
A outra desculpa, e parece que ela a ouviu da boca de um perito na televisão, é a de que eles teriam medo de se render porque no Brasil correriam o risco de ser abatidos mesmo que libertassem os reféns. Ora, não estamos no Brasil. Penso que ninguém tem dúvidas disso. Sendo assim, os energúmenos fizeram a pior escolha baseados numa realidade do seu imaginário cultural, como qualquer outro ser racional faria. Mas a verdade é que eles fizeram a sua escolha e pagaram por ela. A Polícia não ia permitir que estes indivíduos se fossem embora com armas apontadas à cabeça de inocentes só porque eles tinham medo de ser abatidos. Eu diria mais: Se eles estavam com medo de ser abatidos, tomaram a opção correcta... Ou talvez não.

sexta-feira, agosto 08, 2008

Para quê?

Passei o princípio desta tarde a ver a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim. Apesar de impressionante e estéticamente atraente, a cerimónia não me conseguiu prender a atenção de forma permanente, que é o mesmo que dizer que mudava de canal de vez em quando, só para não enjoar de tanta coreografia. Sempre que o fiz, ia sempre parar a notícias, principalmente na SICNotícias. E o que por lá se passava, fez-me perder a paciência.
Desde o Ministro da Admnistração Interna, a chefes da PSP e outros peritos em segurança e forças policiais, fartei-me de ouvir explicações, congratulações e outras razões para a actuação dos GOE no caso do assalto/sequestro da tarde de ontem numa depedência do BES em Lisboa. Para quê?
Parece que os GOE mataram um dos assaltantes e feriram gravemente o outro. E depois? Os reféns ficaram bem, não? Os energúmenos que se meteram por esta via de subtracção daquilo que não lhes pertence sabiam o que estavam a fazer, ou não? E ainda por cima puseram em risco e ameaçaram a integridade física de inocentes. Então os GOE fizeram tudo bem. Nada a assinalar. Então para quê tanta explicação? Talvez seja uma questão de colher louros. Compreendo, apesar de não achar boa conduta andar por aí a reclamar heroísmos. O verdadeiro herói é aquele que faz o que acha certo e não reclama agradecimentos.
Ou talvez tenham medo desta opinião pública Portuguesa que tanto diz mal porque não mataram e cederam, como por que mataram, e faz dos assaltantes vítimas de um qualquer excesso policial.
Quando um indivíduo activamente põe em risco a vida de outro, e é avisado pelas forças da ordem de que pode levar um tiro se não parar a sua ameaça, deixa de ter qualquer tipo de razão para se queixar se efectivamente levar um tiro nos cornos.
Se eu tivesse uma arma apontada à cabeça por um qualquer tipo que me ameaça continuamente com o premir do gatilho, o que eu quero é que a polícia o ponha fora de combate antes que ele concretize a sua ameaça.

quinta-feira, agosto 07, 2008

Pressentimentos como introdução (falta de tempo)

Acordei hoje com um pressentimento esquisito. Algo mudou em mim, ou à minha volta. Não sei explicar. em sei se a angustia que sinto é má ou de simples curiosidade. Que será?
Eu continuo vivo e bem de saúde, e más notícias correm depressa... Devo estar a ficar maluco, mas é.

Talvez seja só porque me sinto cada vez mais próximo de uma ditadura pelo povo, para o povo, e por quem conseguir convencer o povo de que a sua liberdade não lhes pertence.
Há poluição numas praias lá para a Póvoa de Varzim. Em vez de se investigar a origem e suster os estragos, avisando entretanto o veraneante dos riscos que corre se entrar na água, proíbe-se pura e simplesmente os banhos. Uma clara forma de dizer ao banhista que ele é estúpido e não tem capacidade de decidir por si. A verdade é que é mesmo estúpido, porque entrega de bom grado a sua responsabilidade pela sua liberdade ao bem-intencionado estado que tudo sabe e tudo decide.
Há quem defenda este tipo de atitudes com a saúde pública. A minha saúde não é pública, digo-vos já. Ninguém tem nada a haver com a maneira como eu trato da minha própria saúde. E neste caso em que o contaminante são salmonelas, não existe o risco de um indivíduo mais aventureiro acabar por infectar outros que não foram a banhos, já que as Salmonellas não são assim tão contagiosas.
Também já ouvi argumentar que se eu me puser doente, vou pesar nas despesas no Sistema Nacional de Saúde. Nem eu sou obrigado a usá-lo (posso preferir um serviço de saúde privado) nem é lógico que eu evite usar um serviço que pago, inclusivamente sob ameaça. Se houver um contracto, assinado livremente entre ambas as partes, em que eu me comprometa a tomar cuidados com a minha saúde, cumpri-lo-ei, mas não há. Pelo menos eu não assinei nada. Mas tenho que pagar, senão...

quarta-feira, agosto 06, 2008

Escolhas

A vida é feita de escolhas. Nada de novo, certo? Mas por vezes nós esquecemo-nos disso e agarramo-nos a conceitos e ideias que por vezes são contraditórios. Quando a vida nos apresenta uma bifurcação tudo o que temos a fazer é escolher o caminho. Alguns dirão que é difícil escolher, que às vezes precisamos de conceitos inerentes aos dois trajectos, mas não é verdade. Não precisamos de nada. Tudo o que temos a fazer é escolher o caminho que nos dá mais prazer, mais vantagens.
Por vezes temos que escolher, por exemplo, entre uma vida longa sem uma perna ou uma vida curta com ambas. A perna é importante, mas não absolutamente necessária, assim como uma vida mais longa pode dar-nos mais tempo para muitas coisas, a qualidade dessa vida pode não ser tudo aquilo que desejamos. Então, escolhemos. Eu, neste caso, escolhia poder continuar a ser bípede apesar de saber que tenho menos passos para dar.

Insónia

Estou deitado aqui na minha cama, ansioso por saber se o sono chega antes do sol nascer, num nervoso de antecipação antes da viagem. Amanhã vou ver as areias claras da ilha do Porto Santo. Amanhã... Hoje.
Vou para a Ilha Dourada escapar-me da família em stress que prepara o casamento da minha irmã. Anda tudo maluco e exigente, como deduzo que aconteça com quase todas as famílias cuja única filha se vai casar. Vou para lá por outras razões também.
Biquinis. Sim. É uma motivação algo fútil, mas vai-me fazer bem, e saber bem, lavar as vistas. Quem já se passeou pelas praias do Porto Santo sabe que é difícil não deixar o olhar prender num ou outro elástico de sustentação, ou a atenção emaranhar-se num laço estratégica e cuidadosamente atado contra a pele morena de uma jovem sorridente.
Vou para o Porto Santo. Com calma e sem precipitações, mas decidido.

terça-feira, agosto 05, 2008

Depois da tempestade

Triste, já o confessei, mas não deprimido. Muito pela contribuição de amigos e amigas que me mantiveram ocupado demais para sentir pena de mim mesmo. A família também ajudou, apesar de, por vezes, um ou outro familiar mais próximo ter tentado demais, levando-me a sentir alguma revolta. Mas a intenção conta, e eu fiz um esforço por todas estas pessoas. Um esforço por mim e para mim.
Foi assim que me deixei levar pela vida de homem sem compromisso. Não. Não quero com isto dizer que me virei para uma vida de libertinagem ou de engate a qualquer custo. Nunca fui assim quando era adolescente, livre e com algum sucesso entre as adolescentes, não será depois dos trinta que me tornarei um mulherengo. Antes pelo contrário. Mas comecei a deixar a minha já habitual "fronha de homem comprometido" para trás e arrisquei conhecer amigas de amigas, algo que só aceitava por acaso de circunstância. Se estivéssemos à mesma mesa, por exemplo, não podia senão ser simpático.
Mas esta diferença de atitude revelou-se muito útil para mim. Redescobri-me como homem atraente. Sei que o meu aspecto físico já não é o que era, e que o adolescente que nunca se queixou de falta de interesse feminino já não existe. Mas o trintão que resta depois do cabelo comprido e da cara de bebé terem ficado para trás não parece estar assim tão mal. Fui elogiado pelo charme pela primeira vez na vida, por exemplo.
A confiança volta insuflar este meu ego que sempre foi grande (nota-se?...) e a trazer-me de volta à vida de comum mortal. E com um sorriso na cara.

Post Scriptum: Peço desculpa pelo ego inchado mas, além de ser um defeito que sempre me pertenceu, é algo de que não me quero livrar neste momento da minha vida.

Um novo rumo

Há alturas na vida de um homem em que uma atitude energética se torna essencial. Depois de me deixar enterrar numa lamacenta poça de auto-comiseração, resolvi levantar-me.
Decidido que estava a arriscar uma vida inteira numa mulher que conhecia há quase doze anos e com quem partilhei sonhos, esperanças e caminhos durante quase onze anos e meio, levei um evidente choque quando me vi sozinho num repente. Durante algum tempo limitei-me a pedir-lhe que reconsiderasse e quase lhe pedi que tivesse pena de mim. A verdade é que, por momentos, ela não sentiu mais nada por mim a não ser pena. Dizia-me que não, mas eu senti-o. E foi isso que me foi acordando e me fez levantar a cabeça, desimpedindo-me as vias respiratórias da fuligem escura em que a falta de amor-próprio se condensa.
E assim comecei por me orgulhar por estar vivo. A minha vida não acaba com esta relação. Eu não estou condenado à morte emocional só porque uma mulher em quem depositei a minha fé recusa retribuir a aposta. Cheguei à conclusão de que não preciso dela. Não preciso de nenhuma mulher.
Não quero, com isto, fazer o leitor acreditar que eu desisti das relações sentimentais com o sexo oposto. Longe disso. Eu quero, eu desejo, mas não preciso. E no caso desta mulher, gostaria muito que a relação resultasse num projecto de vida sólido. Estou até convencido de que ambos teríamos a ganhar com isso. Mas a realidade é que não posso obrigar ninguém a tomar as decisões que mais me agradam em detrimento do caminho que escolheram em vez de caminhar a meu lado.
Devo confessar, até, que compreendo a decisão. Estou fora de Portugal, embora contasse estar de volta de vez dentro de menos de um ano, e uma relação à distância é difícil. Este tipo de relação exige muita fé, trabalho e coragem, mais do que aquilo que eu ou outro qualquer tem direito a pedir.
Compreendo também que seja difícil para as exigentes mulheres que normalmente me agradam ver um futuro comigo. Tenho trinta e um anos e ainda é difícil para os outros ver um rumo na minha vida. Eu sei que existe e já o vejo. Tenho já a convicção de que a vida não me vai correr mal. Mas consigo perceber que outros tenham dificuldade em aceitar o meu desabrochar tardio.
Estou triste, é verdade, mas não estou derrotado.