segunda-feira, novembro 19, 2007

Falar de futebol

O jogo de futebol tem regras. Quando foram inventadas essas regras não havia campeonatos nem ligas, nem nenhum organismo que supervisionasse os jogos. Jogava quem queria, por gosto e satisfação pessoal. As regras eram cumpridas por acordo entre todos os cavalheiros que queriam jogar, e quem as ignorasse com insistência provavelmente não voltaria a jogar com os mesmos indivíduos, até se esgotarem as suas hipóteses. Aí, ou se submetia às regras do jogo, ou mudava de desporto. Provavelmente acerta altura arranjaram alguém que supervisionasse as regras de forma isenta, alguém cuja escolha fosse acordada entre todos os jogadores.
Hoje em dia o futebol tem estruturas que o gerem. Escolhem o fiscal das regras e impõem-no a quem joga e dispõem dos recursos gerados pelo trabalho dos jogadores, com o magnânimo propósito de defender e promover a modalidade. Essas estruturas até retiram e adicionam regras conforme pretendem que o jogo tenha mais ou menos golos, sempre com o superior intuito de proteger o espetáculo. Aqueles que jogam o jogo só são ouvidos através de associações que os reduzem a um grupo de pressão. O jogador, por si só, come e cala.
Consequências? As estruturas gestoras do futebol gerem o produto do esforço de indivíduos que em pouco ou nada interferem nas decisões acerca do seu uso. Anda o lucro sem dono, o que atrai pessoas dispostas a dobrar o sistema para terem maior parte do bolo. Como a estrutura depende não de decisões tomadas pelos protagonistas, mas antes por burocratas longe do campo onde o jogo se joga, torna-se fácil e apetecível corromper o sistema de forma a beneficiar qualquer um menos o jogador.
Passamos de um sistema em que o lucro gerado pelo esforço do indivíduo beneficia só o indivíduo, para um sistema em que o esforço do jogador alimenta toda uma estrutura que diz zelar pela integridade do desporto, mas que abre as portas à deterioração das virtudes da actividade.

terça-feira, novembro 13, 2007

Em extinção

Eu nunca fui daqueles machões que tratam a companheira à estalada, ou que se insinuam a toda a mulher que tenha o azar de olhar na sua direcção, insistindo para além da boa educação, se for preciso. Sempre gostei do meu cabelo e tentei cuidar dele até chegar à conclusão de que o melhor era tratar o mínimo possível, para não estragar. Sou vaidoso, como quem me conhece confrimará com acenos de cabeça demasiado evidentes. Mas daí a pintar a cara, depilar as sobrancelhas ou ir à manicura vai um passo demasiado grande para mim. Mas a verdade é que a nova geração de mulheres parece achar mais piada aos Castelo-Branco deste mundo que aos Humphrey Bogart. Ser-se homem já não parece ter importância, a não ser pela existência de um penduricalho entre as pernas (até quando?...). Estas novas gerações parecem preferir um homem que lhes roube o kit de beleza depois de uma ou duas quecas (com cuidado para não estragar as unhas) e que se queixa da manicura que lhe levou couro e cabelo para lhe deixar as mãos demasiado masculinas...
O macho está em extinção. E não por culpa do aquecimento global: é a selecção natural; a selecção sexual.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Moral Vs Moral

Todos nós, como indivíduos que somos, temos um código de conduta pessoal e único. Este código de conduta desenvolve-se independentemente dentro de cada um de nós. Depende da nossa vivência desde o nascimento e que, apesar de influenciada pelo meio social que nos acolhe, tem sempre a haver com a forma muito pessoal e única como entendemos e absorvemos essa vivência. A esse código de conduta chamamos de moral. Por mais que as religiões ou outros tipos de instituições moralizadoras tentem, a uniformização dos códigos de conduta é uma tarefa impossível.
Sendo assim, só parecem existir duas formas de lidar com tamanha diversidade de moralidades e de condutas, que são absolutamente incompatíveis. A desmoralização do indivíduo, eliminando todos os diferentes códigos de conduta, que se substitui pela uniformizada moral da lei, aplicada à força a todos quantos lhe resistam. Esta solução tem um grave defeito: quem escolhe que regras morais adoptar? Serão sempre pessoas que se regem por morais diversas, e por mais que se recorra ao voto, haverá sempre alguém que não concorda. Que fazer com esse indivíduo dissonante? Podemos sempre usar a força, essa forma de debate democrático tão em voga no século da revolução do proletariado. Ou o reaccionário capitula, ou desaparece.
A alternativa contrária é não fazer nada. Não é necessário termos todos a mesma grelha moral para que nos possamos dar todos bem. Basta que ninguém esteja em posição de impôr a sua moral, e que se salvaguarde o direito do indivíduo a usufruir da sua própria vida. Assim cada um de nós escolhe de que maneira se relaciona com o seu vizinho e com a sociedade em geral. Talvez assim, como um bocado de barro que ganha uma forma mais esférica à medida que rebola por uma rampa abaixo, as diferentes morais tendam para a uniformização, sem nunca a atingir nem a pretender.
Quer-se respeito, nada mais. A lei só traz obrigação.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Associação reveladora

Ao ler esta notícia no site do semanário Sol, acerca de um jovem Finlandês que desatou a disparar uma arma de fogo na sua escola, depois de publicitar o acto no YouTube, uma pequena passagem chamou a minha atenção:

"A cadeia de televisão privada MTV3 afirmou que o presumível assassino terá declarado várias vezes a sua admiração por Hitler e Estaline."

Ora, se Estaline é um dos nomes glorificados pelos socialistas menos inibidos e, por sua vez, Hitler é maldito por esses mesmos indivíduos, que será que este jovem lhes viu de comum? Tiques mais do que confirmados de ditadores? Ou foi a comum e muito celebrada tentação de planear a sociedade?
Na verdade, tanto Hitler como Estaline acreditavam saber o caminho para a sociedade perfeita, estilo formigueiro, e sabiam que a única maneira de chegar lá perto é pela força e pela supressão da vontade individual, uniformizando a sociedade inteira. Este jovem, a confirmar-se esta passagem, percebeu que Hitler e Estaline eram farinha do mesmo saco, cheios de boas intenções e de vontade de elevar os seus povos à mais avançada das sociedades.

sábado, novembro 03, 2007

Lamechices

Isto de estudar fora do país é mais difícil do que à partida parece. E não estou a falar de dificuldades académicas. Falo da pressão emocional que é estar fora do meio a que nos habituamos e onde nos mexemos como peixe na água, da distância espaço-temporal daqueles portos de abrigo emocional que são todos aqueles que nos amam e nos fazem sentir amados. Por vezes parece ser mais fácil desistir, mas a vontade de perseguir um lugar que sabemos que nos pertence, ou queremos que nos pertença, mantém-nos em pé mesmo que cambaleando e completamente esgotados.
Por isso sinto hoje a necessidade de dizer a todos quantos me amam que o sentimento é mútuo, e que as saudades por vezes apertam ao ponto de transformar este meu post num desabafo um bocado lamechas.