segunda-feira, abril 23, 2012

Mais cinema - Um respeitável grupo de vetustos actores

The Best Exotic Marigold Hotel (O Exótico Hotel Marigold), de John Madden, foi o filme que escolhi recompensar com o meu bilhete, comprado com o desconto do cartão de fidelização, neste serão de Domingo. Divertido quanto baste, este filme fez-me sorrir de gozo e alguma ternura (lamechices, eu sei), e fez-me pensar sem ser condescendente.
Para mim, o maior ponto de atracção deste filme é ver o desfile de boas e seguras interpretações por parte de um grupo de actores britânicos de cabelo grisalho. Foi ver a senhora Judy Dench, o meu sempre favorito Bill Nighy, a sempre entretida Maggie Smith, e o intenso Tom Wilkinson a espalhar a sua suprema arte, muito bem acompanhados por outros actores que não cito aqui por pura preguiça.
É um filme que aconselho vivamente, pelo exotismo, pela arte dos actores experientes, e pelas deliciosas histórias interligadas entre si.

terça-feira, abril 17, 2012

Sobre Cinema - Sim, vi o Mirror Mirror

Desta vez foi o Mirror Mirror de Tarsem Singh, que (não sei porquê) suspeito ter invejado os dotes dos realizadores dos filmes que via ao crescer, criados naquele radioso, se bem que irritante, nicho da indústria cinematográfica conhecido por Bollywood. E não o digo pelo nome; depois explico. Fui ver, como se adivinha, a versão original, que o tradutor não se inibiu de intitular de Espelho Meu, Espelho Meu! Há Alguém Mais Gira do Que Eu?, sem dúvida uma partida aos desgraçados responsáveis por inserir os títulos nos quadros electrónicos das bilheteiras deste país. Agora, o filme.
A base do enredo não é segredo para ninguém, mas esta é uma versão — e é uma versão com piada. O melhor da história está nas personagens, bem trabalhadas pelos actores que as representam, com um especial destaque para Julia Roberts. A amiga Julia desenrasca-se bem como bruxa/madrasta má, com toques de humor requintados, dando alguma profundidade a uma personagem que não tem profundidade — é má, ponto. O colorido, por vezes exagerado, trazido (penso eu) de Bollywood, traz uma sensação de desenho animado ao filme, o que dá dar jeito para satisfazer os petizes, e os fãs de desenhos animados. (Eu?! Mentira! Pronto... um bocadinho.)
Para quem se quer rir um pouco, vale a pena. Para quem quer distrair os miúdos, vale a pena. Para quem sente náuseas ao ver aqueles enormes e musicais finais de assinatura de Bollywood, com coreografia tipo flash-mob-em-que-todos-participam-mesmo-que-só-lá-tenham-ido-para-mostrar-o-figurino, fuja da sala mal os heróis trocam o beijo que lhes sela o matrimónio. Mas fuja a sete pés...

segunda-feira, abril 16, 2012

Sobre Cinema - golpe de génio, ou desilusão?

Fui ver o filme Gone, de Heitor Dhalia (que as distribuidoras portuguesas venderam como Gone - 12 Horas), com a Amanda Seyfried, na interpretação da única personagem com volume naquele enredo (escrito por Allison Burnett), classificado como thriller dramático. Este é daqueles filmes cujo trailer promete. Promete nervos em franja e faz adivinhar surpresas em catadupa, pondo o cinéfilo que há em mim — e que ocupa muito espaço — a adivinhar conjunturas, conspirações, cambalhotas de enredo e outros tropeções nas resoluções alternativas da imaginação de quem o vê. Promete... mas não cumpre.
Desde personagens cujas primeiras aparições parecem sugerir importância na criação dos conflitos a resolver durante o filme, e que depois não são mais que placas de indicação do caminho, até à tentativa de manter a linha de dúvida inicial acerca do que realmente se passa, tudo falha. E falha por falta de vontade, parece-me. É como se o argumentista traçasse uma recta e a enfeitasse com uns pífios raminhos quebradiços. As cenas de suspense duram curtos segundos, muito curtos, e não alteram grande coisa no enredo. A resolução final do conflito lembrou-me daquela sensação de pegar no copo de refrigerante, para dar o último gole, e descobrir através do palato que já só há água do gelo no copo. Sempre temos alguma sensação de "bem feito!", mas não é suficiente.
Ainda há uma cena final, pós resolução, que pretende lançar novas dúvidas sobre o que acabamos de ver, mas, fazendo outra referência à gastronomia das salas de cinema, é mais como ir buscar as últimas pipocas ao balde e não encontrar nada a não ser migalhas, milho por rebentar e as casquinhas que se agarram à língua e se colam aos dentes. Já vem tarde, e vem sem força.
Depois de tanta volta que imaginei, e não dei, de tanta bofetada mental antecipada, e não recebida, fiquei sem saber se não seria essa a intenção — fazer a malta pensar que vai acontecer algo, mas afinal... nada — se realmente a coisa foi mal feita. Será este um golpe de um génio tão superior que me ultrapassa a compreensão, ou será mesmo uma desilusão? Não sei.

Ao ler a curtíssima sinopse deste filme no IMDb, fico com a sensação de que leio 90% do enredo — só falta dizer como acaba (mas não é difícil de adivinhar).