sábado, setembro 30, 2006

Sampaio diz

O Diário Digital transcreve algumas frases de um discurso do ex-Presidente da República, na Faculdade de Letras do Porto. Uma frase em especial chamou-me à atenção: "O Estado não pode resolver todos os problemas". Na minha opinião, esta frase só teria a ganhar se se acrescentasse, depois de um ponto (muito a contra-gosto do nosso Nobel), outra pequena frase: Não pode, nem deve.
O Estado deve intervir menos, deixando espaço para iniciativa individual na resolução dos problemas. Só assim o indivíduo evolui, e com a evolução do indivíduo, ganha o colectivo. Não nego que haja algumas questões que só se podem resolver através da representatividade, mas não são nem metade daqueles em que hoje se vê ingerência estatal.
Mas o que Sampaio diz não surpreende, sabendo qual o seu ecossistema político, por isso não lhe condeno as declarações. Limito-me a não concordar.

É por ali


Tirei esta foto com a minha máquina tira-retratos que também faz uma perninha como telefone. Estava na plataforma ferroviária de Treforest, à espera do comboio que me levaria a Cardiff, e lembrei-me de guardar a imagem deste pequeno aglomerado de casas (a maioria das casas estão para trás do fotógrafo, não desesperemos!), onde se vê o edifício mais alto do campus da University of Glamorgan. É aquele edifício quadrangular que se vê ao fundo.
Só mais uma coisa: acredite quem quiser, mas era meio-dia e meia...

sexta-feira, setembro 29, 2006

A língua - uma janela

Há exactamente duas semanas atrás amanheci cheio de bagagens, a caminho do aeroporto. Parei por duas horas em Amsterdão, já sozinho, na companhia, cultura e língua, e avancei para Cardiff. Cheguei ao meu destino já lá pelas cinco e meia, seis horas da tarde, levado por uma carrinha da Students Union da minha nova universidade, que disponibilizaram transporte a partir do aeroporto, para os estudantes internacionais.
Ainda só, mas não desamparado, nem perdido, formei alguns frágeis laços de cumplicidade com outros estudantes que se vêem agora obrigados a usar, no seu quotidiano, uma segunda língua. Algumas nacionalidades estão bem representadas e, para alguns, o inglês é língua materna.
Chegam a andar em bando, aqueles de nacionalidade ou língua comum, formando oásis das suas línguas e culturas onde se refugiam, às vezes em demasia, criando resistências à adapatação e antipatias. Da minha parte, encontrei um brasileiro (com nacionalidade portuguesa, também) e um alemão que viveu algum tempo em São Paulo. São eles os meus pequenos e esporádicos oásis da língua.
Por vezes dou comigo a pensar em inglês. É mais evidente quando tenho que memorizar números, como os das salas de aulas ou o meu número de inscrição, ou até mesmo o código para a entrada da residêncial. "Room D eighteen", lá me lembro eu da sala para a minha primeira aula, na próxima segunda-feira.
Mas o mais estranho aconteceu há dois dias atrás, quando me abastecia de leite para o meu pequeno almoço, na pequena loja dentro do Campus. Estava na fila para pagar, quando ouço o casal atrás de mim a falar português, tão claro quanto se fosse eu. Só não tinha a minha pronúncia madeirense, de resto... Mas o meu espanto deve-se ao facto de eu ter ignorado por completo o facto! Limitei-me a continuar a falar inglês com a senhora da caixa, e até agradeci na língua de Shakespear, quando a rapariga lusófona me levou o saco de compras de que me tinha esquecido.
Encontrei ali dois colegas mais experientes, que partilham a mesma nacionalidade e língua, mas não reagi conforme se pensa normal fazer. Porquê, não sei. Timidez, talvez. Falta de paciência na altura, quem sabe.

quinta-feira, setembro 28, 2006

O monstro biotécnológico

Depois de décadas a falar-se dos malefícios dos tratamentos das culturas com pesticidas, quando a ciência arranja uma forma de os evitar, reclama-se na mesma. É a vida.
Mas deixem-me partilhar conhecimento convosco. Existem três formas (que e me lembre) de modificar uma espécie a nosso prazer.
Naquela referida no artigo, o cientista\técnico trata de inserir o gene cuja função interessa, normalmente vindo de outra espécie, num local específico da informação genética da espécie receptora. Isto cria um mutante (que é o que a nossa espécie é em relação à espécie que nos precedeu), igual em tudo à espécie original, mas com a característica que se pretende da espécie dadora.
Outra forma de moldar uma espécie é o cruzamento de espécies próximas, cujas características individuais podem ser benéficas para o objectivo pretendido. Neste caso os resultados são mais imprevisiveis, porque as características que pretendemos realçar podem não ser dominantes, ou os genes que as codificam podem não ser compatíveis.
A forma mais antiga, usada pela espécie humana desde a pré-História, é a pressão selectiva. Na Natureza as espécies evoluem através de processos de mutação espôntanea (em oposição à mutação induzida descrita acima) e selecção das características, através de vários processos diferentes. Mas o Homo sapiens, além de seleccionar as espécies que mais lhe convêm, também lhes selecciona características que lhe são benéficas. As raças caninas e felinas são um bom exemplo de selecção que não aconteceria na Natureza, mas são o mais inofensivo. Nunca pensaram os puristas da Natureza que a vaca, o porco ou a galinha que comem, por exemplo, são produtos de uma selecção forçada de características que beneficiam o nosso consumo? Não são transgénicos, é verdade, mas são produtos da mais simples e antiga das biotecnologias.
Pior são os cães, gatos, roedores e aves, cujas características que hoje seleccionamos são essencialmente lúdicas e\ou estéticas. Alguns, verdadeiras aberrações. Mas quem sou eu para julgar?

quarta-feira, setembro 27, 2006


Há algo de errado neste comunicado de um sindicato de trabalhadores não docentes, afixado num corredor da escola C+S Horácio Bento de Gouveia, no Funchal (eu passei cinco anos da minha vida por lá). Isto para além de se considerar pertinente anunciar o preço do copo de cerveja, mas não haver informação acerca do preço da comida. Deduz-se que não tem preço.
Alguém consegue ver o que é?

domingo, setembro 24, 2006

Socialismo à força

Daqui se vê como ainda há quem acredite na bondade do socialismo, ao ponto de pretender instituí-lo à força.
A lógica parece ser a de que o socialismo é tão justo, tão solidário, que o direito a negar tais evidencias deve ser abolido, senão transformado em crime (thoughtcrime, em newspeak).

sexta-feira, setembro 22, 2006

Tarde, e a más horas

Por estes lados, fui-me esquecendo de prestar atenção à prometida continuação da discussão começada pelo AA, no A Arte da Fuga, com o texto "O direito de não pagar impostos", a que aqui fiz referência. Mas a verdade é que o AA já completou o seu raciocínio, aqui. Atrasado, eu sei, mas acredito que a pertinência não se perdeu por isso.
Discuta-se, portanto.

terça-feira, setembro 19, 2006

Permitam-me uma sugestão

Directo, como é habito, o autor do Faccioso, António Torres, toca nos pontos certos no que diz respeito à guerra (não necessariamente bélica) em que estamos mergulhados.

Igualdades...

Portanto, o princípio de igualdade ente os cidadãos, aqui, não se aplica...?
Em tempo de guerra, o presidente de Israel foi investigado por assédio sexual...Mas Israel é um mau exemplo, não é?... (para quem não percebeu, estou a ser irónico)

segunda-feira, setembro 18, 2006

sexta-feira, setembro 15, 2006

Já agora...

Saiu, para quem se quiser dar ao trabalho, o texto "Politicamente correcto, ou incorrecto? Eis a questão...", da minha autoria, no Terras do Ave.

Treforest

Já estou em Gales. Paisagens bonitas de caminho do aeroporto, e um quarto apertadinho...
É esquisito não ter ninguém a quem ligar para ir comigo ao Pub mais próximo beber uma cervejinha. Mas amanhã começo cedo a conhecer o local, outros estrangeiros como eu de cabeça confusa.
E tenho que arranjar uma ficha à inglesa para quando a bateria desta coisa com teclas se for ao ar. Até já.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Demolidor

Vi, outra vez, o filme "Demolition Man", com o Sly Stallone e um louro e azulado Wesley Snipes. Para quem nunca viu, a trama desenvolve-se numa sociedade onde as pessoas aceitaram abdicar da sua privacidade e liberdade, em troca de segurança e por um bem comum. Podia discutir aqui o universo Orwelliano em que esta imagem se apoia, mas não é por aí que quero ir.
A razão que me leva a escrever este texto sobre um filme entretido que pouco ou nada acrescenta ao mundo do cinema, é uma frase que o personagem interpretado por Snipes diz, a certa altura, quando o responsável por aquela sociedade lhe fala do bem comum contra a individualidade, que diz ser a causa de violência, caos moral, e até de doenças. É a resposta mais adequada que posso imaginar para tais argumentos, e já usei afirmações do género, confesso, algumas vezes.
Aqui fica a famosa frase, que espero não ser necessário traduzir:
"People have the right to be ass-holes"

O "Nine-eleven"...

Há datas importantes. Lembram acontecimentos que marcam o fim de eras, que significaram mudanças na mentalidade colectiva de sociedades inteiras. Conceitos que antes seriam escassamente discutidos, são virados do avesso. A data que o calendário hoje exibe, não passará despercebida, até porque os media não se inibem de nos martelar com factos e dúvidas acerca dos ataques que hoje o Mundo parece querer lembrar.
Mas este dia, pela efeméride que representa, é usado como instrumento de condicionamento de mentalidades, tal como o 25 de Abril nacional.
A revolução dos cravos abriu caminho ao enformar da consciencia nacional, convencendo os cidadãos nacionais da bondade do Estado, instando-os a adormecerem a sua individualidade sob a sua protecção paternalista. A partir daí todo aquele que diz o que pensa, sem se render ao bem comum e à caridade do sistema, é um mau carácter.
Da mesma forma o nine-eleven fez cair sobre a civilização ocidental uma nova mentalidade de rebanho. As liberdades individuais sentam-se, agora no banco de trás, quando não são enfiadas no porta-bagagem (e temo que um dia sejam atiradas janela fora), e no seu lugar instalou-se uma paranóia sem limites pela segurança.
A privacidade de uma conversa telefónica, nos EUA, por exemplo, deixou de ser exigivel sob pena de o queixoso ser visto, no mínimo, como um louco que quer que abrir as portas do zoológico, deixando sair as feras, ou como alguém sem sentido patriótico.
Assim, meus amigos, quem ganha são os terroristas. E nem precisam de fazer rebentar mais nada: basta-lhes fazer ameaças, e os cordeirinhos correm para os pastores implorando que os metam num apertado curral, pedindo protecção a qualquer o custo. Por alguma razão se chamam terroristas...

quinta-feira, setembro 07, 2006

Seringa politicamente incorrecta

Vou aqui fazer uma afirmação políticamente incorrecta acerca da troca de seringas nas prisões, ou em qualquer outro lugar.
Eu não sou responsável nem pelo vício alheio que exige a seringa, nem pela contaminação de doenças através das agulhas partilhadas. Porque é que tenho que pagar, através dos impostos, medidas para resolver problemas pessoais que não são da minha responsabilidade civil?
Não há falta de informação, parece-me. Não fui eu quem meteu uma agulha no braço, nem forcei ninguém a fazê-lo, nem sou eu quem tem comportamentos de risco, tendo liberdade de escolha.
Se me apelarem para piedade e solidariedade individual (minha, leia-se), farei o que puder para ajudar, mas com os dinheiros públicos, não obrigado. É uma questão de responsabilidade social, com a qual o Estado não tem nada que se meter, uma vez que depende da minha moral individual.

terça-feira, setembro 05, 2006

"Health food"

A moda da vida saudável através da alimentação anda a infectar as mentes nacionais. É ver iogurtes cheios de fermentos e bactérias, que existem naturalmente nos tubos digestivos de muitos animais, incluindo o homem; é ver uns quantos ditadores da comida a instistir com os outros para não comerem carne; etc.
Mas o que mais me chateia é ver o fascismo ideológico que as expressões usadas nestas campanhas saudáveis impõem. A expressão comida saudável, ou health food, por exemplo, é usada pelas companhias que as fabricam e vendem, decerto cheias de boas intenções (assobiemos para o ar), para dietas à base de pós, ervas e ampolas. Define-se dieta saudável pela ausência de carne, não raramente total, e de açucarados. E eu, guloso e apreciador do bom bife, sou um desleixado, quando não me carimbam com o rótulo de assassino dos animaizinhos (esquecem-se que as couves e os aipos que eles devoram também são seres vivos, e enquanto não conseguirem fazer quimio ou fotossíntese, são tão assassinos quanto eu).
Mas eu sei, porque aprendi, que a carne faz parte da dieta do ser humano, e que o nosso tubo digestivo é muito mais próximo do dos carnívoros exclusivos, que dos folívoros que os "naturais" tentam imitar. Tubo curto, estômago de câmara única, entre outras características maçadoras. Posso garantir que o nosso tubo digestivo tem muita dificuldade em digerir celulose, e as ervinhas e folhinhas estão carregadas de... celulose. A cozedura ajuda, quebra a resistente celulose em moléculas mais pequenas, mais facilmente digeríveis. Uma dieta sem carne não mata o indivíduo, mas exige mais do corpo, já que ainda é preciso tranformar outras moléculas nas proteínas com que somos construídos.
Sendo assim, e porque o açúcar é uma espécie de combustível de alto rendimento para o nosso corpo, o conceito descrito no título deste post deve incluir carne e açúcares. É tudo uma questão de quantidades e proporções.
Mas entrando numa loja especializada naquele tipo de comida, continuo a ver ampolas, ervas, e pózinhos...

domingo, setembro 03, 2006

Direitos pouco iguais

A questão das Ordens, e mesmo de algumas profissões para as quais não existem Ordens, mas para as quais o Estado regulamenta regras e currículos, está na inexistência de liberdade e de igualdade de direitos.
A liberdade do empregador escolher quem quiser para desempenhar determinada função, estará em risco sempre que o Estado impuser para essa função esta ou aquela qualificação. Essa exigência seria feita pelo mercado, em liberdade e com responsabilização do empregador. Assim, e porque o diploma não é garantia de qualidade, corre-se o risco de deixar de fora indivíduos mais capazes, e verdadeiramente qualificados pela experiência (por exemplo), só porque não tiraram curso A ou B.
O cidadão que procura emprego tem certos nichos de mercado que lhe são negados por imposição legal. Não digo que um tipo que não foi além do ensino secundário deva ser admitido num hospital como médico, mas que não deve estar proibido de o fazer. A escolha deve ser do empregador e não imposta pela lei.
É uma questão de idualdade de direitos. Ou será que é legítimo dar mais direitos a um indivíduo pela sua formação? Ou tirar direitos a outro pela falta desta?
Para evitar confusões, más interpretações, ou simples truques de retórica que deturpem aquilo que aqui escrevo, sinto-me obrigado a dizer que acho que o responsável por um projecto de engenharia (por exemplo) deve ser licenciado em engenharia (e não obrigatoriamente inscrito na Ordem). Só não acho que os outros devam ser impedidos de concorrer ao lugar por não terem o diploma, como não se deve impedir uma pessoa de concorrer a este ou aquele emprego pela côr da pele, sexo, ou opção sexual.
Passem a responsabilidade para os empregadores, deixem o mercado de trabalho funcionar por si, e deixarão de ver os nossos jovens a escolher os cursos para obterem autorização para entrar neste ou naquele cartel profissional, e passarem a escolher a sua formação individual por questões de melhoramento pessoal, além das financeiras.
Para mim, é uma questão de defender o direito ao emprego, e o direito a ser considerado, pela lei, como igual aos outros.

sábado, setembro 02, 2006

Transformers!!!

Uma parte da minha infância... Não eram os meus favoritos, mas passei muitas tardes à frente do televisor a vê-los em desenho animado. Para o ano, voltarei a ser criança em frente a um ecrã de cinema. Optimus Prime e companhia vêm aí...!

Ordem para cobrar... Por quê?

Quem tem o hábito de ler o que eu escrevo neste blogue, talvez um mau hábito, já deve poder arriscar que um dos meus ódios de estimação são as Ordens... Ou devo dizer, os cartéis de extorsão...?
Tenho várias razões para isso, uma delas o facto de representarem grupos de interesses cuja função é anular concorrência, com o aval do Estado, que lhes vai oferencendo protecção legal. Outra das razões é a extorsão que fazem aos seus associados, principalmente aquelas que já garantiram o monopólio das profissões que representam. Será, por acaso, justo que um indivíduo seja obrigado a comprar um bem? Ou a pagar por um serviço que se não adquirir, vai preso?
Um licenciado em medicina só pode exercer medicina se estiver inscrito na Ordem dos Médicos, no entanto tem que pagar quotas àquela Ordem. No fundo, tem que pagar para ser médico. É como se toda a licenciatura ficasse sequestrada contra o pagamento de um resgate. E não é só a dos Médicos. Outras Ordens conseguiram a colaboração do Estado nesta actividade de extorsão, sendo a mais recente a artística Ordem dos Arquitectos.
Há quem defenda que assim se garante a qualidade dos profissionais, mas quem me garante que um engenheiro, por estar inscrito na Ordem, é um profissional competente? É por pagar a sua quota que o Arquitecto ganha uma aura que o impede de alguma vez fazer asneira?

sexta-feira, setembro 01, 2006