Há alturas na vida de um homem em que uma atitude energética se torna essencial. Depois de me deixar enterrar numa lamacenta poça de auto-comiseração, resolvi levantar-me.
Decidido que estava a arriscar uma vida inteira numa mulher que conhecia há quase doze anos e com quem partilhei sonhos, esperanças e caminhos durante quase onze anos e meio, levei um evidente choque quando me vi sozinho num repente. Durante algum tempo limitei-me a pedir-lhe que reconsiderasse e quase lhe pedi que tivesse pena de mim. A verdade é que, por momentos, ela não sentiu mais nada por mim a não ser pena. Dizia-me que não, mas eu senti-o. E foi isso que me foi acordando e me fez levantar a cabeça, desimpedindo-me as vias respiratórias da fuligem escura em que a falta de amor-próprio se condensa.
E assim comecei por me orgulhar por estar vivo. A minha vida não acaba com esta relação. Eu não estou condenado à morte emocional só porque uma mulher em quem depositei a minha fé recusa retribuir a aposta. Cheguei à conclusão de que não preciso dela. Não preciso de nenhuma mulher.
Não quero, com isto, fazer o leitor acreditar que eu desisti das relações sentimentais com o sexo oposto. Longe disso. Eu quero, eu desejo, mas não preciso. E no caso desta mulher, gostaria muito que a relação resultasse num projecto de vida sólido. Estou até convencido de que ambos teríamos a ganhar com isso. Mas a realidade é que não posso obrigar ninguém a tomar as decisões que mais me agradam em detrimento do caminho que escolheram em vez de caminhar a meu lado.
Devo confessar, até, que compreendo a decisão. Estou fora de Portugal, embora contasse estar de volta de vez dentro de menos de um ano, e uma relação à distância é difícil. Este tipo de relação exige muita fé, trabalho e coragem, mais do que aquilo que eu ou outro qualquer tem direito a pedir.
Compreendo também que seja difícil para as exigentes mulheres que normalmente me agradam ver um futuro comigo. Tenho trinta e um anos e ainda é difícil para os outros ver um rumo na minha vida. Eu sei que existe e já o vejo. Tenho já a convicção de que a vida não me vai correr mal. Mas consigo perceber que outros tenham dificuldade em aceitar o meu desabrochar tardio.
Estou triste, é verdade, mas não estou derrotado.
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