segunda-feira, agosto 11, 2008

Porto Santo com portagens

Uma das coisas que mais me atraía ao Porto Santo nos Verões da minha adolescência era o facto de as noitadas não estarem presas a espaços confinados e de entrada seleccionada onde se toca música só para alguns gostos, a um volume que faz um surdo levar as mãos às orelhas. Sou do tempo das tasquinhas e dos bares na praia, em número suficiente para que escolhêssemos e variássemos como bem nos aprouvesse. Os diferentes bares e tasquinhas inventavam-se e reinventavam-se todos os dias numa luta desenfreada para atrair a clientela. Eram noites divertidas, garanto-vos.
Mas acontece que, com a desculpa, pontualmente justificada, de que as tasquinhas e bares abertos madrugada a dentro incomodavam os veraneantes e residentes menos afoitos nas noitadas, a Câmara Municipal do Porto Santo resolveu intervir. E o que é que acontece quando há intervenção em larga escala? Nada de verdadeiramente bom.
Resolveu, então, a CMPS usar os fundos subtraídos ao contribuinte para construir uma série de nove bares contíguos na zona do Porto de Abrigo. Afastados de centros habitacionais, estes bares podem manter os seus sistemas de som em níveis mais arrojados sem incomodar ninguém. Ninguém, excepto os desgraçados que chegam à Ilha Dourada, para descansar, nos seus barcos. É que o barulho está apontado para a marina...
Mas como era preciso que a CMPS, através da Sociedade de Desenvolvimento do Porto Santo, não perdesse dinheiro com o empreendimento, até porque não dá muito jeito ir para tão longe a pé, ou de carro, mas com cuidados na bebida, impôs-se que nada ficasse aberto após as duas da matina. Nada de pasmar se considerar-mos as tasquinhas no centro da Vila Baleira, mas já é mais difícil de explicar a decisão em relação a alguns bares da praia que estão longe de zonas habitacionais. Trata-se de uma protecção de monopólio, é o que é. Ninguém se atreveria a alugar um espaço ali se não tivesse garantias de que a clientela ia para lá. Sem grande escolha, a não ser ficar em casa, é natural. Mas a coisa piorou este ano...
Este ano a SDPS aceitou que um grupo de privados pusesse para lá uns DJ's a fazer tocar porcaria no espaço público e, para pagar a esses tocadeiros de computador, fechou o espaço, pago com o fruto da subtracção coerciva dos rendimentos de quem trabalha. À força de barreiras de ferro lá somos todos encaminhados como gado a uma bilheteira onde, garanto-vos, não se passam recibos nem se usa livro de reclamações.
Não é a inexistência de recibos que me chateia, mas a desfaçatez com que se fecha um espaço pago com o erário público, em situação de monopólio instituído, para entregar lucros sabe-se lá a quem.

1 comentário:

Ana Pinheiro disse...

Pois é, e eu que pensava já ter pago a portagem na PSL antes de sair do Funchal…, será que é lá que posso pedir o livro de reclamações e o recibo? Ops…, já estou baralhada! CMPSanto, SDPS, PSL, não será tudo a mesma coisa?