Fui hoje ter umas aulinhas de dança. Não é a primeira vez que me interesso por danças que exigem pares. Na minha pré-adolescência frequentei aulas de danças de salão e não me safei mal, penso eu. Mas o meu professor da altura ensinava os passos das diferentes danças isoladamente, o que me obrigava a descobrir por mim formas de os juntar a todos num movimento fluido e coerente. E nem eu, nem o resto da turma, nos dávamos mal nessa aventura.
A dança a que hoje me entreguei é coisa nova, pensada para ser dançada com quase todo o tipo de música, e o método de ensino é do tipo industrial. Põe-se toda a gente em linhas de pares e ensinam-se sequências curtas de passos por imitação do casal de professores. Eles explicam enquanto fazem, eles próprios, as sequências. Depois de ensinadas duas sequências, é-nos explicado como juntá-las, e depois a terceira sequência é ensinada e eventualmente colada à corrente de sequências. Uma linha de montagem, portanto, que ensina e imprime um certo comportamento previsível a uma massa de indivíduos. Enquanto ali estamos, somos uma massa que se move em uníssono. O paraíso na Terra, segundo Marx e Engels, diria.
Depois de copiosas e nervosas repetições libertam-se amarras e encoraja-se os alunos a dançar livremente uns com os outros. Nestes intervalos da aula em si, para práctica livre do que se aprendeu, o aluno escolhe dançar com os dançarinos já experientes (taxi dancers, veja-se...), com outros alunos (no meu caso, com as alunas, não nos confundamos), ou simplesmente ir ao bar repôr líquidos. Mas a triste verdade é que a lição penetrou fundo nas cabeças influenciáveis dos meus colegas de aula, incapazes de dar outra sequência ao bailarico que não a previamente formatada. Assim, e apesar de menos coordenadas, continuam as peças todas a cair no sítio certo, salvo as aselhices e esquecimentos.
Devem adivinhar aqueles que me conhecem de ginja que eu não me fiquei. Sem grande alarido, resolvi assegurar-me de que a minha individualidade criativa não seria macerada à exaustão naquela linha de montagem. Depois de uma caneca de cerveja, agarrei na taxi dancer do sexo oposto e comecei por seguir a sequência. Depois de duas voltas à coreografia, comecei a misturar os passos. Depois foi a vez da professora, com quem nem me dei ao trabalho de seguir a ordem formatada, e ainda lhe juntei dois ou três passos das minhas danças de salão guardados nas memórias felizes do início da puberdade. Continuei, depois, a espalhar a minha revoluçãozita pelas alunas.
Ninguém se magoou, nem ninguém deixou de se divertir por causa da minha rebeldia individual. Nenhuma das minhas parceiras desaprendeu os passos. Se algo mudou, foi que as alunas tiveram que se deixar guiar por mim, em vez de se anteciparem à sequência, como deve ser para que a beleza de dois corpos em conversa sensual seja mais evidente. Se assim não for, os dançarinos não passam de autómatos sem vida.
6 comentários:
E louvado seja Ford, na vida pública ou privada!
Pois pois... é isso e casamentos de irmãs! ;)
Diz-se que andas à caça do filme... acho bem! Isso, e ser-se original a dançar... eu cá da minha parte mais pareço um exemplar de capoeira a dançar, nada a fazer, sou da geração que tem alguma dificuldade em levantar os pés do chão, e para mexer alguma coisa vai mexendo o cabelo. Nada à fazer! "Grungeiros", "rockeiros" e afins não dançam... curtem a música, e entenda-se, é diferente.
Depois descobri o folk e a "world music"... até lhe acho piada, mas lá está, saber de cor passos de dança não é para meu tiko e teko... para isso andava num rancho folclórico qualquer e até tinha uma fatiota gira!
Habemus ditu!
Eu também sou da geração grunge, e até tive o cabelo comprido para o abanar e sacudir. Adoro rock em quase todas as suas vertentes. Mas uma dançazita agarrado à cintura de uma mulher dá sempre um bom impulso ao charme, além da confiança, e corta caminho em muita conversa.
Como mulher, só posso concordar com o gonçalinho. Não há nada mais sexy que um homem que saiba dançar e conduzir uma mulher na dança.
Só tenho pena de não ser nem desinibida, nem experiente suficientemente para dançar.
Também não se perde nada, diga-se.
Tirando casórios familiares em que sempre dou um passito de dança com o papá (que é da velha escola!) ou com os manos na brincadeira, confesso que não, não danço... hhhhmmmm Portantos... deixa cá ver... assim de repente não vejo nenhuma hipotese para ter a oportunidade de um pezito de dança contigo. A não ser claro, que teu primo se decida à casar de uma vez por todas! hahahaha ok
Parece-me a mim que bem poderei esperar sentadita por esse dia! Bom... nada à fazer!
Oooohhhh... :(
Comprovo a destreza deste moço a dançar...saber guiar!!!!
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