segunda-feira, dezembro 12, 2005

A ponta do iceberg... ou das cruzes

Ontem, ao entardecer, dei por mim a olhar para a decoração natalícia colocada na fachada de uma escola primária onde se ensinam Portugueses, e dei por mim a pensar nas famigeradas cruzes, ou na questão do simbolismo religioso nos estabelicimentos do estado, que é laico. No meio da batalha sináptica que se desenvolvia no meu córtex cerebral, aquela vela enfeitada com duas folhas de azevinho e uma ou outra bola moldadas em tubos luminosos em amarelo verde e vermelho, respectivamente, afigurou-se-me claramente como um símbolo religioso. Não que uma vela com azevinho e umas balas vermelhas seja, obrigatoriamente, um símbolo religioso, mas são símbolos inequívocos de uma festa religiosa: o Natal.
E assim me deixeir ir em imensas extrapolações que daí nascem. Um estado laico não deve ter nas ruas, à custa dos dinheiros públicos, símbolos religiosos ou alusivos a festas religiosas. Umas luzes simples, ou que formem imagens como naus e caravelas, podem ser decorações alusivas ao Reveillon, mas os nossos concidadãos e imigrantes de religiões que não comemoram o nascimento de Cristo não devem ver os seus impostos gastos em figuras especificamente ligadas ao Natal. Nem devem aparecer tais alusões em tudo quanto seja estatal ou autárquico, como as ruas ou os edifícios (à excepção dos privados), ou até mesmo nas televisões ou rádios do estado.
E quem se queixa dos crucifixos nas escolas deve defender, além do que acabei de apontar, que se eliminem todos os feriados religiosos que se espalham pelo ano neste nosso Portugal. Se é laicismo que queremos, exijamos laicismo em tudo o que seja oficial. Ou será que o cinismo é assim tanto?
Só não admito que se proíbam as pessoas de usar os seus símbolos religiosos, porque por aí já se atenta contra direitos individuais.

6 comentários:

Elise disse...

a esmagadora maioria dos portugueses é católica (80%). 90% cristaos e 3% ateus (julgo que são estas as percentagens). Portanto é fácil extrapolar que a maioria dos contribuintes celebram o nascimento de cristo e não se importam com os crucifixos.

Julgo que deveriam ser as escolas a ter a decisão final. Uma decisão tomada pelos professores, pessoal auxiliar, pais e claro, os alunos. E não um burocrata num ministério qualquer.

Para quem não é cristão, resta a hipótese de não celebrar o Natal. Ninguém os obriga a festejar o nascimento de alguém que não lhes diz nada. Mas era uma chatice abdicar dos feriados, não era?

Gonçalo Taipa Teixeira disse...

A questão não pode fugir ao facto do Estado ser laico. os indivíduos podem ter a religião que quiserem, e celebrar o que quiserem, mas um estado laico não se pode envolver. Devo dizer que para mim não me aquece nem arrefece, mas acho que a actual lógica é não ser carne nem peixe. O Estado Português não se assume totalmente como laico, nem se confessa religioso.

GoEThe disse...

Mas será que isto não se enquadra na cultura de que falaste num post anterior?
E não penses que isto é uma coisa típica portuguesa. Vê este post de uma prima minha que também está a viver na Holanda: http://margaridaepedro.blogspot.com/2005/12/hoje-em-delft-o-dia-em-que-as-luzes.html

Elise disse...

outra questão: numa escola do reino unido, uma rapariga foi proibida de usar um colar com um crucifixo, porque e cito - usar crucifixo não é obrigatório para os cristãos. mas nessa mesma escola, Sikhs podem usar punhais tradicionais. aqui.
e o que dizer disto? enquanto que acabei por concordar com a lei do véu em frança, porque os conflitos inter e intra religiosos eram terríveis (mesmo terríveis), no nosso país certas medidas semelhantes são desnecessárias, porque a liberdade religiosa é um direito adquirido no nosso país e porque não relatos de atritos ou conversões forçadas. a igreja católica tem uma relação priveligiada com o estado, mas é de esperar quando a esmagadora maioria do povo é católica.

cada dia que passa leio mais e mais relatos de uma autêntica perseguição ao simbolismo do crucifixo e ao Natal e ao seu verdadeiro significado. e isso não posso aceitar.

Gonçalo Taipa Teixeira disse...

Não quis, com este post, fazer militância contra os símbolos religiosos. Apenas pretendi (e espero, pelo menos, ter andado lá perto) fazer ver que quem defende a retirada dos crucifixos das escolas, escudados no laicismo do estado, não está a ser coerente por defeito. É só uma questão de lógica.

Elise disse...

claro que não estão a ser coerentes! eu percebi gonçalinho, mas temos de continuar atentos. para que não se chegue ao ponto de proibir os colares com crucifixos, porque nºao são obrigatórios!

abraço! :)