quarta-feira, novembro 16, 2005

Racismo sem raça

Racismo. Aí está uma definição fácil para muitos, equivalendo o conceito a xenofobia. Engano perigoso. Xenofobia é o medo, ou aversão, por tudo aquilo que é estranho, ou estrangeiro. Já o racismo é muitas vezes definido como discriminação de indivíduos, ou grupos, considerando apenas a côr da pele. Há quem defenda o racismo com características cientificamente definidas, alegando comportamentos enraizados no código genético.
A ciência biológica usa, hoje em dia, o estudo das diferenças genéticas para a classificação de espécies, subespécies e raças, para além de outro tipo de relações mais amplas, onde, aí sim, se misturam um pouco mais as vertentes fenotípica e genotípica (as características visíveis e as genéticas, respectivamente).
O exemplo do Canis lupus é bastante claro. A análise genética ao lobo e ao cão doméstico levou os taxonomistas (os cientistas que lidam com as relações entre as espécies) a considerarem a existência de uma só espécie, que inclui duas subespécies: o Canis lupus propriamente dito, e o Canis lupus familiaris, o “nosso” cão. Penso que ninguém tem dúvidas em dizer que os cães de diferentes raças são, visivelmente, muito diferentes entre si. Têm fenótipos muito variados. Mas essas diferenças não significam, obrigatoriamente, grandes diferenças genéticas, sendo estas, no caso dos cães, insignificantes para se definirem como espécies (ou até subespécies) diferentes. Já para definir a raça usam-se essas diferenças físicas visíveis. Desde que seja possível definir, de forma quase hermética, onde começam as características de uns e começam as dos outros. Nos cães isso é possível.
E no Homo sapiens, é possível? Se pegarmos em dois indivíduos à sorte, um escandinavo e outro sub-sahariano, existem fortes hipóteses de termos diferenças evidentes. Mas onde é que estas acabam, ou começam? É possível escolher vários fenótipos intermédios entre estes dois indivíduos, sem nunca nos apercebermos de nenhuma mudança radical, ao contrário do que acontece com os cães. As “raças” humanas, no meu entender, não vão além de um conceito cultural.

7 comentários:

GoEThe disse...

Acho que vi também um estudo sobre a domesticação dos cães que chegou à conclusão que não houve só um evento de domesticação nos cães. Ou seja, há raças de cães que são mais próximas dos lobos do que de outros cães. O que não tem a muito a ver com a questão do racismo, uma vez que se pensa que o homem actual provem de áfrica após uma expansão que substitui completamente outros hominídeos que existiam anteriormente, como o Neanderthal na Europa, por exemplo (embora n haja a certezas).
Mas voltando ao racismo, acho que o essencial deste post é que há mais diversidade dentro de cada grupo do que entre grupos. Se pussessem todos os homens alinhados por ordem de uma característica física qualquer seria extremamente difícil definir onde acabaria um grupo e começaria outro.

Gonçalo Taipa Teixeira disse...

Parece-me que foi isso que eu escrevi.

Gonçalo Taipa Teixeira disse...

Quanto às domesticações e a teoria da "Eva africana", não era o que interessava. Não quis estabelecer relações históricas ou evolutivas. Pretendi apenas expôr aquilo que vocês confirmaram: o conceito de raça humana é vazio, do ponto de vista biológico.

Elise disse...

o Homem é um ser bio-psico-socio-cultural.

Há uma miriade de factores que influenciam o crescimento e desenvolvimento de uma pessoa.

mas em psicologia diferencial, o professor fez uma referência rápida a por exemplo estudos que calculavam o QI médio das várias raças. (não vou elaborar, senão ainda me chamam racista). ;)

Gonçalo Taipa Teixeira disse...

Qualquer estudo de Q.I. é frágil por defeito, principalmente em seres humanos. Ou será que a cultura das pessoas não influi nesses testes?

Elise disse...

há os chamados free culture tests.

abraço, bom fds.

Gonçalo Taipa Teixeira disse...

Cara Elise:
Mesmo assim (e não quero duvidar da impermeabilidade desses testes, que não acredito ser a 100%), eu sei que posso manipular a estatística de um qualquer estudo para que fique o mais próximo possível do resultado que pretendo.
Aliás, isso vê-se nos estudos sobre as diferenças entre os sexos. A Elise falar-me-á de testes que provam que a mulher é superior, e eu arranjo-lhe uns quantos que dizem o contrário...