Confesso. É minha intenção escrever, aqui, um post políticamente incorrecto, pouco católico, e certamente muito pouco humano. Vou fazer um comentário meramente científico, visto de fora da espécie humana (excluindo por completo a tendência antropocêntrica da ciência humana).
Ouvi o Professor Marcelo falar contra a pobreza, no seguimento do Live8. Disse ele que morre, no Mundo, uma criança a cada três segundos de fome. Imaginem que são de outra espécie, extraterrestre, por exemplo, e estão a estudar o Homo sapiens. Sabem como classificavam esta informação? Eu sei: controle populacional, da parte da própria natureza.
Lembro-me dos gráficos das relações interespecíficas predador/presa das minhas aulas de Biologia do secundário. Estas relações podem ser consideradas, exactamente da mesma forma, entre um consumidor/produtor. É simples: uma espécie depende de uma ou mais espécies para sobreviver. Se o o número total de indivíduos (ou peso total de biomassa consumível) dessas espécies predadas (e/ou consumidas) diminuir, a população da espécie consumidora segue a mesma tendência, por fome... E este mecanismo funciona nos dois sentidos: se a população da espécie consumidora (Homo sapiens, por exemplo) aumenta, consome mais, aumentando a pressão sobre as populações consumidas, e diminuindo o seu número de efectivos. Penso que já se torna claro que estamos perante um fenómeno cíclico, com tendência a diminuir as flutuações populacionais, em direcção a um ideal (que é practicamente impossível) de equilíbrio perfeito entre as populações (aparecem sempre factores pontuais que desiquilibram tudo, como as epidemias, por exemplo).
É sabido que a população mundial de desta espécie bípede a que me refiro, há já muito ultrapassou os limites comportáveis, em equilíbrio, pelo planeta. A pressão é tal, que já não falo em ecossistemas pontuais. Estou a falar do ecossistema Terra. já várias espécies desapareceram, outras vão a caminho. E, apesar de da espécie humana se achar eterna, quando só existirem neste planeta as espécies por nós domesticadas e cultivadas (e as que apanharem a boleia, como baratas, ratazanas e outros), estaremos vulneráveis. Vulneráveis a epidemias novas (não nos podemos esquecer que os seres unicelulares evoluem milhões de vezes mais rápido que nós), tanto em nós, como das espécies de que dependeremos exclusivamente. Vulneráveis a sofrer pressões populacionais ainda maiores, entre indivíduos da nossa própria espécie, resultando em constantes guerras por coisas ainda mais mesquinhas do que aquelas que hoje as justificam.
Em suma, temos dois caminhos: ou deixamos a natureza actuar, e continuamos alegremente a caminho da nossa própria e mais que certa extinção, ou tentamos equilibrar as coisas, prolongando a nossa vida enquanto espécie neste planeta.
Uma terceira via será descobrir outro lar para a nossa espécie, e andar alegremente de planeta em planeta, consumindo tudo à nossa passagem.
Não vos vou dizer qual seria a minha escolha... adivinhem. Talvez seja uma quarta via...
3 comentários:
Antes do mais, saiba-se que sou solidário.
O grande problema é o do equilíbrio como tu muito bem falaste! Enquanto uns comem mais do que o necessário para a sua sobrevivência (por acaso não tava a pensar em ti, Gordo!), outros, apesar dos seus países terem recursos naturais abundantes, não conseguem, pelas mais variadas razões, obter quantidade suficiente de alimento para sobreviver e viver!
Não que eu tenha feito alguma coisa para ajudar alguém com fome e não perco o meu apetite por causa disso!
Quanto ao carácter científico do teu blog, concordo que se tenha uma visão extra-cêntrica (isto parece um bocado pseudo-intelectualóide!) das coisas, mas pensa também que a solidariedade não é uma característica exclusiva da nossa espécie e que regimes interespecíficos de cooperação e verdadeira simbiose também existem há milhões de anos! Não podemos falar apenas de predação e presa, mesmo não sendo a espécia humana uma espécie produtora.
Não tou a refutar nada do que tu disseste, nem é esse o objectivo porque aliás concordo de uma maneira geral com o que escreveste! O Homem, como todos os seres vivos, procura sobrviver a todo o custo. Infelizmente, ainda não evoluimos o suficiente para saber onde e como parar antes do custo ser demasiado elevado, o que levará eventualmente à nossa extinção (e à extinção de muitas outras espécies, como já é mais do que óbvio!)
Vou só discordar de uma coisa que disseste, sobre a maior evolução dos seres unicelulares. É verdade que a diversidade dos seres unicelurares é extraordinária e que a sua capacidade de adaptação é verdadeiramente extraordinária, com seres unicelulares a florescer em todo o tipo de habitat, em condições extremas de temperatura, humidade, etc. Mas a taxa de evolução mantém-se relativamente constante, pelo menos se fores adepto da teoria Neutra, ou se fores mais duma de Equilíbrios pontuados, é constante até determinados pontos do tempo onde a evolução é extremamente rápida, mas esses eventos acontecem quer em seres unicelulares como em pluricelulares, que resultaram da evolução de alguns seres unicelulares que decidiram cooperar uns com os outros para o bem do grupo. Mas a Evolução pode ser o tema de um próximo post, se quiseres!
Sou mais pela Neutra. Eu referia-me à sucessão de gerações, que é , nos seres unicelulares, muito mais rápida que a do ser humano. Há um maior número de oportunidades de mutação que no ser humano.
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