quarta-feira, maio 11, 2005

Animais ou objetos? (cont.)

Na continuação do post anterior, com o mesmo título, devo dizer que só os cientistas mais teimosos e receosos de serem acusados de antropomorfismo, assim como todos aqueles cujo interesse é manter o animal como um objecto, não atribuem a capacidade de raciocínio e até mesmo sentimentos aos animais. Até porque o local do nosso cérebro que responsabilizamos pelos nossos sentimentos está na parte mais primitiva deste, sugerindo que os sentimentos surgiram muito cedo na evolução dos animais com cérebro. O problema, do meu ponto de vista, vem de outro defeito de raciocínio contrário ao do antropomorfismo, o antropocentrismo. Se nos consideramos criaturas quase perfeitas, como é que podemos admitir que bestas cheias de defeitos e de fraca moral, que se limitam a existir, nos sejam próximas? Uma boa prova desta filosofia é o facto de já ter usado por diversas vezes neste texto a palavra “Humano”, sempre com o “H” grande, e o mesmo se aplica para “Homem”. A verdade é que os outros animais são mais honestos do que o mais honesto dos Homo sapiens que já passaram por algum processo de aprendizagem. Conhecendo o comportamento de um indivíduo não-Humano posso identificar com facilidade as suas intenções. O Homo sapiens mente até nos seus sentimentos, pelo menos a partir do momento em que aprende a fazê-lo. E são poucas as espécies capazes de destruir a vida a um indivíduo conspecífico, sendo o Homo sapiens e os seus primos Pan troglodytes os melhores exemplos dessa minoria.
Não digo que se deixe de matar animais não-Humanos para comer, isso é inerente à nossa condição de predadores. Nem que se deixe de matar ratos e insectos que nos invadam o território já que representam conflitos directos aos nossos interesses, individuais e colectivos, tal como o leão e a hiena matam as crias um do outro quando a oportunidade surge, eliminando futuros competidores. Mas as torturas de animais (Humanos ou não) por mero divertimento ou interesse económico são gratuitas e desnecessárias para o bem estar geral de espécie Humana.
Veja-se o exemplo dos touros na arena: não é possível negar que o animal está em agonia, de olhos esbugalhados, a salivar e a arfar de cansaço. Não existem dúvidas de que o seu sistema nervoso é muito semelhante ao nosso, cérebro incluído, não deixando muita margem para não acreditar que os touros sintam dor.
Poder-se–à defender o espectáculo da tourada considerando que é um ritual de predação Humano, mas será preciso “brincar com a comida” daquela maneira? Tanto quanto sei, são muito poucos os predadores que torturam a presa propositadamente, sendo que, além do Homem, só me vem à memória a orca (ou baleia assassina, Orcinus orca) que depois de apanhar uma foca ou um leão-marinho, atira a presa viva pelo ar agarrando-a de novo repetidas vezes. Este predador é tido como um dos animais mais inteligentes. Será que a crueldade é directamente proporcional à inteligência?

1 comentário:

CHAU disse...

A ideia tá boa... :) http://coisasporreiras.blogs.sapo.pt