No dia 28 do mês de Abril, o autor do LÁPIS DE CÔR publicou, no seu blog, um excerto de um artigo da Nature que levantou algumas cabeças. Era sobre o conhecimento dos americanos acerca da teoria de Charles Darwin. Senti-me imediatamente desafiado a mandar postas de pescada, e falar sobre o que disse Darwin, o que hoje se "desdiz", e o que a opinião pública não compreende.
Sendo assim, tenho que começar por distinguir a primeira teoria da evolução a ser moldada pelo advento da paleontologia: a do catastrofismo de Cuvier. Este naturalista não viu outra explicação para os fósseis que não fosse a da existência de ciclos de catástrofes, com as quais Deus suprimia os Mundos anteriores para refazer tudo de novo. Seria uma espécie de sequência em que o Todo-Poderoso fez várias tentativas pra chegar à nossa perfeição (isto, na minha opinião, implica admitir que Deus não é perfeito, faz as coisas por tentativa e erro). A igreja da altura adorou esta teoria, porque lhes dava a força de um apocalipse cientificamente provado.
Com o aumento da caça ao fóssil, alguns cientistas começaram a interpretar uma sequência lógica entre as espécies encontradas. Nesta altura, Lamark achou por bem mandar a sua posta, argumentando, cheio de coragem, que o Mundo não era perfeito e que as espécies se adaptam ao meio em que vivem, em constante evolução. Lamark disse que as espécies se moldavam ao meio durante as suas vidas individuais, passando essas alterações à geração seguinte. Com a descoberta dos genes esta teoria teve o seu fim lógico. Também aqui a igreja quis intrometer-se, mas desta vez contrapondo que isso implica dizer que não somos perfeitos enquanto criaturas de Deus. (Eu diria exactamente o contrário, já que assim evitamos a extinção...)
Enquanto Lamark dizia que somos um produto do esforço ontogénico dos nossos progenitores, que nos adaptamos específicamente ao meio, Darwin descrevia as suas orquídeas. As orquídeas são plantas com flores altamente especializadas, das quais Darwin se serviu para introduzir os conceitos de evolução e selecção natural no meio cientifico (muito influenciado pela religião), de uma forma sorrateira. Darwin sugeriu que Lamark estivesse enganado na ordem dos eventos: não é o organismo que se molda ao meio, mas o meio que escolhe aqueles que nele se desenrrascam melhor. A herança de caracteres adquiridos de Lamark dá lugar à herança de caracteres vantajosos, previamente existentes.
Hoje em dia, até Darwin é contestado. Richard Dawkins é o autor da teoria do gene egoísta, que considera que os organismos não passam de caixas de tranporte de genes, sobre os quais actua a selecção natural. isto contraria Darwin porque tira a ênfase ao meio ambiente. Dawkins diz que até a nível molécular ocorre selecção, longe da influência da selecção ambiental.
Um senhor japonês, de cujo nome, infelizmente, nunca me lembro, também quis trocar as voltas ao que disse Darwin. A teoria do neutralismo diminui bastante a importância da selecção natural. Para o japonês (peço desculpa, não me lembro mesmo...!), a evolução ocorre lentamente devido a mutações perfeitamente aleatórias nos genomas das espécies, cujas traduções fenotípicas (ou traduções visíveis) só em casos extremos são seleccionadas. Confesso que esta é a minha teoria favorita, sendo a do gene egoista a que menos me agrada, por razões menos científicas que espirituais.
Já agora, alguma vez repararam que nos documentários se diz sempre "...o animal adaptou-se a este estilo de vida..."? Isto é Lamarkismo.
E assim me vou, que a Queima espera por mim!
2 comentários:
Muito bem Gonçalinho, as teorias são todas bonitas e todas com fundo de verdade e a verdade é que (elas próprias) sofrem uma constante evolução e actualização. Hoje (amanhã posso ter "evoluído de teoria") acho que novas teorias continuaram a surgir, sempre à procura da perfeição que nunca alcançaram devido à própria evolução. Certo?
Claro, Pedro. Nunca devemos parar de procurar novas formas de ver as coisas.
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