sábado, março 11, 2006

Quotas

Depois de ler este artigo de opinião de Fernanda Câncio, no DN, uma questão veio-me à cabeça (que há quem diga que é oca): Para quando um sistema de quotas para gajos de cabelo comprido? É que eu sou gajo, e tenho cabelo comprido. Sou olhado de lado por algumas pessoas, até já fui impedido de entrar num estabelecimento de diversão nocturna, uma vulgar discoteca, sem antes amarrar o cabelo, e tenho professores que parecem partir do princípio que o comprimento do meu cabelo é sinal de algum defeito de personalidade. Era engraçado que se impusessem quotas de entrada nas discotecas para jovens machos avessos ao corte capilar, ou quotas de passagem nas cadeiras da faculdade ou no acesso ao emprego.
Sou alvo de alguma discriminação pelo comprimento do meu cabelo, como já me senti discriminado por usar traje académico, como sei que há muita gente que é vítima de discriminação pelo simples facto de não se apresentar (muitas vezes por azar na lotaria dos genes) dentro dos padrões sociais de beleza. Não é por isso que que vou inventar dramas e quotas para ter acesso igual seja lá o que for. A discriminação é parte da condição humana, existem até estudos sobre a discriminação do parceiro sexual que os nossos genes nos impõem, e a melhor forma de os combater é pela demonstração de que a discriminação pode estar errada. Até porque não somos todos iguais, diga-se, havendo razões de sobra para confiar nos nossos instintos discriminatórios, até prova do contrário.
Não tenho glandes mamárias proeminentes, por exemplo (nem sonho tê-las), para que possa usar um decote generoso e ser atendido com rapidez nos muitos serviços em que o atendente é um membro do sexo fraco (o masculino), no entanto, prefiro esforçar-me mais por ser atendido...
Nem pensa aquela senhora Fernanda Câncio que podem não haver assim tantas mulheres com vontade de se meter na política. Com quotas, podemos chegar ao ridículo de ver um partido político ir buscar mulheres à porta das suas sedes só para cumprir as ditas.
Discriminação positiva não deixa de ser discriminação. A nível pessoal de cada um, não se pode eliminar. Inscrita na lei, é ditadura.

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