Cheguei esta madrugada ao pedaço de terra que o Atlântico não consegue engolir. Trouxe-me um avião carregado de barulhentos turistas nacionais, daqueles que aplaudem sempre o piloto, mesmo quando este faz uma desconfortável e exagerada travagem, para que a aeronave fique bem colada ao solo. Exagerada porque só faltava entrar directamente na "zona de taxi" (não sei é assim que se chama o parque de estacionamento dos aviões) em derrapagem... Tive vontade de ir lá à frente perguntar ao impaciente comandante de que serviu aumentar a pista, se ele só usa metade.
E lá estavam os turistas que só queriam saber de ligar os telemóveis com o avião ainda a travar (talvez antecipando um rápido último adeus), de sorriso nervoso, a aplaudir a fabulosa aterragem na pista de aeromodelismo que existe no imaginário nacional em vez da renovada e aumentada pista do Aeroporto Internacional do Funchal.
Lá estavam eles, ignorando as estéticas luzinhas que em vão advertem para que se mantenham sentados e de cinto posto enquanto o avião estiver em movimento. E numa curva mais brusca, ou no último movimento do aparelho nesta viagem, desequilibram-se, de cu contra a cara de quem se deixou ficar sentado, e pedem desculpas. Sentados, e de cinto, não teriam razões para pedir desculpas. Até me sinto mal, agora, porque desejei que o piloto travasse a fundo naquela altura (e não antes), a ver se iam uns quantos ter com ele.
Como se não bastasse, cheguei à sala das cintas das bagagens quinze minutos antes da dita que nos estava destinada começar, sequer, a funcionar. Enquanto as pessoas esperam que os delicados bagageiros façam o seu serviço, a ANA podia fazer passar entretenimento pelas correias. Podiam fazer circular desde palhaços que divertissem as crianças de pulmões inflamados ou servissem de bode expiatório para os mais frustrados, ou umas jeitosas em biquini que discursariam com eloquência sobre as maravilhas da Região Autónoma (o que me acalmaria bastante, estou certo).
Mas o que interessa nesta ladaínha que por aqui derramo, é que estou aqui. Estou de volta ao ponto no mar onde nasci.
(Corrigi, envergonhado e de espírito irritado com minha humanidade, os erros que o caro amigo Aves Raras descobriu neste texto. Quanto ao igualmente grosseiro erro ortográfico preso no meu comentário, nada posso fazer. E a minha alma chora por isso.)
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