Não sou um rebelde. Nunca fui. Sigo lenta e descontraidamente as modas, sem seguir acrítica e cegamente as revistas e programas de televisão. Também não me visto a despropósito em declaração de diferença. A minha maior rebeldia de adolescência foi deixar crescer o cabelo até meio das costas, aos dezoito anos (cortei-o no dia 18 de Fevereiro de 1995 e nunca recuperei totalmente).
Mesmo assim, quero rebelar-me. Quero questionar a normalização que hoje me impõe a sociedade. Não pretendo, nem defendo, que se contrarie tudo o que a mente colectiva nos impinge, mas talvez devamos questionar tudo como um adolescente. Impingem-me cheiros, visuais, saúde e ideais, e raramente um é justificável sem o outro, especialmente os ideais que podem não ser os meus. É quase como responder à pergunta porquê?, dizendo que o Big Brother sabe o que é melhor para ti.
Todos temos uma vontade própria da qual não devemos abdicar, como um sacrifício em favor da normalização que grassa nas sociedades amodernadas, onde o pensador independente é ostracizado como louco, teimoso, ou simplesmente mal intencionado. As coisas vão correr mal se eu for por este ou aquele caminho? Talvez. Mas pretendo descobrir por mim, assumindo a responsabilidade pela escolha.
Nunca me puseram num daqueles aparelhos com rodinhas que asseguram a verticalidade dos infantes enquanto estes fingem que caminham, e não é agora, na viragem dos trinta, que me vou sujeitar a tal maquineta, mesmo que figurativamente. Aprendi a andar porque caí, aprendi a correr porque esfolei mãos e joelhos. Foi de cabeça aberta, e à base de muito sangrar, que aprendi a dominar a minha BMX nos saltos e outras habilidades do género. Foi por uma cicatriz que ainda hoje tem a área do meu polegar que desisti de andar de skate, especialmente em cima de folha de zinco. Subi a árvores e caí delas abaixo, muitas vezes com passagem pelos ramos mais baixos, e curei as feridas à base de cuspidela. (Garanto que em toda a minha vida só parti um osso, uma falangeta de um dedo do pé esquerdo, numa piscina vigiada)
Há coisas que só se aprendem por tentativa e erro, mas a institucional normalização que hoje nos querem impôr, tem por objectivo eliminar o erro, evitando-o, e não corrigindo-o. É eliminar a aprendizagem. E isso torna o indivíduo dependente daqueles que decidem o que é seguro, ou até moralmente correcto. No fundo, é a preguiça mental, o conforto de não ter que tomar uma decisão e assumir responsabilidades pela mesma, que nos leva a abdicar da liberdade individual.
Eu, que sempre falei mais do que fiz, e que deixei que a vida me conduzisse, mais ou menos normalizada por outrém, pretendo mudar o meu status quo. Pretendo responsabilizar-me pelas minhas escolhas, assumir os meus erros. E, já agora, gostaria que o Estado e a sociedade não se metessem, a não ser para me pedir responsabilidades se alguma das minhas escolhas prejudicar, aberta e inequivocamente, a liberdade de outro indivíduo.
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