sábado, março 17, 2007

A solidariedade... dos outros

A acusação que mais vezes cai sobre mim quando discuto o Estado social, é a de que tenho que tentar ser mais solidário com os outros. Defende quem me acusa que seria mais solidário da minha parte permitir que o Estado me prive de rendimentos e os use para fazer a caridade que os senhores que por lá andarem a fazer de Governo considerem mais conveniente. É-me constantemente apontado que se o Estado se abstiver de se meter em certas áreas sociais, ninguém o fará por sua vez.
Posso estar errado, mas quem diz isto parece admitir, portanto, que de humanista tem pouco, já que não acredita que o seu semelhante seja capaz de solidariedade, mesmo que lhe seja concedida liberdade económica (com uma redução drástica dos impostos, por exemplo). Cada um julga os outros à sua própria imagem...
Eu aprendi, desde pequeno, que a solidariedade só tem valor quando é voluntária. A solidariedade dos outros não me diz respeito a não ser na escolha das minhas relações sociais. O dinheiro alheio não é meu para que seja eu, ou outro qualquer em nome de um Estado que se quer amoral (que é diferente de imoral, vejo-me obrigado a apontar), a destinar a sua utilidade social ou não.

6 comentários:

AA disse...

Precisamente. A solidariedade imposta aos outros é servidão, ou escravatura. Obrigar pessoas a trabalhar para os outros, só porque essas pessoas estão debaixo do poder político dos mandantes, nada tem de virtuoso.

Desculpa estar sempre a bombardear-te com recomendações, não é para fazer namedropping, que é uma prática nojenta, mas quem sabe um dia pegas num livro da biblioteca: The Virtue of Selfishness de Ayn Rand, ou The Ethics of Redistribution de Bertrand de Jouvenel, ambos demolidores.

GoEThe disse...

É engraçado ver o AA falar de egoísmo. Em termos de evolução, é mais difícil explicar comportamentos solidários do que egoístas. No entanto, comportamentos solidários acontecem desde mamíferos (i.e. Homo sapiens) a insectos sociais.
Mas uma coisa parece ser certa, o benefício para o indivíduo existe, mesmo que seja indirecto (por exemplo, o prazer). Concordo que não faz sentido a solidariedade ser uma obrigação porque ninguém tem prazer em ser obrigado a ser solidário.

Anónimo disse...

mas nao creio que ajudar seja apenas visto como fonte de prazer... porque nao pode a obrigaçao de ajudar existir, como existe a obrigaçao pelo respeito pelos direitos do Homem. nao farão parte destes alguns que so se conseguem à custa do esforço colectivo, voluntario ou nao?

queremos ser respeitados, mas nao nos esqueçamos que muitos nao conhecem sequer os seus direitos, ou o seu direito a tê-los. cabe a cada um exigir que todos trabalhemos em conjunto para este ser um mundo solidário. os egoistas que so em si pensam devem ser discriminados negativamente, em termos morais, pela maioria da sociedade, e a sua atitude manifestamente reprovada, de forma a educar as geraçoes futuras no sentimento de entre-ajuda e amor fraterno que se exige de seres pensantes e sensiveis.

somos humanos nao apenas tecnologicamente, mas tambem emocionalmente.

um pequeno conselho: tentem conhecer melhor Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Jr e Robert F. Kennedy, e perceberão a urgencia do trabalho global em prol da construçao de um mundo mais proximo e unido...

Gonçalo Taipa Teixeira disse...

Edgar:
Se não for voluntário agride os direitos humanos. Nem é preciso ir mais longe, acho eu.

Gonçalo Taipa Teixeira disse...

Nem Ghandi, nem King, queriam obrigar ninguém a nada. Já JFK, não duvido que quisesse que o Mundo fosse feito à sua imagem.

Anónimo disse...

Nao é o JFK, é o irmao, o RFK...

Tambem levou um balázio, mas nao era ainda presidente.

Some men see things as they are and say why,
I dream things that never were and say why not!"

O JFK era mais "Ask not what your country can do for you, ask what you can do for your country"...