domingo, abril 16, 2006

Falta de comparência

Estava eu longe de uma ligação à rede que não seja do domínio público, prestes a caminhar ansiosamente até ao Atlântico que banha o lado sul da Ilha do Porto Santo, quando a notícia de que não houve quorum numa votação na assembleia legislativa nacional me fez voltar ao sofá. Depois de acabada a peça jornalística e ouvidas desculpas e explicações, retomei a intenção de tomar um banho de mar. Chegado à fina areia daquela ilha (para quem não sabe, a melhor praia do país), fui nadar um pouco. No regresso, espanto meu! Um deputado da assembleia nacional falava ao telemóvel a três metros do local em que as minhas nádegas se afundavam na areia. De calções de banho, mas sem tirar a T-shirt, aquele representante do círculo eleitoral da RAM na bancada social democrática do parlamento nacional, demontrava a quem nele reparasse o que faz um deputado num dia de votação com o salário pago por todos nós: vai à praia...
Este episódio fez saltar à minha febril e pouco fiável consciência todas as veneráveis desculpas que tinha ouvido antes, pela boca de alguns responsáveis parlamentares. É verdade que os entrevistados dos dois partidos mais representados não se descoseram em muitas razões, evitando pôr a mão no fogo por tanta gente, e bem. Mas as desculpas que mais me saltavam à cabeça eram as de que alguns deputados, nomeadamente do BE e do PCP estariam a representar os respectivos partidos em encontros internacionais. Afinal, o trabalho partidário é mais importante que o trabalho legislativo?
Nestes casos, convém perguntar para quem trabalham os deputados, e de onde lhes vem o salário? Serão, por acaso, os partidos a pagar-lhes os honorários, ou o povo Português? Foram eles nomeados pelos partidos, ou eleitos pelos seus concidadãos?
Com ou sem justificação, exceptuando aqueles que apresentam atestados válidos (e porque não juntas médicas para estes senhores?), todos quantos faltam a esta ou qualquer outra sessão legislativa estão em falta para com os eleitores e para com a nação. Estão em falta para com o seu empregador. Que farão estes senhores e senhoras (lá estou eu a discriminar, para que não me acusem de o fazer...) quando a sua cozinheira não lhes aparece lá em casa por várias ocasiões, sem justificação credível, incluindo no dia daquele jantar muito importante?

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