Não foi desta que fui para a Serra da Estrela. Sem alojamento para esta noite, só vou amanhã. Assim tive tempo para ir ao cinema de segund'-à-noite, e de ouvir, no regresso a casa, umas parvoíces da boca de um dos "donos de Abril", Vasco Lourenço.
Diz ele que o país está melhor agora do que antes de '74, mas que podia ser muito mais. Do ponto de vista dele e de outros "donos de Abril" o problema surgiu com as eleições de '75, pois o Gonçalvismo era e é a resposta. Continuam a defender que quem não está com a revolução, está contra ela... É a democracia deles.
Ainda mais disse o militar de Abril, disparando contra Alberto João Jardim pela não comemoração do 25 de Abril na Assembleia Legislativa Regional, dizendo ser isso prova do défice de democracia na Região Autónoma da Madeira. A verdadeira democracia pluralista está em aceitar que os outros não tenham a mesma opinião que nós, e não em obrigar os outros a fazer discursos de circunstância, que em nada ajudam na governação do território, só para lhes puxar lustro ao ego. A ver vamos se há comemorações na assembleia açoriana, como não tem havido...
O "herói" não ficou por aí, insinuando que é por causa destes assuntos que a RAM tem um dos défices maiores do país. Não sei se o défice é assim tão grande, se fizermos as contas aos dinheiros devidos pelo Governo central à Região, mas podemos olhar para a questão de outro prisma. Quem não sabe ficará a saber que na RAM não se pagam sequer taxas reguladoras em nenhum estabelecimento do serviço nacional de saúde, sendo este custo extra suportado pelo orçamento regional. Os residentes naquelas ilhas têm descontos nas suas viagens para o território continental, não por iniciativa da TAP, mas porque o governo regional paga o restante. A RAM é seguramente um dos distritos do país onde há mais habitação social, às custas de programas europeus de desenvolvimento das regiões periféricas, algumas ajudas da admnistração central (como qualquer outra região do país), e com contribuições do orçamento regional. AJJ consegue impôr, na política social, um estilo de governação mais próximo do que os PCPs, BEs e outros da extrema esquerda nacional defendem, e por isso se endivida.
Vasco Lourenço não existiria se não fossem as comemorações do 25 de Abril. Teria o direito de antena que eu tenho, nada mais. Por isso tenho que o compreender: tem que tirar as teias ao ego, e afugentar as traças da farda de herói.
Mas isto digo eu, que não percebo nada...
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