sexta-feira, outubro 31, 2008

Ora bem...

Paulo Portas considera que a proposta do governo para multar as empresas que não entreguem o IVA à horinha, mesmo que ainda não tenham sido pagos pelos seus serviços (pagamentos, esses, o alvo da tributação), é "uma extorsão fiscal". Tem razão, o dirigente do PP, mas não disse tudo: cobrar impostos é extorsão.

O Pastor Metodista de Little Rock, Arkansas, Hezekiah David, considera que ter um negro como candidato favorito à presidência dos EUA é "obra de Deus". Assim se vê que, para este senhor de nome tão Bíblico, a eventual eleição de Obama para a presidência daquele país de fanáticos é uma questão racial, para além de religiosa. Tudo factores a considerar com agrado quando se está a escolher alguém que vai ocupar um cargo com demasiado poder sobre as vidas dos seus cidadãos.

A sondagem caseira

Numa sondagem aqui no blogue, pedi a quem lê as minhas baboseiras que me ajudasse a escolher uma nova assinatura. O resultado da dita cuja não deixa dúvidas que os progressistas perderam, como de costume, na inglória luta contra os conservadores que se recusam a mudar o status quo. A questão que agora se põe é se eu, soberano que sou da minha individualidade e do que eu me quiser chamar, acato a sugestão ou não...

quarta-feira, outubro 29, 2008

Ainda não chega, pelos vistos

Vi hoje, através do site da RTP, o programa Prós e Contras de segunda-feira passada. Falava-se das crises, principalmente do mercado imobiliário e de arrendamento. A conclusão a que cheguei, depois de ouvir tantas doutas opiniões, é que, depois de décadas de restrições de mercado e sábios regulamentos, a solução exige mais restrições e mais regulamentos. Não se aprendeu nada com o passado.

sábado, outubro 25, 2008

Lealdade

Não sei porquê, mas hoje dei por mim a pensar sobre lealdade. Nos tempos que correm é um valor raro. Alguns podem contrapôr que até existe em exagero nos dias que correm, e referir-se-ão, deduzo eu, às lealdades mal dirigidas dos clubismos, partidarismos e coisas afins. Não tenho consideração por esse tipo de lealdades, de que eu próprio partilho em termos clubísticos mas sempre com capacidade crítica e na brincadeira. Não direi que não me deixo levar, por vezes, nalguma parvoíce que tenha a haver com os clubes do meu coração, mas posteriormente sou capaz de descer do púlpito do pregador cego e gozar comigo mesmo. Nem que seja em privado.
Mas a lealdade a que me refiro, a única real e de valor, a meu ver, é a lealdade para connosco. Eu sou leal a mim mesmo. Isto quer dizer que farei os possíveis para não quebrar a minha palavra, por exemplo, sob pena de perder o respeito dos outros ou, mais importante, o meu respeito próprio. Por isso não nego as minhas crenças, as minhas ideias, os meus sentimentos. Tento sempre ser-lhes leal com maior ou menor dificuldade.
Hoje em dia o indivíduo é ensinado desde pequeno a sobrepôr a lealdade para com o grupo (no final das contas, para com o estado) à lealdade que ele deve a si próprio. Apaga-se assim o amor-próprio e o orgulho do indivíduo. No fundo, o próprio indivíduo esbate-se contra o pesado muro da engenharia social, sempre estudada, analisada e posta em prática por pessoas cujos méritos desconheço e cuja autoridade sobre a minha vida privada não reconheço. Mas como o cidadão está treinado a esquecer a honra e o amor próprio, permite que tudo aconteça.
Sem lealdade a si próprio, o indivíduo adopta a moralidade dos regulamentos e rege a sua vida pelos princípios que os engenheiros sociais (sejam eles quem forem) decidem ser os correctos.
A palavra é substituída pela desconfiança, a honra pelo politicamente correcto. Até o amor pelo próximo é esquecido, entregue que fica à ausência de amor próprio e de lealdade do indivíduo para com os seus valores.

domingo, outubro 19, 2008

Discriminando a parvoíce e a treta

Discriminação. Aí está uma palavra cujo significado tem sofrido algumas alterações ao longo dos anos. Ou talvez não. Fui ver. No dicionário online da língua portuguesa, no site da infopédia, a entrada da palavra discriminação tem uma primeira definição que diz: "acto ou efeito de discriminar; separação, destrinça". Até aqui, tudo bem. A segunda entrada também não espanta ninguém, definindo discriminação como "capacidade de estabelecer diferenças claramente; discernimento, distinção". Estas duas definições completam-se e, mais importante, não parecem atropelar-se nem moldar razões. Digamos só que não são definições carregadas com energias educacionais e de moldagem da moral colectiva.
A terceira definição tende para o discurso politicamente correcto: "acção de tratar pessoas ou grupos de pessoas de forma injusta ou desigual, com base em argumentos de sexo, raça, religião, etc.; segregação". Depois continua com definições de discriminação positiva e negativa, dentro desta terceira definição, como actos políticos e de engenharia social, ocultando o facto de que uma não existe sem a outra. Ou alguém acredita que é possível discriminar positivamente um grupo sem discriminar negativamente todos aqueles que não pertencem a esse grupo? Mas voltemos à discriminação propriamente dita, versão três.
Qualquer tipo de discriminação implica um tratamento diferenciado de um indivíduo, ou grupo de indivíduos, em relação a outro ou todos os outros. O acto de a minha mãe me chamar a mim e não a minha irmã, por exemplo, é discriminatório, e baseado em vários factores, muitas vezes incluindo sexo, tamanho, e/ou cadastro. Sendo assim, esta última entrada é redundante em relação às outras duas.
A única diferença, e era aí que eu queria chegar, é que se fazem julgamentos de valor. A injustiça da discriminação é moral, ou seja, cultural, e apresenta variabilidade. Se me disserem que estou errado por considerar a homossexualidade uma doença, por exemplo, e por isso me insultam (como já aconteceu), estão a discriminar-me. Se essa discriminação é injusta ou não, cabe a cada um decidir.
Quanto à palavra desigual, usada na definição de discriminação, é uma verdadeira treta. Qualquer discriminação conduz a desigualdade, negativa, positiva ou até mesmo neutra. Ou será que quando entro num bar e pago uma rodada aos meus amigos, não os estou a discriminar positivamente pela relação que tenho com eles, discriminando negativamente todos os outros presentes no bar? Estou a dar tratamento desigual...
A manipulação da linguagem é cada vez mais evidente para quem vai prestando atenção. As ideologias infiltram-se na nossa bela língua, manipulada por pessoas que só desejam ter razão, nem que para isso tenham que retirar as palavras à argumentação contrária. Vejam-se palavras como democracia ou liberdade... Que significaram noutros tempos, e que significam agora?

sábado, outubro 18, 2008

Isto de ser trintão nem é assim tão mau

Já passei a barreira dos trinta. Não será uma grande revelação para quem me conhece ou se dá ao trabalho de ir ver o meu perfil. A passagem em si foi pouco festiva... Até incluiu uma agressão infantil e pouco leal, como aqui descrevi.
Devo dizer que não me afectou muito, esta passagem, até porque já sentia a estabilidade emocional necessária para já não me ver como um jovenzito cujas opções poucas ou nenhumas consequências acarretam.
Não negarei que houve uma ou outra situação em que senti que o tempo me queria morder a juventude, arrancando alguns pedaços à juventude que ainda me resta. Houve a ocasional tentação feminina que me entrava olhos adentro e mexia com as entranhas, fazendo-me lembrar do meu compromisso com a mulher que na altura me povoava os planos de vida. Também senti, de vez em quando, maior dificuldade na recuperação física depois de um jogo de futsal ou de uma sessão de ginásio.
A funesta sensação de que Cronos me persegue tornou-se mais forte e nefasta quando os planos que me seguravam o ego foram atirados ao escuro rio da incerteza. Pensei que estava acabado, com trinta e um anos e sem vislumbre de carreira segura. Pensei que nenhuma mulher alguma vez se interessasse por mim.
Hoje vejo que estava errado. Nem o meu físico está assim tão mal-tratado, nem a minha carreira, que se afigura como uma aposta algo insana, assusta assim tanta gente. Antes pelo contrário.
Acabei de saber que fui outra vez aceite na equipa de futsal, apesar a concorrência de rapazes dez anos mais novos que eu, cheios de energia e habilidade. Entre mais de cinquenta candidatos, vinte e dois foram escolhidos. E eu, com quase trinta e dois anos, pouca habilidade, mas muita vontade, entre estes últimos.
Se juntarmos a isto as danças de salão em que me vou desenrascando bastante bem, posso dizer que este trintão está aí para as curvas. E isso de dizer que pretendo escrever para ganhar a vida, afinal não afasta assim tantas mulheres. Algumas até gostam da ideia, vá-se lá saber porquê.
É por isso que vos digo: não se assustem com as três dezenas. Levam algumas coisas, é verdade, mas trazem outras mais duradouras, mais procuradas.

Nota: Eu tenho perfeita noção de que este texto, como outros que aqui tenho escrito, me fazem parecer convencido. Se calhar é porque sou. Se calhar...

terça-feira, outubro 14, 2008

O Gótico e Rosseau

Alguns dos que lêem este blogue sabem que estou a tirar um curso de artes no País de Gales. Creative and Professional Writing, para quem tiver uma curiosidade especial por pormenores. Esta malta das artes, regra geral, é muito dada a socialismos e anarquias mal amanhadas, mas sempre com a convicção de que a arte é a razão de ser do ser humano e da sociedade. Sempre que a política aflora num qualquer assunto literário, eu vejo-me sempre a braços com a a solidão de quem rema contra a maré. Para ser justo, devo dizer que tenho encontrado alguns professores, principalmente os da escrita criativa, que não me tentam calar a retórica. Um ou dois até já se juntaram a mim uma vez ou outra. Mas os responsáveis pelas cadeiras mais formais da linguagem e da literatura afinam pelo diapasão da igualdade musculada e outras falsas bem-aventuranças do género.
Dito isto, podem imaginar o meu espanto quando uma professora minha de literatura nos fornece um auxiliar didático em que Jean Jacques Rousseau é citado. Isto só para ilustrar a rebeldia da literatura gótica Galesa em relação ao agressor Inglês. E que citação! A ler:

"Before art had moulded our behaviour, and taught our passions to speak an artificial language, our morals were rude but natural... Compare without partiality the state of the citizen with that of the savage... you will see how dearly nature makes us pay for the contempt with which we have treated her lessons." Jean Jacques Rousseau, 'Discourse on the Origin and Foundation of Inequality Among Men', 1755

E esta, hein? Fernando Pessa

sexta-feira, outubro 10, 2008

Nem no cravo, nem na ferradura

"O grupo parlamentar do PS vai apresentar amanhã uma declaração de voto, após a votação dos projectos de lei do Bloco de Esquerda e de os Verdes sobre o casamento entre homossexuais. Apesar de votarem contra os diplomas, os deputados explicam que estão a favor da união entre pessoas do mesmo sexo." in Público

Dão uma no cravo, outra na ferradura. Mas o que eu queria mesmo é que não martelassem nem num, nem noutro. Que raio de mania de se meterem na moral e na vida privada do cidadão...! Se ainda prometessem tirar o casamento das unhas do estado, eu seria dos primeiros a aplaudir.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Originalidade... Népia

Devem ter notado os mais atentos que estou a pensar em mudar o nome com que me apresento neste blogue. Pensei em Gonçalo TT, de Taipa Teixeira. Acontece que, como muito bem lembrou a Sabores em comentário ao post anterior, o meu cunhado novo em folha tem por iniciais TT. É, aliás, tratado por alguns amigos por TT. Ora, para alguém que está a estudar escrita criativa, configura-se na minha sugestão uma grande falha de originalidade. Enfim...
Mas a Sabores sugere uma solução alternativa que me agrada, pois já muita gente me trata por Çalo ou Çalinho, mas peca por não ser uma grande mudança em relação a Gonçalinho.
Por tudo isto interrompi o inquérito anterior e substituí-o por outro, para que me ajudem a pensar no assunto, já que esta cabeça anda um bocado ocupada. Agradeço antecipadamente.

segunda-feira, outubro 06, 2008

Admirável Mundo Semi-Novo

Apesar dos muitos avisos, tanto históricos como literários, acerca do perigo que a liberdade de uma sociedade corre cada vez que se propagam medos, ameaças e oportunistas promessas de segurança, o mau agoiro não desaparece. Diria mesmo que este mau agoiro já evoluiu para além de si próprio e é já uma realidade. Realidade que muitos indivíduos já nem negam, apenas o justificam e com ela colaboram. Estes indivíduos armam-se de boas intenções e de grandiosas ideias acerca da construção da sociedade perfeita. Assim alguns entregam a condução da sua vida a outros, e forçam terceiros a fazer o mesmo com a desculpa de que se não colaborarmos todos, a sociedade perfeita não pode tornar-se uma realidade. Começa aí aquele que me parece ser o maior problema desta filosofia: como é possível chamar perfeita a uma sociedade que ameaça com violência (subtracção de propriedade, inibição da liberdade de movimentos ou até mesmo violência física) um só que seja dos seus membros, simplesmente para que possa existir?
Não é perfeita, nem admirável. É ditadura.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Dança e o indivíduo

Fui hoje ter umas aulinhas de dança. Não é a primeira vez que me interesso por danças que exigem pares. Na minha pré-adolescência frequentei aulas de danças de salão e não me safei mal, penso eu. Mas o meu professor da altura ensinava os passos das diferentes danças isoladamente, o que me obrigava a descobrir por mim formas de os juntar a todos num movimento fluido e coerente. E nem eu, nem o resto da turma, nos dávamos mal nessa aventura.
A dança a que hoje me entreguei é coisa nova, pensada para ser dançada com quase todo o tipo de música, e o método de ensino é do tipo industrial. Põe-se toda a gente em linhas de pares e ensinam-se sequências curtas de passos por imitação do casal de professores. Eles explicam enquanto fazem, eles próprios, as sequências. Depois de ensinadas duas sequências, é-nos explicado como juntá-las, e depois a terceira sequência é ensinada e eventualmente colada à corrente de sequências. Uma linha de montagem, portanto, que ensina e imprime um certo comportamento previsível a uma massa de indivíduos. Enquanto ali estamos, somos uma massa que se move em uníssono. O paraíso na Terra, segundo Marx e Engels, diria.
Depois de copiosas e nervosas repetições libertam-se amarras e encoraja-se os alunos a dançar livremente uns com os outros. Nestes intervalos da aula em si, para práctica livre do que se aprendeu, o aluno escolhe dançar com os dançarinos já experientes (taxi dancers, veja-se...), com outros alunos (no meu caso, com as alunas, não nos confundamos), ou simplesmente ir ao bar repôr líquidos. Mas a triste verdade é que a lição penetrou fundo nas cabeças influenciáveis dos meus colegas de aula, incapazes de dar outra sequência ao bailarico que não a previamente formatada. Assim, e apesar de menos coordenadas, continuam as peças todas a cair no sítio certo, salvo as aselhices e esquecimentos.
Devem adivinhar aqueles que me conhecem de ginja que eu não me fiquei. Sem grande alarido, resolvi assegurar-me de que a minha individualidade criativa não seria macerada à exaustão naquela linha de montagem. Depois de uma caneca de cerveja, agarrei na taxi dancer do sexo oposto e comecei por seguir a sequência. Depois de duas voltas à coreografia, comecei a misturar os passos. Depois foi a vez da professora, com quem nem me dei ao trabalho de seguir a ordem formatada, e ainda lhe juntei dois ou três passos das minhas danças de salão guardados nas memórias felizes do início da puberdade. Continuei, depois, a  espalhar a minha revoluçãozita pelas alunas.
Ninguém se magoou, nem ninguém deixou de se divertir por causa da minha rebeldia individual. Nenhuma das minhas parceiras desaprendeu os passos. Se algo mudou, foi que as alunas tiveram que se deixar guiar por mim, em vez de se anteciparem à sequência, como deve ser para que a beleza de dois corpos em conversa sensual seja mais evidente. Se assim não for, os dançarinos não passam de autómatos sem vida.