Aqui me tenho de volta, depois de muita procrastinação — mal de que sofro com frequência, confesso, mas que só uma vez me deixou ficar mal. Posso inventar mil e umas desculpas para não ter vindo cá escrever durante todo este tempo, mas a principal é que não ganho nada além da satisfação por fazê-lo. Também não me seria difícil inventar uma outra razão para cá voltar, mas a verdade é que já tinha saudades de cá vir treinar os dedos e o verbo.
Estou na Ilha do Porto Santo, que alguns — cada vez mais — dizem ser de Porto Santo, não sei porquê, e que é, como cantava o saudoso Max, a jóia mais antiga de Portugal e a melhor praia que conheço. Fui recebido ontem de manhã por um céu amuado, a conter as lágrimas a custo. Aproveitei para arrumar a tralha e descansar das duas horas e meia passadas ao sabor do embalo irregular do Oceano Atlântico, depois de uma noite em que mal dormi.
Hoje o céu parece ter esquecido as lágrimas, mas ainda não se recuperou totalmente do egoísmo que o impede de soltar o sol. Mesmo assim, o plano é ir já para água e depois descansar na fina areia na companhia de um Nobel da Literatura desactualizado, mas bastante entretido. A ausência de pruridos politicamente correctos em redor da raça e/ou condição social — por não estarem ainda na moda, à época — diverte-me, e torna a descrição mais honesta e real. Se alguma curiosidade despertei, sacia-la-ei explicando que estou a ler Plain Tales from the Hills, de Rudyard Kipling.
Tenho que me apressar; o tempo esvai-se e ainda tenho que moldar uma espreguiçadeira na areia, para maior conforto na leitura.
Sem comentários:
Enviar um comentário