Se é obrigação do estado dar emprego a todos quantos tiram um curso superior apenas porque têm um canudo, então esperem pelo fim deste ano lectivo. Terei, então, razões para exigir um emprego. Mas não o farei. Não o farei porque escolhi o curso que escolhi, depois de muito experimentar, infelizmente, apenas porque sinto que tenho vocação e muito gosto em fazer aquilo para que agora me preparo. Escolhi até um curso que não me dá garantias nenhumas de sucesso a não ser por acreditar nas minhas próprias capacidades e talentos.
Quando vejo os enfermeiros exigirem que o Serviço Nacional de Saúde os contrate, não consigo deixar de pensar na mentalidade estúpida que grassa o meu país em relação ao ensino superior. Estes cidadãos que tiraram o curso de enfermagem não o fizeram por gosto, fizeram-no pelo emprego. E é assim com muitos cursos e profissões. Muito pouca gente em Portugal escolhe um curso baseado no seu gosto ou nos seus talentos. É sempre a chave para uma profissão que procuram, muitas vezes nem interessa qual.
Até o primeiro argumento que ouço chorado nos telejornais nacionais é de que existem muitos licenciados em enfermagem a sair directamente para o desemprego. Ora, se alguém os obrigou a tirar o curso, peçam responsabilidades a essa pessoa ou entidade. Se ninguém os obrigou, que assumam eles a responsabilidade da sua escolha. E se, como se argumenta depois, existe falta de enfermeiros no SNS, então porque é que a procura é baixa? Se houvesse assim tanto lugar por preencher os empregadores estariam um pouco mais próximos do desespero e ofereceriam melhores contratos, com a muito exigida efectividade e tudo.
Também já ouvi dizer que os enfermeiros merecem consideração especial porque tiram o curso motivados pelo serviço em prol do próximo. Se assim fosse não reclamariam estatuto, como fazem nas suas batalhas quixotescas para não se sentirem inferiores aos médicos, nem contratos assim ou assado. Os enfermeiros, como os médicos, os professores, os carpinteiros, etc., estão na profissão que estão para ganhar dinheiro vendendo serviços, de preferência fazendo uma coisa de que gostam e para a qual sentem que têm vocação. Se assim não é, tenho pena.