Comentava eu que gostava de uma música do grupo brasileiro Sepultura (Roots Bloody Roots) que se ouvia na altura, quando um outro Português que também por cá estuda se mostrou surpreendido pelo facto. E justificou essa sua surpresa, num tom jocoso, com a letra da música, que ele disse ser um hino de libertação dos escravos negros contra o homem branco. Como eu sou de direita, diz ele, eu não devia gostar. Não fosse o ar de brincadeira com que ele disse isto, eu teria ficado ofendido.
Só por me ouvir defender a redução do Estado e a devolução ao indivíduo da sua liberdade de tomar decisões, este jovem revolucionário altamente politizado definiu-me logo como de direita (coisa que não me ofende) e racista.
Esta atribuição de epítetos por parte das esquerdas esconde, na minha opinião, uma estratégia de enclausuramento do debate aos termos que lhes convém. Para manter a discussão política dentro dos padrões doutrinários há que burocratizar a própria discussão, ou colectivizá-la. É preciso encaixilhar as ideias, agrupá-las e categorizá-las para que se possa recorrer com facilidade às doutrinas na refutação da ideia que o outro apresenta. Se a ideia a debater não estiver devidamente identificada nas doutrinas, a esquerda torce-se em argumentos que não se encaixam. Corre-se até o risco de usar argumentação própria e não sancionada pelos donos da doutrina.
Outra boa razão para esta arrumação forçada é poder associar o adversário de debate a coisas negativas, como se vê por este exemplo (através do A Arte da Fuga). Propaganda, nada mais.
Já agora, aqui está a letra em questão. Não consigo perceber a leitura que me foi impingida antes de ler por mim... Até acho que defende o indivíduo, como eu gosto.
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