(continuação) (começa aqui e tem este entretanto)
Já com o passaporte de volta à minha mão, devidamente acompanhado pelo cartão de embarque, decidi-me a passar pela segurança antes que perdesse o vôo, que era já daí a duas horas e meia. Passei, descontraído, descalço, e sem cinto por dois postos de controlo, sempre de passaporte e cartão de embarque lado a lado. Já na fila para embarcar, resolvi fazer algo que podia ter feito logo no balcão de check-in. Olhar para o cartão de embarque. Pedro Gonçalves. Pedro Gonçalves? Resolvi verificar o meu passaporte, não fosse eu estar errado, confirmando que me chamo realmente Gonçalo Taipa Teixeira. Passei, lembro, por dois controlos de segurança de passaporte em punho e talão de embarque ao lado. Ninguém viu nada. Resolvi disfarçar, a ver se a apertada segurança me deixava embarcar em nome de outra pessoa. Mas a Espanhola que horas antes me tinha ajudado com o Português reparou que os nomes não coincidiam. Comentou, a esperta hermana evidenciando uma perspicácia fora do comum, que devia ser por isso que não estava registada nenhuma reserva para a minha bagagem. De seguida, e sem grandes burocracias, a simpática morena resolveu o problema com mestria: traçou um risco a caneta azul por cima de Pedro Gonçalves e escreveu Almeida, Gonçalo Taipa no passe de embarque...
Ao entrar no avião, outra coisa me veio à cabeça: a minha mala estava com o nome errado, e havia uma reserva de uma mala que não tinha sido registada. "Vai dar confusão", pensei eu. Adivinhei.
Já sentado e sem saber se me ria ou ficava nervoso, fiquei a ver o pessoal de cabine a entrar e a sair do avião, a chamar o piloto, e este a pegar no intercomunicador para chamar o senhor Pedro Gonchalves (o cedilha faz-lhes confusão, compreenda-se). Não sou eu, fiquei sentado. Um rapaz foi lá à frente e foi levado porta fora. Provavelmente era ele o Pedro. O Sr Gonçalves sentou-se e o piloto pegou no intercomunicador de novo, desta vez para perguntar se havia no avião alguém chamado Almeida. Levantei o braço. O comissário veio pedir-me que o acompanhasse lá à frente. A minha pequena mala azul-escura estava tristemente pousada no topo da escada, à espera que eu a confirmasse como minha.
Depois de tudo isto, cheguei ao Funchal com uma mala que se declarava como sendo de outra pessoa, mas cheguei seguro. Muito seguro.