A morte de Kim Jong Il não me desperta nenhum sentido de obrigação politicamente correcta em lamentar a perda de uma vida humana. Fui educado (socialmente condicionado) a sentir pesar pela perda de uma vida humana, seja ela qual for, mas a enorme distância afectiva, social, moral e geográfica encarrega-se de purgar esse sentimento, como se de um parasita emotivo se tratasse. Sinto maior pesar quando mato um mosquito que, apesar de me incomodar, não fazia mais do que viver a sua vida.
Mas Kim Jong Il não era um mosquito. Era antes a personificação de um regime que se comporta como uma voraz parasita do povo norte-coreano. E o parasita não está morto. A sucessão de sangue, ao melhor estilo monárquico, foi assegurada.
O que mais me vai entristecendo, em volta deste pequeno acontecimento, é ver que existem portugueses que, quiçá tolhidos por um qualquer sentido de lealdade para com uma causa que recusam dar como torpe, prestam homenagem àquele indivíduo. Ou talvez seja por cegueira colectiva. Por isso assinalo esta data; não pela morte de um qualquer déspota por quem não nutro qualquer simpatia — antes pelo contrário — mas por haver, no meu país, quem me deseje, de sorriso esperançoso na cara, o mesmo destino dos escravos do regime da República Democrática Popular da Coreia (é mais monarquia, pelos vistos).
Por favor (!!!), patrícios, não se preocupem comigo. Prefiro viver sob o vil manto da liberdade.