Estamos todos felizes, enquanto seres humanos capazes de empatia, com o resgate daqueles pescadores das Caxinas, Vila do Conde, naufragos da embarcação Virgem do Sameiro. Estamos felizes, e chamamos heróis àqueles que aguentaram condições pouco aconselháveis para salvarem a própria vida — nada de novo aqui. Também atribuímos heroísmo, merecido, aos militares da Armada que realizaram o resgate. O que este caso tem de estranho — para quem não conhece a realidade Vilacondense — é a presença do Presidente da Câmara daquela que eu considero a minha segunda cidade nos degraus do autocarro de onde saíam, quase que derramados, ao encontro da multidão que declarava vitória. Mário de Almeida (para quem não conhece, é o senhor de cabeça luzidia, bem visível na reportagem videográfica do acontecimento, estacionado nos degraus da porta do autocarro), sem dúvida dominado por algum chamamento superior, lá se deslocou às Caxinas para, qual Martim Moniz, se interpor a um eventual fecho acidental da porta do autocarro. Alguns dirão, cobertos de inveja de tão nobre acto, que o Sr Presidente da Câmara lá foi para se imiscuir na aliviada festa daquela ansiosa e valorosa gente, aparecendo frente às câmaras de televisão. Esses serão vis tratantes, corrompidos pela inveja. Até porque os jornalistas, fosse de microfone ou câmara, não lhe prestaram atenção — mais do que devida! — nenhuma. Filmaram-no quase por acidente, de guarda aos degraus por onde saíam os pescadores que o mar poupou. O seu incomensurável — apesar de tímido — contributo para a segura descida dos homens do mar, tornou-o um alvo inevitável das câmaras. Uma inconveniência, no fundo.
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