O burocrata, em nome do estado que cuida de todos nós, acaba de tirar um grande peso de cima dos ombros do cidadão.
Na sua fome por um bocadinho de areal onde estender a toalha, o incauto veraneante põe-se, com frequência, em risco ao lado das periclitantes arribas que cercam, ameaçadoras, muitas praias do sul de Portugal. Esta irresponsabilidade do puéril cidadão, claramente incapaz de cuidar de si próprio, pode custar aos cofres do estado uns quantos euros, até porque a sua incapacitação representa no mínimo, uma perda de receita para os cofres do estado, tinha de ser combatida.
Começou, o comovido burocrata, por colocar placas de aviso em que se avisava o turista, nacional e estrangeiro, de que as bonitas praias do sul de Portugal são, afinal, armadilhas para os mais incautos. Mas o burocrata, faminto por regulamentos, selos, carimbos e coimas, sentiu uma justificada revolta por haver alguns intrépidos veraneantes que trocavam a segurança da virtual vedação por — imagine-se a imoralidade! — um pouco de isolamento — padecem de alguma patologia anti-social, decerto.
Acometido, então, por um superior sentido de serviço em prol da segurança alheia e do bem estar das estatísticas do estado, o burocrata decidiu proibir, sob pena de multa, a aproximação, por fugaz que seja, do indivíduo ao espaço onde o técnico, melhor amigo do responsável regulador, decide ser grande o risco de ficar soterrado. E por “grande”, para assegurar que as variações nos cálculos probabilisticos do incansável técnico não dão para o torto, entende-se “pouco mais que ínfimo”. Não se pode negar que é mais seguro prevenir.
Esta lei, que pune com multa até o distraído que se atreva a ir ler — por curiosidade, que seja — os sinais de perigo encostados à insegura parede de areia, mostra o quanto somos todos importantes para o estado, nem que seja como números numa qualquer estatística que se quer sempre positiva.
Que o estado nos proteja de nós próprios, amén.