terça-feira, novembro 16, 2010

Novíssimas novidades, até!

Quantos de nós já não gozaram de alguém que diz "subir para cima" ou "descer para baixo"? Mas estas duas expressões podem ter usos perfeitamente válidos, como a indicação do local para onde se sobe ou desce — subir ali para cima, ou para cima do banco. Também posso dizer que vou subir ali para baixo (apesar de causar alguma estranheza), tendo em conta que estou num local mais alto que o destino, e que para chegar a esse destino preciso, eventualmente, de subir — estou em cima da mesa e vou para um banco que está longe demais para fazer a deslocação directa. Agora... "novas novidades"? Se são novidades, está implícito que são novas. Se são novas em relação às anteriores, estas já não são novidades, logo não há necessidade de as distinguir das "novas".

Ouvi esta expressão na TSF, dito por uma investigadora médica. A formação superior deste país parece que se limita a treinar técnicos que seguem protocolos à risca, mas não os educa para a eventualidade de terem que lidar com situações fora do alcance da mera técnica. Esta investigadora, que ainda por cima quer dar a cara (neste caso foi a voz) por aquilo que produz na sua investigação, porque não caiu no estúdio por acidente, deduzo, deu vários pontapés na lógica retórica e até na construção gramatical das frases. Mostrou, no fundo, o analfabetismo que grassa no ensino superior português. A culpa não é dela; é de quem quis extinguir Provas Globais e coisas que tais; a culpa é de quem abafou ou extinguiu — até perseguiu — a exigência pela excelência naquilo que se produz, seja acessório, ou não, à linha principal da sua educação. É, no mínimo, uma questão de imagem. Mas é muito mais.

terça-feira, agosto 31, 2010

As (agora) seguríssimas arribas

O burocrata, em nome do estado que cuida de todos nós, acaba de tirar um grande peso de cima dos ombros do cidadão.

Na sua fome por um bocadinho de areal onde estender a toalha, o incauto veraneante põe-se, com frequência, em risco ao lado das periclitantes arribas que cercam, ameaçadoras, muitas praias do sul de Portugal. Esta irresponsabilidade do puéril cidadão, claramente incapaz de cuidar de si próprio, pode custar aos cofres do estado uns quantos euros, até porque a sua incapacitação representa no mínimo, uma perda de receita para os cofres do estado, tinha de ser combatida.

Começou, o comovido burocrata, por colocar placas de aviso em que se avisava o turista, nacional e estrangeiro, de que as bonitas praias do sul de Portugal são, afinal, armadilhas para os mais incautos. Mas o burocrata, faminto por regulamentos, selos, carimbos e coimas, sentiu uma justificada revolta por haver alguns intrépidos veraneantes que trocavam a segurança da virtual vedação por — imagine-se a imoralidade! — um pouco de isolamento — padecem de alguma patologia anti-social, decerto.

Acometido, então, por um superior sentido de serviço em prol da segurança alheia e do bem estar das estatísticas do estado, o burocrata decidiu proibir, sob pena de multa, a aproximação, por fugaz que seja, do indivíduo ao espaço onde o técnico, melhor amigo do responsável regulador, decide ser grande o risco de ficar soterrado. E por “grande”, para assegurar que as variações nos cálculos probabilisticos do incansável técnico não dão para o torto, entende-se “pouco mais que ínfimo”. Não se pode negar que é mais seguro prevenir.

Esta lei, que pune com multa até o distraído que se atreva a ir ler — por curiosidade, que seja — os sinais de perigo encostados à insegura parede de areia, mostra o quanto somos todos importantes para o estado, nem que seja como números numa qualquer estatística que se quer sempre positiva.

Que o estado nos proteja de nós próprios, amén.

sexta-feira, abril 02, 2010

Mas, afinal, estes incompetentes não fazem "caça à multa"? O ultraje!


Boa notícia, não? Pelos vistos, nem por isso. Os responsáveis pela Unidade Nacional de Trânsito da GNR estão preocupados com a "substancial" quebra de receitas que daí advém. E eles não consideram sequer possível que o condutor português esteja mais respeitador da lei; é a falta de zelo por parte dos guardas da brigada — desculpem: da Unidade — a grande responsável por tão inconveniente quebra.
Pensar-se-ia — alguém de juízo — que esta alteração nos números era algo de positivo, mas não. As receitas são o mais importante, pelos vistos, na actuação desta UNT.

domingo, março 28, 2010

Condução de erudição científica

Tive, recentemente, oportunidade de ver como andam os testes de código necessários para obter a carta de condução. Imagina o leitor que, uma vez que a minha licença de condução tem já quatorze anos, muita coisa mudou desde o meu tempo. Alguns pormenores mudaram, algumas regras foram adicionadas e outras exigências se infiltraram no conhecimento necessário.
Mais do que uma pergunta das que li tinha pouco a haver com o código da estrada per si, mas houve uma que me provocou maior alergia (e sabe quem me conhece que, infelizmente, sou dado a estas alergias), por não ter ponta por se pegue em termos de conhecimento imprescindível para a condução. Testava-se, então, a ignorância do testado acerca do que é a visão estereoscópica. Ora, na condução, a estereoscopia ocular usa-se, quer se queira ou não, quer se saiba o que é ou não.
Como me tenho esforçado por ser um cidadão que contribui para o avanço da sociedade e das burocracias que a unificam (permitam-me o sarcasmo), decidi compôr uma questão para o dito exame. Pensei em algo que fizesse falta saber; uma dúvida justa que penso incomodar a grande maioria dos condutores do sexo masculino. A pergunta, e respectivas opções de resposta, seria algo como isto:

Em plena marcha, o condutor sente comichão no escroto. Qual das seguintes opções é a correcta?
A - Não deve coçar o dito, para não perder o uso de uma das mão na condução, aguentando até a próxima oportunidade para parar o veículo e então aliviar-se desse incómodo.
B - Deve coçar de imediato, uma vez que que tal condição é passível de provocar nervosismo ao condutor. A última coisa que pretendemos na estrada é um condutor nervoso.
C - Estando acompanhado, deve pedir ao passageiro do lado que lhe alivie a comichão. Pode ser o começo de uma grande amizade.