Num edital de uma câmara deste nosso país de génios burocráticos podia ler-se: "proceder à captura, alojamento e abate de canídeos e gatídeos, nos termos da legislação aplicável". Uma rápida procura levou-me a fazer uma procura da palavra gatídeo no Google. Estranhamente - ou talvez não, tendo em atenção a parvoíce que grassa neste país - aparecem 626 resultados. Juntei à procura a palavra edital, e obtive 402 resultados, entre editais de câmaras e juntas de freguesia.
Ora urge, aqui, perguntar...: mas que raio é um gatídeo? Que família do Reino Animal é esta cujos espécimes, segundo os burocratas, é preciso registar e/ou abater nas mesmas condições aplicáveis aos animais da família dos canídeos. Mas canídeos sei bem o que são. Gatídeos... não sei, confesso.
A família dos canídeos (canidae) inclui, entre outros, o lobo (Canis lupus), o seu correspondente doméstico, a subespécie (Canis lupos familiaris), e a raposa (Vulpes vulpes). A família Canidae está incluída na Ordem Carnivora (ou dos carnívoros) cujas famílias se podem ver aqui. Não vislumbro, em lado nenhum, a família dos gatídeos. Talvez nem sejam carnívoros.
Podem pertencer, por exemplo, à Ordem Perissodáctila, que inclui muitos animais domésticos, raramente de estimação. Mas não vejo muitos cavalos, por exemplo, pelas nossas cidades abandonados e à procura comida no lixo. Mas novas procuras na Wikipedia me convencem de que a família gatidae pura e simplesmente não existe.
Então... a que animal se referem os nossos sapientes burocratas?
5 comentários:
Devem de ser os mesmos que obrigam os gatídeos a licenciamento mas não a identificação e que depois põem um programa nas juntas de freguesia em que o nº de chip aparece como campo de preenchimento obrigatório, sem o qual não se pode fazer o licenciamento... idio(tas)ssincrassias! Parabéns pelo blog... um dia destes tenho de actualizar o meu...já tem o nome e a data de nascimento! ;) abraço
Mas, afinal, o que é um gatídeo?!
É a forma ignorante que esses burocratas usam para se referir a gatos. É a diferença entre o saber e o querer parecer que se sabe.
Para fazer realmente frente a essa questão, procurando uma resolução séria e célere, sugiro uma rusga pelas ruas da cidade sacrificando os gatos, ou capturando-os sem qualquer licença camarária. A certa altura, dever-se-à ser interpelado por um qualquer agente da autoridade que com certeza nos encaminhará para os trâmites da Justiça. Aí e face a quem de direito se procederá à colocação da questão de qual o crime cometido. Diante da aniquilação ou captura de "gatídeos", poder-se-à pedir a Sua Excelência o juíz que defina o objecto aos quais se é acusado de anular a existência, e ao qual poder-se-à contrapor com literatura científica que contraria a versão dos factos apresentados pela acusação. Se o juíz for honesto e humilde, deixar-nos-à sair em liberdade, e o mediatismo da situação levará todas as autarquias a reparar o erro; se não o for, manter-se-à tudo na mesma e o sujeito bem intencionado passará uns meses ou anos abrigadinho da chuva...
Sejam felídeos ou gatídeos, não têm culpa nenhuma da estupidez dos burocratas deste país onde a ignorância é alimentada e celebrada como uma virtude.
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