Entreguei o meu último trabalho. Foi a Dissertação de Escrita Criativa que escolhi fazer em poesia. Dezanove poemas na língua de sua majestade. Salvo alguma coisa correr mal esta fase da minha vida fica agora para trás ao fim de catorze anos de ensino superior cheio de copos, praxe, e equívocos vocacionais. Não foi cheio de mulheres, como aqueles que têm mais fé no meu poder de sedução podem estar a pensar, mas antes cheio de uma só, durante onze anos. Não me arrependo nem um pouco, apesar de agora estar a preparar-me enfrentar o mundo sozinho.
Desde cedo encontrei refúgio na escrita. Vi palavras minhas serem publicadas pela primeira vez quando tinha doze anos e confesso que me fez bem. Mas o mundo convenceu-me de que essa paixão devia ser relegada para a categoria de actividade recreativa, e que o caminho a seguir seria o da minha outra paixão. Os animais e a ciência da vida tomaram, assim, conta da minha vida académica. A escrita refugiou-se nas publicações estudantis e nas aulas menos interessantes. Muita da minha poesia nasceu entre cálculos de parâmetros populacionais e testes de chi-quadrado.
Há três e meio anos atrás decidi-me a puxar a escrita para o primeiro lugar das minhas prioridades por troca com a biologia. Tive que mudar de língua e de país, já que em Portugal não era, à altura, aceitável que uma pessoa trocasse de área académica de forma tão radical sem regressar ao ensino secundário. Não sei como funcionam essas burocracias nos dias de hoje.
Três anos depois de chegar ao País de Gales, eis-me pronto a regressar a Portugal com uns truques a mais na manga e uma vontade quase inocente de começar a trabalhar a sério naquilo que me dá mais prazer: escrever. Poesia ou prosa, tanto faz, mas escrever.
Se não chumbar nada agora, acabei. Finalmente.