Ouve-se, de quando em vez, um ou outro perito em segurança rodoviária proliferar a ideia de que o condutor Português é uma espécie de arquétipo do demónio motorizado. As sombrias estatísticas (sempre usadas como fonte inesgotável de legislação) das estradas nacionais são sempre culpa do animal que se senta atrás do volante e vocifera os seus impropérios em Português.
Ora, vivendo aqui no País de Gales, tenho verificado que o Português é realmente uma besta. É uma besta porque engole tudo o que lhe dizem. Aqui, pelas civilizadas terras de Sua Majestade, estaciona-se em cima do passeio, deixando até uma ponta do pára-choques em plena faixa de rodagem, mesmo que se obstrua a visibilidade dos outros condutores em determinada curva. Aqui acelera-se com frequência dentro das localidades, desde que não se vislumbrem carros nem chuis. Aqui acelera-se sempre que um peão resolve atravessar a estrada fora da passadeira ou quando o semáforo não o autorize, só para provar ao voluntarioso pedestre que afinal não dava tempo. Muito idiota pega no carro embriagado por estas bandas (aliás, depois das 6 da tarde, a quantidade de bêbados aumenta exponencialmente de hora em hora). No entanto, as famigeradas estatísticas apontam para menos acidentes por estas bandas... Porque será?
Sobram as estradas. As bem sinalizadas estradas, livres de armadilhas aos mais incautos. As estradas que tornam difícil um condutor alcoolizado fazer asneiras.