segunda-feira, maio 15, 2006

A justiça infanto-juvenil

Ao conduzir a minha fiel viatura, ouvindo rádio, aos saltos entre a BestRock, a RCP e a TSF, fui atingido por um iluminado rasgo de imbecilidade naquela última estação. Era uma promoção a um qualquer programa daquela rádio, que tinha por objectivo discutir a violência nas escolas. Ouvem-se dois excertos de relatos de professores: um que atingiu o limite da sanidade quando um aluno arrebentou os lábios a outro, e chegou a roupa ao pêlo ao primeiro; a outra descreve que foi atirada ao chão e pontapeada por uma aluna, tendo saído do encontro carinhoso com costelas partidas e vértebras deslocadas.
O terceiro excerto chocou-me mais que os anteriores, já que uma qualquer informada faz uma declaração que me deixou algo zonzo. Diz este ser superior que não acredita que uma criança ou um adolescente tenham reacções violentas como aquelas em relação a um professor que seja justo para com eles...
Devo deduzir, então, que esta senhora considera que antes dos dezoito anos, o ser humano é incapaz de ser injusto, logo, a injustiça tem que vir do adulto com personalidade totalmente formada.
Devo dizer que foram muitas as alturas em que me senti injustiçado, tanto no secundário como no liceu, mas nunca usei violência física contra os docentes. Aliás, olhando para trás, tenho noção de que muitas das vezes a injustiça partiu de mim (ou se calhar não, porque tinha menos de dezoito anos). Lembro-me da professora de francês do nono ano que me deu sempre três, tendo eu notas para cinco, e me chegou a confessar que o que ela queria era dar-me o dois, chumbar-me, porque não lhe caí no goto. Devo dizer que esta senhora teve um acidente (não fui eu!!) e não pôde acabar o terceiro período. A docente que a substituiu deu-me quatro, e explicou-me que não me podia dar o cinco porque não sabia porque é que a sua antecessora me dava o três...
É preciso ter sempre em conta que nem o professor nem o aluno são imunes a praticar injustiças, e que fazer declarações como aquela só serve para desculpabilizar os meninos, e dar ideia aos pais mais parvinhos de que o seu filho, que acabou de esfaquear o profe de matemática, teve alguma razão para o fazer... Não é este o futuro que pretendo.

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